Serpro

No início do mês, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apontou para uma suposta venda ilegal de dados pessoais de cidadãos brasileiros pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Dada a gravidade do assunto, o órgão prestou esclarecimentos ao Senado nesta semana e, durante a reunião, negou veementemente a irregularidade.

As investigações começaram há pouco mais de três meses, logo depois de o MPDFT solicitar ao NIC.br o congelamento do domínio do site Consulta Pública, que disponibilizava irrestritamente CPF, telefone, endereço e outros dados pessoais de cidadãos brasileiros.

Para as autoridades, o modo como os dados do site estavam estruturados indicava que os registros foram obtidos de sistemas da administração pública. As apurações levaram ao Serpro: o MPDFT colocou o órgão como suspeito de comercializar bases de dados pessoais. Nas palavras do promotor de Justiça Frederico Meinberg, “trata-se de um negócio milionário”.

Na ocasião, o MPDFT enviou questionamentos ao Serpro relacionados ao assunto, mas o órgão não deu resposta alegando “dever de sigilo”. A investigação foi então encaminhada ao Ministério Público Federal. Por sua vez, o Serpro divulgou uma nota dizendo que “o que é chamado de ‘venda de informações’, na verdade, é um procedimento legal e legítimo amparado por lei de disponibilização”.

Em audiência realizada na quarta-feira (13) na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado, a diretora-presidente do Serpro Maria da Glória Guimarães reforçou que a entidade não vende dados de modo ilegal.

Nas palavras da executiva, o que o Serpro faz é prestar serviços de extração de dados em ambiente de segurança, com o acesso só sendo permitido se o órgão gestor dos dados autorizar. Ainda de acordo com Guimarães, quando a autorização é dada, um convênio é estabelecido por contrato para especificar a forma de acesso, a finalidade e quais dados devem ser disponibilizados.

Maria da Glória Guimarães

O relatório do MPDFT cita pelo menos três contratos para acesso a dados por entidades governamentais. Um deles, direcionado ao Conselho da Justiça Federal, tinha valor de R$ 273 mil. A diretora-presidente reconheceu que o Serpro cobra por esse tipo de serviço e disse que a conduta é prevista em lei, e argumentou na sequência que apenas 1% da receita do órgão vem dessa modalidade — “é importante ressaltar que, como empresa, a gente tem que se manter”.

De modo geral, os participantes da audiência disseram compreender o papel do Serpro, mas questionaram os métodos que o órgão adota. “Eu entendo a importância do Serpro, mas precisamos julgar e entender procedimentos e analisar se eles são os mais adequados”, explicou o promotor Meinberg.

Relacionados

Escrito por

Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.