Zenfone 4: quatro anos de refinamento

Quarta geração do Zenfone mostra que a Asus melhorou muito, mas ainda há arestas a serem aparadas

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

A quarta geração de smartphones da Asus chegou ao mercado brasileiro. O principal representante da família é o Zenfone 4, que trouxe uma câmera dupla, ganhou uma atenção especial na interface e está sendo lançado com uma versão mais poderosa, para bater de frente com os verdadeiros topos de linha.

Será que a Asus finalmente acertou no software? A câmera com lente grande angular entrega boas fotos? E esse processador Snapdragon 660, é tudo isso que estão falando? Eu utilizei o Zenfone 4 como meu smartphone principal na última semana e conto tudo nos próximos parágrafos.

Em vídeo

Design

O Zenfone 4 é um Zenfone 3 evoluído. Ele tem design com bordas de metal e traseira de vidro, mas refina alguns pontos importantes: não existe mais nenhum calombo na região da câmera traseira; o leitor de impressões digitais agora tem um posicionamento melhor, na parte frontal; os botões capacitivos finalmente são retroiluminados (!); e as bordas laterais estão menores, tornando o aparelho mais compacto.

Ainda é um trambolhinho: é mais agradável de segurar que o Zenfone 3, mas é mais largo que um Galaxy Note 8, mesmo tendo uma tela bem menor. Aliás, é uma pena que a Asus ainda não tenha lançado um design com aproveitamento de espaço melhor; as bordas superior e inferior são grandes, e o design vai envelhecer muito rápido. O Zenfone 5, se é que ele terá esse nome, provavelmente virá uma cara bem diferente.

A traseira de vidro tem seus pontos positivos e negativos. Os círculos concêntricos, que geram um reflexo de luz muito bonito, são praticamente uma marca registrada da Asus e continuam presentes. E a aderência é ótima na mão, mas o Zenfone 4 se mostra bem escorregadio em superfícies, como o antecessor: se a mesa estiver um pouquinho desnivelada, é bem provável que o aparelho ande de fininho antes de beijar o chão.

De qualquer forma, um ponto muito bacana do Zenfone 4 é que a Asus envia uma capinha de proteção na caixa do aparelho (ou seja, nada de esperar o camelô trazer o acessório compatível). É uma capa bem simples, transparente, mas que veste bem o smartphone e é um belo mimo para os desastrados de plantão.

Por fim, para terminar a questão do design, eu não sei por qual motivo a Asus ainda não colocou proteção contra água. Talvez esse não seja um fator decisivo de compra, mas pode fazer a diferença quando um copo de suco virar em cima do seu Zenfone 4: seus batimentos cardíacos não vão subir tanto assim, e o risco de infarto será menor.

Tela

A tela de 5,5 polegadas tem painel IPS LCD de 1920×1080 pixels. O brilho certamente é o destaque: bem forte, não deve nada para o que costumo encontrar em topos de linha, e é possível enxergar o display em qualquer condição de iluminação, mesmo com o sol incidindo diretamente no visor.

As cores são equilibradas e o ângulo de visão, embora não seja impecável, é amplo e suficientemente bom para qualquer usuário. Já o contraste é satisfatório: o branco é muito bom, mas o preto poderia ser mais preto, mesmo considerando que estamos falando de uma tela LCD, não AMOLED.

Software

Se alguém me perguntasse qual é a maior mudança do Zenfone 3 para o Zenfone 4, eu não responderia hardware, nem design, nem câmera. A grande evolução está no software.

Para mim, o software sempre foi o grande calcanhar de Aquiles dos smartphones da Asus. Na época do Zenfone 5 e Zenfone 6, que foram os primeiros a chegarem ao Brasil, o software não era exatamente a oitava maravilha do mundo quando olhamos em retrospecto, ainda que trouxesse funções úteis. Mas praticamente ninguém tinha software realmente bom, então dava para relevar.

Com o tempo, a Samsung evoluiu, a LG evoluiu, a Motorola evoluiu; outras fabricantes menores também melhoraram seus softwares. Enquanto isso, a Asus ficou parada no tempo, com uma interface muito carregada, cheia de cores que não faziam sentido, e muitos aplicativos de utilidade duvidosa pré-instalados. O Zenfone 2 e o Zenfone Zoom foram o ápice da tragédia.

No Zenfone 4, eu vejo uma interface bem resolvida. Os recursos úteis da ZenUI, como bloqueio de aplicativos por senha, gravação de chamadas ou atalhos personalizáveis, além do excelente gerenciador de arquivos nativo, continuam aqui. No entanto, os aplicativos desnecessários, notavelmente o ZenCircle, foram em sua maioria removidos, e não há mais bloatwares pré-instalados.

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Mas ele ainda tem os resquícios do que eu chamo de “padrão Asus de qualidade”. Por algum motivo, a qualidade da tradução para o português do Brasil é muito ruim. Vários erros que eu apontei no Zenfone Zoom, no Zenfone 3 e no Zenfone 3 Zoom foram corrigidos, mas ainda há muita coisa sobrando, o que é meio assustador. Existem erros primários que vão fazer aniversário de 2 anos.

E não é muito difícil encontrar os descuidos: basta acessar uma tela ou recurso que a Asus desenvolveu ou modificou. Nas configurações de ponto de acesso Wi-Fi, temos as opções “Após 5 minutos”, “Após 10 minutos”, que do nada viram “Depois de 20 minutos”. Na tela, o brilho pode ter as opções “Escuro” ou “Luz” (?); a tradução correta, obviamente, seria “Claro”.

Além disso, a seleção de fonte tem um bug estranho, que mostra a “Fonte padrão” e depois alguns caracteres em mandarim (!); o “diáriamente” (com acento) e o “diarimamente” continuam no gerenciador de notificações; e o novíssimo Assistente de Áudio mostra um tal de “Adiconar [sic] fones de ouvido”.

É claro que, pelo fato de trabalhar como editor e ter revisado muitos textos nos últimos anos, meu olho é mais treinado. Mas são erros tão absurdos que, de certa forma, eu vejo isso como um desrespeito — não só com a língua portuguesa, mas com todo mundo que compra os produtos e gera receita para a empresa no Brasil. O software melhorou? Muito. Mas ainda é Asus.

Câmera

O ponto que a Asus mais destaca no Zenfone 4 é a câmera; não é por acaso que a campanha se concentra na frase “We Love Photo”.

Na frente, o sensor de 8 megapixels tira boas fotos, com nível de detalhes realmente bom, e traz um recurso bacana, que é o Modo Retrato. Assim como em outros aparelhos, como Galaxy Note 8 e iPhone 8, é um efeito que desfoca o fundo da imagem, resultando em algo mais profissional. Ele é aplicado via software (não há um sensor auxiliar para medir a profundidade), mas os resultados são convincentes.

Eu notei uma falha no pós-processamento da imagem: nas selfies, meu braço simplesmente fica azul (meu médico certamente ficaria bem preocupado). Mas é algo que pode ser corrigido futuramente com uma atualização de software.

Na traseira são duas câmeras: uma principal, de 12 megapixels, com lente de abertura f/1,8; e uma secundária, de 8 megapixels, que acompanha uma grande angular de abertura f/2,2.

Eu gosto da combinação de “normal” com “grande angular” porque as fotos dessa segunda não são reprodutíveis por software. Um zoom de 2x, por mais que haja perda de qualidade, pode ser simulado em um editor de imagem qualquer, bastando esticar e cortar a foto. Um campo de visão de uma grande angular, não.

A lente principal tira ótimas fotos em qualquer condição de iluminação. As cores são equilibradas, o alcance dinâmico é bom e o nível de ruído é baixo. Mesmo em ambientes noturnos, a saturação continua excelente e a nitidez é muito boa.

A fraqueza fica na grande angular, que é significativamente inferior. Como ela tem uma abertura menor, eu não esperava que tirasse fotos noturnas tão boas quanto a câmera principal, mas com certeza eu não esperava algo tão ruim: a definição vai embora, e o ruído aparece com vontade.

Mesmo em condições perfeitas de iluminação, é possível notar um ruído bastante desagradável e uma mistura de falta de nitidez com filtro de sharpening, o que acaba gerando um efeito aquarela, típico de uma câmera de qualidade inferior. Quem tiver um olho mais treinado para fotografia pode notar uma leve aberração cromática lateral que se intensifica nas bordas, mas nada muito grave.

Em resumo, o Zenfone 4 tem uma câmera frontal acima da média (apesar do problema de software), uma câmera traseira principal também acima da média e uma câmera traseira grande angular que não é tão boa, embora abra novas possibilidades de composição de cenas.

Hardware e bateria

O Zenfone 4 foi lançado com duas versões, uma com processador Snapdragon 630 e outra com Snapdragon 660. Apesar do número do modelo do processador ser parecido, eles são chips bem diferentes.

O Snapdragon 630 é um processador que equiparia um intermediário premium: entrega um ótimo desempenho no dia a dia, é suficiente para quase todo mundo e só decepciona um pouco em games mais pesados. Já o Snapdragon 660 é quase um topo de linha: ele pega o bom desempenho da série 800, junta com a eficiência energética da série 600, e o resultado é um processador bom, mas que não gasta tanta energia.

Eu testei a versão com Snapdragon 660 e 6 GB de RAM e, de fato, o desempenho foi muito bom. O Zenfone 4 ficou bastante fluido, todos os aplicativos abrem com bastante rapidez, e vários jogos que não rodariam muito bem no Snapdragon 625, 626 ou 630 passam a funcionar satisfatoriamente com o Snapdragon 660.

Na prática, o desempenho de CPU do Snapdragon 660 é quase o mesmo do Snapdragon 820, que foi o topo de linha da Qualcomm na geração passada. A GPU Adreno 512, por sua vez, foi significativamente pior nos meus testes, sendo cerca de 30% a 40% inferior à Adreno 530 (do Snapdragon 820), mas ainda vai dar conta de qualquer jogo atual.

Combinado com o ótimo desempenho no dia a dia, temos uma bateria que rende até o final do dia, sem sofrimentos. A capacidade acima da média, de 3.300 mAh, acaba se traduzindo em uma boa autonomia no uso cotidiano.

Nos meus dias de teste, tirando o aparelho da tomada às 9h, navegando na web por 2 horas (entre páginas da web, e-mails e redes sociais), ouvindo música por streaming por 2 horas, ambos no 4G, sempre com brilho no automático, eu sempre cheguei em casa por volta das 22h com algo entre 40% e 50% de bateria. É uma marca muito boa, que vai atender quase todos os usuários.

Conclusão

O Zenfone 4 mostra a evolução da Asus como fabricante de smartphones. Nesses quatro anos, a empresa melhorou bastante a qualidade dos aparelhos. Nos anteriores, sempre havia algum ponto negativo muito claro. Nas duas primeiras gerações, com Intel, a bateria frequentemente não dava conta do recado. No Zenfone 3, o hardware passou a ficar muito bom, mas o software ainda pecava em relação à concorrência.

Agora, a Asus trouxe um smartphone bastante refinado. O design é elegante, o hardware é equilibrado, a tela é boa. O software ainda precisa melhorar, especialmente na questão dos erros primários de alfabetização, mas a ZenUI não embute mais bloatwares e não é a mesma interface terrível de outrora.

A questão do Zenfone 4 é que ele fica em uma faixa de preço ingrata:

  • Snapdragon 660 e 6 GB de RAM por R$ 2.799 (ou R$ 2.499 à vista)
  • Snapdragon 630 e 6 GB de RAM por R$ 2.599 (ou R$ 2.299 à vista)
  • Snapdragon 630 e 4 GB de RAM por R$ 2.099 (ou R$ 1.899 à vista)

Os smartphones da Asus não costumam desvalorizar tanto com o tempo, como acontece na Samsung e LG; eles já chegam com um preço mais agressivo no lançamento. E o Zenfone 4 bate de frente com os topos de linha da geração passada e até com os desse ano, considerando que o Galaxy S8, por exemplo, já tem aparecido por R$ 2,6 mil em promoções do varejo.

Quando o Zenfone 4 é comparado com esses topos de linha, dá para notar que a bateria da Asus é melhor; o desempenho no dia a dia não fica devendo em nada (embora a performance em jogos seja menor); a tela é levemente inferior; e a câmera é boa, mas não tão rápida e consistente. Além disso, para quem se importa com o design, é fato que o Zenfone 4 fica atrás do Galaxy S8 ou LG G6, por exemplo.

Vale a pena? Eu acho que sim, se você souber das forças e fraquezas dele. A Asus entregou um conjunto muito bom, com uma tela boa, uma câmera que abre possibilidades de enquadramento, uma bateria que dura e, até que enfim, um software minimamente decente. Fica claro que a Asus aprendeu bastante nesses quatro anos, e o Zenfone 4 é o resultado desse refinamento.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.300 mAh;
  • Câmera: 12 megapixels (traseira, principal), 8 megapixels (traseira, grande angular) e 8 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, GLONASS, BDS, Bluetooth 5.0, USB-C, NFC;
  • Dimensões: 155,4 x 75,2 x 7,5 mm;
  • GPU: Adreno 512;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 64 GB;
  • Memória RAM: 6 GB;
  • Peso: 165 gramas;
  • Plataforma: Android 7.1.1 Nougat;
  • Processador: octa-core Snapdragon 660 de 2,2 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola, impressões digitais;
  • Tela: IPS LCD de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels.

Zenfone 4

Prós

  • Bateria de longa duração
  • Desempenho convincente
  • Tela de altíssimo brilho
  • ZenUI não é mais uma interface terrível

Contras

  • Ainda falta cuidado no software
  • Nada de resistência contra água?
  • Traseira de vidro é quase um sabão em superfícies planas
Nota Final 8.6
Bateria
9
Câmera
8
Conectividade
10
Desempenho
10
Design
8
Software
7
Tela
8

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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