Twitter estaria bloqueando o Tweetbot, Twitterrific e mais apps de propósito
Aplicativos de terceiros não funcionam desde sexta-feira (13); impedimento do Twitter foi "intencional", sugerem mensagens internas de funcionários vazadas
Aplicativos de terceiros não funcionam desde sexta-feira (13); impedimento do Twitter foi "intencional", sugerem mensagens internas de funcionários vazadas
Apps de terceiros para Twitter, como o Tweetbot, Twitterrific e Echofon, deixaram de funcionar na semana passada. Até então, circulava uma aposta de que o problema partia de uma falha na API da rede social. Mas o buraco é mais embaixo: já há suspeitas de que a plataforma está suspendendo os apps de forma deliberada.
Parte da percepção do problema da semana passada vem do cofundador da empresa responsável pelo Tweetbot, Paul Haddad. Na madrugada de sexta-feira (13), o desenvolvedor da Tapbots percebeu que o aplicativo parou de funcionar.
Porém, mesmo quase 24 horas após o incidente, o Twitter não deu explicações sobre o incidente. Diante dessa situação, Haddad desabafou em seu perfil do Mastodon na noite de sexta-feira (13): “Acho que o que mais me incomoda é a falta de comunicação”, comentou.
Pouco depois dessa situação, o Tweetbot voltou a funcionar brevemente. De acordo com o desenvolvedor ao The Verge no domingo (15), foi preciso alterar as chaves de API para retomar o funcionamento do aplicativo, ainda que com limites.
Mas como cantou Tom Jobim e Vinicius de Moraes: “tristeza não tem fim, felicidade sim”.
No mesmo dia, o desenvolvedor voltou ao Mastodon para relatar que o problema voltou a acontecer, atingindo até as chaves antigas e não utilizadas.
Para Haddad, isto prova que a suspensão foi intencional e que a Tapbots e outras empresas foram “especificamente visadas”.
“Eu não teria trocado as chaves em primeiro lugar se houvesse um pingo de comunicação. Achei que, se nada mais, isso aumentaria o problema”, explicou.
Esta não é a única comprovação de que o problema não parte de um bug na API.
No sábado (14), o The Information (via 9to5Google) relatou que o assunto foi discutido no Slack da companhia por trás rede social.
O site apurou que, internamente, um engenheiro disse que o bloqueio era “intencional”. Outras mensagens internas observadas pelo site especializado também indicam para uma suspensão deliberada por parte da rede social.
Enquanto isso, outras plataformas estão sendo afetadas por uma situação completamente obscura.
A IconFactory, responsável pelo Twitterrific, confirmou na sexta-feira (13) que o aplicativo parou de funcionar. Pelo Twitter, os desenvolvedores comentaram no domingo (15) que também estavam sem receber resposta alguma por parte da rede social.
O incidente também atingiu o Echofon, um dos clientes de Twitter mais antigos do mercado.
Enquanto isso, outros desenvolvedores seguem na incerteza. Matteo Villa, responsável pelo Fenix, chegou a afirmar no domingo (15) que está pensando em tirar o aplicativo da App Store, mesmo que esteja funcionando normalmente.
“As pessoas ainda estão baixando e quem sabe se ou quando vai parar de funcionar”, explicou.
Enquanto o caos está instaurado na rotina dos desenvolvedores desde sexta-feira (13), o Twitter não fez um comentário sequer desde semana passada. Novamente, os perfis @TwitterSupport e @Twitter não trazem informações sobre o problema.
Nem Elon Musk, que não fecha a matraca em seu perfil, tocou no assunto.
Este comportamento é uma falta de respeito com os desenvolvedores. Afinal, foram essas empresas que ajudaram a dar a relevância que o Twitter tem hoje. Especialmente quando a versão web era extremamente deficiente de recursos.
As ferramentas oficiais do Twitter também não seriam nada sem os desenvolvedores. Afinal, foi graças à compra da Atebits, responsável pelo Tweetie for iPhone e Tweetie for Mac, que a rede social teve os seus primeiros aplicativos para gadgets da Apple.
O mesmo aconteceu com o TweetDeck. O aplicativo desenvolvido em Adobe Air era independente até 2011, quando foi comprado pela empresa por trás da rede social. Hoje, é uma ferramenta que ajuda inúmeros profissionais de comunicação e usuários mais avançados.
Porém, mesmo com as aquisições e limitações da API, uma parcela bem grande de usuários só utiliza a rede social por clientes de terceiros.
Ninguém sabe, exatamente, o que está acontecendo. Mas dá para especulação a motivação por trás disso tudo: anúncios.
Afinal, com apps de terceiros, o Twitter perde um espaço para anunciar. E é importante lembrar que a empresa angariou US$ 1,08 bilhões só com anúncios no segundo trimestre de 2022.
Enquanto isso, as demais fontes de receita, incluindo as assinaturas do Twitter Blue, só renderam US$ 101 milhões.
Por outro lado, isto não justifica o comportamento truculento.
Se a rede social quer realmente mexer no funcionamento da API, que faça do jeito correto, com um anúncio oficial e oferta de prazos para os desenvolvedores se prepararem para a mudança.
Especialmente porque há muitas pessoas que podem e estão sendo impactadas com essa história:
“E eu realmente quero uma declaração pública oficial”, disse Paul Haddad, da Tapbots. “Temos um grande número de renovações de assinaturas para o terceiro ano do Tweetbot chegando em algumas semanas. Se formos cortados permanentemente, preciso saber para que possamos remover o aplicativo da venda e evitar isso. O que obviamente prefiro não fazer.”