Redes sociais ajudam a identificar terroristas de Brasília, mas é preciso cuidado

Imagens de golpistas nos ataques de Brasília se espalham, mas é preciso prudência para não apontar inocentes, como no atentado de Boston

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 9 meses
Atos terroristas em Brasília (imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Atos terroristas em Brasília (imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O domingo (8) foi marcado pelas invasões vergonhosas ao Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF) e Planalto. Agora, há uma mobilização nas redes sociais para identificar os terroristas que participaram dos atos. Mas é preciso ter cuidado com isso. No atentado da Maratona de Boston, por exemplo, um movimento semelhante fez um inocente ser apontado como culpado.

Identificar os terroristas de Brasília não parece ser uma tarefa difícil. Muitos deles divulgaram fotos e vídeos de suas ações em redes sociais e serviços de mensagens, como o Telegram. Mas a busca também inclui invasores que aparecem nesses materiais indiretamente ou em imagens registradas pela imprensa.

Esse é um trabalho que cabe às autoridades policiais. Porém, a indignação com a destruição promovida pelos invasores tem feito muita gente usar as redes sociais para identificar os terroristas por conta própria.

No Twitter, uma publicação com imagens dos invasores compilada pelo perfil Prints Bolsonaristas foi amplamente divulgada. A mensagem é acompanhada de várias respostas com vídeos e fotos de outras pessoas que participaram das invasões ou, no mínimo, aparentavam estar nelas.

A mobilização parece ser maior no Instagram. Por lá, o perfil Contragolpe Brasil reunia mais de 875 mil seguidores até a publicação desta notícia. A descrição do perfil deixa claro o seu objetivo: “Perfil para a identificação dos(as) criminosos(as) que atentam contra a democracia do Brasil!”.

As imagens postadas pelo Contragolpe Brasil têm nomes e cidades de origem dos indivíduos que aparecem nelas. O perfil vem enfrentando problemas, porém. Por razões não esclarecidas, a conta tem tido dificuldades para fazer novas postagens e responder mensagens.

De todo modo, os esforços para identificar mais participantes continuam. No Twitter, hashtags como #IdentificaTerrorista vêm sendo usadas para esse fim.

Perfil Contragolpe Brasil com restrições no Instagram (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Perfil Contragolpe Brasil com restrições no Instagram (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

O caso de Boston serve de alerta

Os ataques ao Congresso, STF e Planalto foram um grave atentado à democracia do Brasil. É importante que os envolvidos sejam identificados e punidos com o rigor da lei. Mas é preciso ter cuidado para evitar que inocentes sejam apontados como terroristas.

Durante a Maratona de Boston, em 2013, duas bombas explodiram perto da linha de chegada, causando três mortes e deixando 264 pessoas feridas. Pouco tempo depois, houve uma mobilização na internet para identificar os culpados com base nas imagens do evento.

No Reddit, pelo menos dois inocentes foram apontados como participantes do atentado. O caso mais grave foi o de Sunil Tripathi, então com 22 anos. Na ocasião, o rapaz estava desaparecido havia mais de um mês. Uma campanha de divulgação com a sua foto foi criada nas redes sociais. Mas um participante do Reddit associou a imagem de Tripathi às fotos dos terroristas.

Em pouco tempo, o nome de Sunil Tripathi ganhou as redes sociais, mas pelo motivo errado. Não havia uma mobilização para encontrá-lo, mas para taxá-lo de culpado. A família do rapaz teve até que remover a página criada no Facebook para auxiliar em sua busca, tamanha a quantidade de insultos recebidos.

Sunil Tripathi foi encontrado dias depois, morto. A necropsia apontou suicídio como causa do falecimento, mas não há evidências de que o ato tenha sido motivado pela acusação injusta. O jovem tinha um histórico de depressão e essa aparenta ser a razão de sua morte.

Mesmo assim, o caso foi tão grave que o Reddit chegou a pedir desculpas à família.

Atentando da Maratona de Boston, em 2013 (imagem: Aaron Tang/Wikimedia)
Atentando da Maratona de Boston, em 2013 (imagem: Aaron Tang/Wikimedia)

Redes sociais realmente podem ajudar

O caso da Maratona de Boston alerta para a necessidade de cuidados na identificação de envolvidos em ações violentas. Esses cuidados incluem buscar mais detalhes ou outras evidências antes de um apontamento. Uma medida mais prudente consiste em enviar informações às autoridades (orientações sobre isso no próximo tópico).

Mas ter cuidado não é o mesmo que tornar ilegítima a mobilização em prol da identificação dos culpados. Até porque redes sociais e serviços de mensagens podem ser realmente úteis para as investigações.

Tomemos como exemplo a invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos. Na época, o acesso ao Parler foi suspenso após a rede social ser banida por Google, Apple e Amazon. No entanto, um hacker preservou 57 TB de dados do serviço para ajudar nas investigações. O Parler tem uma base expressiva de apoiadores de Donald Trump, justamente os que invadiram o Capitólio.

Ministério Público recebe denúncias

De modo geral, os participantes dos atos terroristas em Brasília não se preocuparam em esconder o rosto. Como já ficou claro, muitos deles usaram os próprios perfis nas redes sociais para divulgar as invasões.

Invasores no prédio do Congresso (imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Invasores no prédio do Congresso (imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

É relativamente fácil identificar esses pessoas, portanto. Só não dá para dizer o mesmo sobre apoiadores que incentivaram a barbárie por meio de grupos no Telegram ou perfis falsos nas redes, por exemplo.

Mas isso não quer dizer que nada pode ser feito contra esses indivíduos. Nesta segunda-feira (9), o Ministério Público Federal (MPF) informou que está recebendo denúncias, imagens e vídeos que possam ajudar nas investigações. Para isso, basta acessar a Sala de Atendimento ao Cidadão do órgão.

Denúncias também podem ser enviadas ao Ministério da Justiça e Segurança Pública por meio do endereço denuncia@mj.gov.br.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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