Google remove conta de usuário que fez backup do WhatsApp

Youtuber divulgou no Twitter que perdeu todo o acesso às suas contas no Google sem nenhum aviso; vítima recuperou acesso após reclamação em site do governo

Felipe Freitas
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• Atualizado há 5 meses
Google (Imagem: Sascha Bosshard/Unsplash)

Nesta semana, o caso de um usuário que teve as suas contas do Gmail e YouTube removidas viralizou. Ygor Palopoli relatou no Twitter que o caso aconteceu após realizar o backup de fotos e vídeos do WhatsApp para o seu Google Drive. E cuidado: o Google pode excluir as suas contas se encontrar nudes

O youtuber mantinha o backup do WhatsApp automático para a nuvem. Segundo seu relato, ele perdeu o acesso a sua conta Google duas horas depois de um upload ser realizado. No Twitter, outros usuários relataram a perda de suas contas em casos parecidos.

Google removeu conta por “conteúdos nocivos”

Na série de publicações, Ygor Palopoli explicou que o motivo apresentado pelo Google para a remoção da sua conta foi “conteúdos nocivos”. Entretanto, ele não teve muito mais resposta além disso, visto que a maior parte do contato foi feito com automatizações.

“O Google não entrou contato em momento algum desde o dia da suspensão da conta, além de por respostas automáticas que ignoram o contexto da situação”, disse Palopoli. Além de usar o Google Drive para o backup do WhatsApp, ele também subia conteúdos do banco de vídeos que ele assinava — deixando a dúvida de onde seria a violação. Uma suspeita é o print de um site de prostituição, usado para a produção de um vídeo sobre o “Marmitagate”, caso de uma suposta fraude em uma ONG de Santa Catarina,

O próprio youtuber diz que não sabe identificar onde estaria a violação. De qualquer jeito, ele alega que a remoção foi equivocada. Contextualizando, a política do Google autoriza a empresa a deletar qualquer conta que viole os seus termos de serviço. Porém, o usuário pode entrar com um pedido no suporte se considerar que a exclusão foi um erro.

Google Drive
Google Drive (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

E foi isso que Ygor fez, mas a contestação (aberta há duas semanas) ainda não teve resposta do Google. “Foram semanas sem patrocínios rodando, sem contato com marcas com as quais eu vinha negociando”, contou Palopoli para o Tecnoblog. 

A série de publicações foi feita no dia 5 de novembro e o caso foi ganhando cada vez mais repercussão — e nenhum contato do Google. No dia 6, Ygor publicou que entrará com uma ação judicial contra o Google. 

Para o Tecnoblog, o youtuber contou que depois da thread, cujo tweet original passou dos 1.200 RTs e 5.000 curtidas, recebeu o contato de muitos advogados que o orientaram a pedir uma liminar e processar o Google. 

“Muitos advogados entraram em contato e me orientaram a pedir uma liminar e um processo por danos morais e materiais, visto que as semanas sem a conta prejudicaram demais meu trabalho”, relatou Ygor.

Nesta quinta-feira (10), Ygor anunciou que conseguiu recuperar a conta. Na sua conta no Twitter, o youtuber informou que o acesso foi retomado através da reclamação no site Consumidor.gov.br, do próprio governo federal.

Google Fotos no Android (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)
Google Fotos no Android (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)

Casos parecidos aconteceram com outros usuários

Por conta própria, o youtuber pesquisou casos parecidos de usuários do Google. No Twitter, fazendo uma rápida busca com os termos “google conteúdo nocivo”, você pode encontrar os mesmos relatos compartilhados por Ygor nas suas publicações. Alguns até que cômicos, outro mais grave e que se assemelha com um caso que gerou uma grande reportagem no The New York Times.

Começando pela parte “engraçada”. Um usuário relatou que teve a conta removida por “conteúdo nocivo”, mas ele afirma que na plataforma só teria nudes próprios. De fato, o Google proíbe a distribuição de material sexualmente explícito. 

Porém, subir suas próprias fotos “sensualizando” não deveria ser uma questão do Google considerar material pornográfico — mesmo que seja como uma forma de proteger o usuário de um vazamento. Nem é uma surpresa que ele observa o conteúdo das imagens. O Fotos identifica selfies, textos, boletos e até atividades de panificação — essa eu descobri explorando a minha conta e vendo que ele reconheceu uma fornada de pão de queijo. 

De qualquer maneira, o Google permite nudez no Google Fotos para fins educativos, documentais, científicos ou artísticos. Caso a conta de Ygor tenha sido removida por usar um conteúdo de banco de vídeo considerado sexualmente explícito, a situação põe em risco outros profissionais, como jornalistas ou educadores — já imaginou um professor subindo uma página de um livro sobre o sistema reprodutor e perdendo a conta?

Entramos em contato com o Google, que deu a seguinte resposta.

As Contas Google são geralmente desativadas se o proprietário da conta não tiver seguido nossas políticas. Os usuários podem pedir acesso às contas novamente, mas para isso precisam apenas fazer o login na Conta Google em um navegador, como o Chrome, clicar em Pedir a análise e seguir as instruções fornecidas. Um membro da equipe irá rever o pedido, e a conta será reativada o mais rapidamente possível, caso se trate de uma situação de falso positivo.

Gmail no celular. (Imagem: Solen Feyissa/Unsplash)
Gmail no celular (Imagem: Solen Feyissa/Unsplash)

Google denunciou homem por fotos do próprio filho

Já um relato “mais grave”, encontrado em uma das pesquisas de Ygor, foi o de uma mãe que perdeu a conta por subir uma foto do filho recém-nascido. Nos Estados Unidos, um caso parecido quase levou um homem para a cadeia, conforme explica a reportagem do The New York Times.

O homem foi acusado de pedofilia após enviar uma foto das partes íntimas do filho bebê para um médico — as fotos foram enviadas por causa de uma teleconsulta. O Google removeu todas as contas do homem, incluindo a de telefone, deixando-o incomunicável. Além disso, ele foi denunciado para a polícia. 

Como não tinha nenhum contato, só soube do caso quando o departamento de polícia enviou uma carta informando que ele foi investigado por abuso infantil. Para a sorte dele, o investigador do caso era um humano, não uma IA, que foi capaz de avaliar a situação e declarar que não houve nenhuma prática criminosa

Apesar da automação ser útil para uma empresa como o Google, existem problemas que IAs ainda não são capazes de resolver — é necessário que algumas etapas, principalmente atendimento ao público, tenham um toque humano.

Logotipo do Google
Google (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Professor perdeu conta e não recebeu resposta

Remover contas por causa de backups no Drive já é um problema, mas há outras reclamações de usuários do Google. O professor de matemática Raul Ferreira perdeu um canal no YouTube sem nenhuma justificativa. 

Raul disse ainda que foi obrigado a integrar a sua conta de email Hotmail com o Google. No processo, ele também perdeu as mensagens da caixa de entrada. Ao entrar em contato com o serviço de atendimento da empresa para reaver o canal, a resposta automatizada entrou em um “loop infinito”, no qual ele precisa enviar o URL e algum vídeo do canal regularmente.

Ao contrário de Ygor, Raul não usava o Drive para backups. Em comum com a situação que viralizou, o professor também não teve uma resposta “humana” do Google. Apenas contatos automatizados.

O problema não é apenas “deixar os usuários no vácuo”. Muitos consumidores usam a sua conta do Google como um agregador de diversos serviços, usam para logar em contas e assinar em serviço. A partir do momento que falta um suporte para os usuários pelo menos entenderem a situação, surge uma forte sensação de descaso da empresa com seus consumidores.

Atualizado em 11 de novembro com o comunicado do Google

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.

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