Não vai ser fácil lançar PCs com Windows 10 e processadores da Qualcomm

A Intel mandou uma indireta para a Microsoft e a Qualcomm, que trabalham para emular x86 em chips ARM

Paulo Higa
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• Atualizado há 5 meses

Uma das grandes promessas para 2017 são os PCs com chips ARM e Windows 10. A Microsoft e a Qualcomm permitirão que softwares desenvolvidos para a arquitetura x86, utilizada em processadores da Intel e AMD, sejam executados por emulação. É a primeira vez na década que teremos uma nova (e forte) concorrente no mercado de chips para PCs. Mas tinha uma Intel no meio do caminho.

Na quinta-feira (8), no aniversário de 39 anos do primeiro chip x86, o Intel 8086, a empresa publicou um editorial com indiretas bem diretas para a Microsoft e a Qualcomm. A Intel sugere que as duas empresas, ao emularem código x86 em processadores ARM no Windows 10, estão infringindo direitos de propriedade intelectual e podem sofrer processos por quebra de patentes.

A Intel diz que protege suas inovações no x86 e não as licencia amplamente para terceiros. “No início do nosso negócio de processadores, a Intel precisava impor seus direitos de patente contra várias empresas”, afirma a fabricante, citando AMD, Cyrix, Via e Transmeta como exemplos das acionadas judicialmente. Os processos não foram necessários nos últimos anos “porque outras companhias têm respeitado os direitos de propriedade intelectual da Intel”.

No parágrafo mais direto, a empresa comenta: “houve relatos de que algumas empresas podem tentar emular a arquitetura proprietária x86 da Intel sem autorização”. Não precisa pensar muito para lembrar da Microsoft, responsável por desenvolver o emulador de x86 do Windows 10, e da Qualcomm, que trabalha para levar o Snapdragon 835 aos computadores.

Diz a fabricante que a americana Transmeta foi a última empresa que tentou vender um chip compatível com x86 por meio de técnicas de emulação, justamente o que Qualcomm e Microsoft estão tentando fazer. A Intel processou a Transmeta, que não obteve sucesso comercial e desistiu do mercado de processadores há dez anos; a pequena empresa acabou fechando as portas em 2009.

Transmeta Crusoe era um processador compatível com x86 que consumia menos energia que os Intel

A Intel termina dizendo que “não admite a violação ilegal de suas patentes” e espera que “outras empresas continuem respeitando os direitos de propriedade intelectual”, por isso, vai continuar de olho para “proteger suas inovações e investimentos”.

O recado é simples: a Intel não vai deixar que Microsoft e Qualcomm sigam adiante em seus planos sem uma briga na justiça. A Intel já demorou para agir no passado e não conseguiu se dar bem no mercado de smartphones, que hoje é dominado pela Qualcomm, então é certo que fará de tudo para dificultar a vida da concorrente.

Os PCs com processadores ARM prometem duração de bateria até 50% mais longa em relação aos x86 e uma placa mais integrada e compacta, que permitirá a criação de máquinas com novos formatos. Assim como os smartphones, eles poderão ficar sempre conectados a uma rede 4G, mesmo em standby, com uma autonomia até quatro vezes maior que um Intel equivalente.

Quem perde é o consumidor, que pode ficar sem uma concorrente por causa de uma guerra de patentes. A AMD, mesmo estando otimista com os chips Ryzen, não é uma ameaça de verdade há muito tempo: estima-se que a Intel tenha uma fatia de mercado de inabaláveis 80%. Fato é que os próximos meses não serão fáceis para a Qualcomm, que também está sofrendo um processo milionário da Apple.

Atualização às 16h21. Em nota à imprensa, a Qualcomm preferiu evitar conflitos, afirmando que achou a “publicação no blog de um de nossos concorrentes muito interessante”, sem citar nominalmente a Intel, e ressaltando as vantagens do Snapdragon 835 nos PCs com Windows 10. A empresa também diz que “a tecnologia irá mudar o futuro da computação pessoal”.

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Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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