WhatsApp confunde ao unir duas políticas de privacidade em uma só

WhatsApp, do Facebook, quer ser mensageiro pessoal e comercial, mas regras de privacidade para cada caso são conflitantes

Felipe Ventura
• Atualizado há 3 anos
ícone do aplicativo do WhatsApp no iPhone
WhatsApp (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)

O WhatsApp parece estar bastante preocupado com a reação negativa às novas regras de privacidade: a subsidiária do Facebook preparou mais outro artigo de ajuda para tentar explicar o que realmente muda no app. Sem querer, a empresa acaba destacando um dos motivos para tanta revolta: ela confundiu a mídia e os usuários ao unir duas políticas de privacidade em uma só.

WhatsApp quer ser dois mensageiros em um

“Queremos deixar claro que as mensagens privadas não são afetadas pela recente atualização dos termos e da política de privacidade”, escreve o WhatsApp em um FAQ. “As mudanças estão relacionadas às mensagens comerciais, que são totalmente opcionais e fornecem mais transparência sobre como coletamos e usamos os dados.”

Aí está o problema: o WhatsApp quer ser oficialmente dois mensageiros em um – pessoal e comercial ao mesmo tempo – mas as regras de privacidade para cada caso são conflitantes.

Basicamente, o app garante que vai proteger suas mensagens e chamadas pessoais, ou seja, que envolvem seus amigos, parentes, clientes e outros. No caso das conversas comerciais, é diferente: se você usar canais de atendimento de lojas, bancos, serviços online e outras empresas, isso poderá ser usado para personalizar anúncios no Facebook e Instagram.

O caso levantou tantas dúvidas que o WhatsApp foi questionado na Índia, Itália e Turquia. No Brasil, a empresa está sendo notificada pela Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) e pelo Procon-SP. Telegram e Signal vêm crescendo como alternativas que oferecem mais privacidade.

Vale lembrar que Jan Koum, cofundador do WhatsApp, deixou o Facebook em 2018 supostamente por discordar dos novos rumos para o mensageiro, temendo que a privacidade seria enfraquecida para ampliar o uso comercial do app.

Mensagens pessoais vs. comerciais no WhatsApp

Carrinho de compras do WhatsApp (Imagem: Divulgação/WhatsApp)

Carrinho de compras do WhatsApp (Imagem: Divulgação/WhatsApp)

O novo artigo de ajuda, descoberto pelo WABetaInfo, garante que nada mudou na privacidade e na segurança de mensagens e chamadas pessoais (para amigos, parentes etc.). Elas continuam sendo protegidas por criptografia de ponta a ponta, e “o WhatsApp e o Facebook não podem lê-las nem ouvi-las”. A empresa promete que nunca vai enfraquecer essa segurança.

No entanto, as mensagens trocadas em canais comerciais não têm as mesmas proteções de suas conversas pessoais.

Umas das diferenças é que as mensagens pessoais ficam armazenadas no seu celular e, caso o backup na nuvem esteja ativado, também no Google Drive (Android) ou iCloud (iPhone). As mensagens comerciais, no entanto, poderão ficar em “serviços de hospedagem seguros que o Facebook planeja oferecer”; isso será avisado ao usuário.

A outra distinção: empresas podem direcionar usuários para uma conversa do WhatsApp através de anúncios no Facebook ou Instagram, ou ao usar o recurso de Lojas (Shops) nesses apps. Se você clicar em um desses posts, isso será usado para personalizar propagandas nas duas redes sociais.

Este novo artigo de ajuda é mais resumido (com 325 palavras) que o comunicado inicial divulgado na semana passada (com 731 palavras). Mas não sei se mais outro FAQ vai resolver essa crise.

Leia | Comunidade do WhatsApp: o que é e como funciona a ferramenta que reúne grupos

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.