Quem driblar bloqueio ao Telegram está sujeito a multa de R$ 100 mil, avisa Moraes
Pessoas físicas e jurídicas correm risco de sofrer sanções civis e criminais previstas em lei, avisa o ministro do STF Alexandre de Moraes
Pessoas físicas e jurídicas correm risco de sofrer sanções civis e criminais previstas em lei, avisa o ministro do STF Alexandre de Moraes
O Telegram está sendo bloqueado por todas as operadoras do Brasil nesta sexta-feira (18), após ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes. A decisão judicial lista as diversas exigências que a empresa deverá cumprir, e alerta que até mesmo os usuários podem ser punidos: quem usar VPN, proxy ou outros “subterfúgios tecnológicos” ficará sujeito a multa de R$ 100 mil por dia.
Moraes escreve que pessoas físicas e jurídicas correm risco de sofrer sanções civis e criminais previstas em lei, sem detalhá-las, e estabelece uma multa diária para quem driblar o bloqueio ao Telegram.
Na ordem judicial, consta que:
“As pessoas naturais e jurídicas que incorrerem em condutas no sentido de utilização de subterfúgios tecnológicos para continuidade das comunicações ocorridas pelo Telegram estarão sujeitas às sanções civis e criminais, na forma da lei, além de multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais).”
A punição é mais pesada para o próprio Telegram, é claro. A multa diária agora é de R$ 500 mil por dia a partir da intimação da empresa – ela precisa cumprir uma série de exigências do STF. Antes, Moraes havia definido uma punição de R$ 100 mil por cada dia em que a ordem não fosse cumprida.
Francisco Brito Cruz, diretor do Internet Lab, afirma em entrevista ao Tecnoblog que a multa prevista para usuários é “um dos pontos mais controversos na minha opinião, desequilibrados, errados, negativos dessa decisão”.
Ele explica:
Uma coisa é você direcionar isso aos envolvidos no inquérito, que aparecem na investigação que originou a ordem judicial. A outra coisa é você, a partir de um inquérito sigiloso, que possivelmente não teria sua decisão divulgada, ordenar uma multa que pode ser aplicada e oponível a qualquer brasileiro. Não me parece uma previsão, uma determinação proporcional. Essa parte me preocupa.
Francisco Brito Cruz, diretor do Internet Lab
Moraes intimou, na ordem judicial, os presidentes das operadoras para adotarem “obstáculos tecnológicos capazes de inviabilizar a utilização do aplicativo”. Ele menciona a Algar Telecom, Oi, Sky, TIM, Vivo, Net Virtua (Claro) e até a finada GVT, que foi adquirida pela Vivo em 2014.
Outra parte curiosa é que o ministro convoca todas as operadoras de banda larga, de telefonia móvel e de… telefonia fixa. As empresas que administram linhas de telefone geralmente também têm planos de celular e/ou de internet fixa, mas ainda assim é estranha a menção ao “serviço telefônico fixo comutado”.
De um jeito ou de outro, isso significa que as operadoras no Brasil devem bloquear o Telegram, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. Isso não se aplica para operadoras fora do país nem para servidores no exterior; portanto, quem usasse uma VPN ou proxy poderia acessar o mensageiro.
No entanto, poderia ser trabalhoso convencer todos os contatos a adotarem essa solução, já que existem outros apps de mensagens por aí, como o Facebook Messenger, Instagram Direct, Signal e WhatsApp.
Por exemplo, quando o principal canal do bolsonarista Allan dos Santos foi bloqueado no Brasil, após ordem do STF, a audiência das mensagens despencou 90%. Ele acabou recuperando milhões de seguidores ao criar um canal alternativo, que Moraes também quer derrubar.
O bloqueio se deve a investigações centradas em Allan dos Santos. São dois inquéritos tramitando no STF: um deles apura fake news e ameaças contra a Corte e os ministros; enquanto o outro se trata de milícias digitais antidemocráticas.
Moraes determinou a prisão de Allan no ano passado. O comunicador hoje mora nos EUA, país que raramente atende pedidos de extradição. O ministro também exige que ele seja banido do Telegram, mas a empresa não respondeu aos contatos do STF, resultando em seu bloqueio no país.
Como o processo corre em sigilo, fica difícil obter detalhes mais aprofundados sobre o caso. Inclusive, algumas informações na decisão de Moraes ficam omitidas, como é possível conferir no exemplo abaixo:
Atualizado às 19h01. Colaborou: Pedro Knoth
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