WhatsApp confunde ao unir duas políticas de privacidade em uma só
WhatsApp, do Facebook, quer ser mensageiro pessoal e comercial, mas regras de privacidade para cada caso são conflitantes
WhatsApp, do Facebook, quer ser mensageiro pessoal e comercial, mas regras de privacidade para cada caso são conflitantes
O WhatsApp parece estar bastante preocupado com a reação negativa às novas regras de privacidade: a subsidiária do Facebook preparou mais outro artigo de ajuda para tentar explicar o que realmente muda no app. Sem querer, a empresa acaba destacando um dos motivos para tanta revolta: ela confundiu a mídia e os usuários ao unir duas políticas de privacidade em uma só.
“Queremos deixar claro que as mensagens privadas não são afetadas pela recente atualização dos termos e da política de privacidade”, escreve o WhatsApp em um FAQ. “As mudanças estão relacionadas às mensagens comerciais, que são totalmente opcionais e fornecem mais transparência sobre como coletamos e usamos os dados.”
Aí está o problema: o WhatsApp quer ser oficialmente dois mensageiros em um – pessoal e comercial ao mesmo tempo – mas as regras de privacidade para cada caso são conflitantes.
Basicamente, o app garante que vai proteger suas mensagens e chamadas pessoais, ou seja, que envolvem seus amigos, parentes, clientes e outros. No caso das conversas comerciais, é diferente: se você usar canais de atendimento de lojas, bancos, serviços online e outras empresas, isso poderá ser usado para personalizar anúncios no Facebook e Instagram.
O caso levantou tantas dúvidas que o WhatsApp foi questionado na Índia, Itália e Turquia. No Brasil, a empresa está sendo notificada pela Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) e pelo Procon-SP. Telegram e Signal vêm crescendo como alternativas que oferecem mais privacidade.
Vale lembrar que Jan Koum, cofundador do WhatsApp, deixou o Facebook em 2018 supostamente por discordar dos novos rumos para o mensageiro, temendo que a privacidade seria enfraquecida para ampliar o uso comercial do app.
O novo artigo de ajuda, descoberto pelo WABetaInfo, garante que nada mudou na privacidade e na segurança de mensagens e chamadas pessoais (para amigos, parentes etc.). Elas continuam sendo protegidas por criptografia de ponta a ponta, e “o WhatsApp e o Facebook não podem lê-las nem ouvi-las”. A empresa promete que nunca vai enfraquecer essa segurança.
No entanto, as mensagens trocadas em canais comerciais não têm as mesmas proteções de suas conversas pessoais.
Umas das diferenças é que as mensagens pessoais ficam armazenadas no seu celular e, caso o backup na nuvem esteja ativado, também no Google Drive (Android) ou iCloud (iPhone). As mensagens comerciais, no entanto, poderão ficar em “serviços de hospedagem seguros que o Facebook planeja oferecer”; isso será avisado ao usuário.
A outra distinção: empresas podem direcionar usuários para uma conversa do WhatsApp através de anúncios no Facebook ou Instagram, ou ao usar o recurso de Lojas (Shops) nesses apps. Se você clicar em um desses posts, isso será usado para personalizar propagandas nas duas redes sociais.
Este novo artigo de ajuda é mais resumido (com 325 palavras) que o comunicado inicial divulgado na semana passada (com 731 palavras). Mas não sei se mais outro FAQ vai resolver essa crise.
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