Review Zenfone Zoom: enxergar mais longe tem custos
Com zoom óptico de 3x, câmera da Asus abre possibilidades, mas não impressiona pela qualidade
Com zoom óptico de 3x, câmera da Asus abre possibilidades, mas não impressiona pela qualidade
Algumas fabricantes de smartphones já tentaram adicionar zoom óptico em suas câmeras, mas o resultado de design foi desastroso em quase todos os casos. Com lentes que pulavam para fora, aparelhos como o Galaxy K zoom até tinham propostas interessantes, mas pecavam na usabilidade, com um calombo desagradável e um centro de gravidade errado que prejudicava a ergonomia.
Foi justamente esse problema que a Asus tentou resolver no Zenfone Zoom. Com zoom óptico de 3x, o smartphone dos taiwaneses foca em usuários avançados que desejam uma boa qualidade de imagem e querem enxergar mais longe com suas câmeras — mas sem deixar de lado o visual, que possui espessura fina e acabamento de metal e couro, para abrigar um hardware potente.
Será que a Asus conseguiu? Eu utilizei o Zenfone Zoom nas últimas semanas e conto minhas impressões nos próximos minutos.
O Zenfone Zoom é bem diferente dos outros smartphones da Asus, tanto na forma quanto no acabamento. A câmera que faz ligações tem bordas de metal e uma traseira de couro, deixando de lado o plástico texturizado dos modelos passados. Na versão branca, não há mais a icônica base com linhas concêntricas que refletem a luz — os taiwaneses não conseguiram encontrar uma boa maneira de reproduzir o mesmo efeito na cor branca, que não havia sido trabalhada pela empresa anteriormente.
A traseira lembra claramente o Lumia 1020, que também possuía um calombo circular para abrigar a câmera. No caso do Zenfone Zoom, não há um sensor gigante como no celular da Nokia, mas o espaço serve para proteger todo o conjunto de lentes, que faz movimentos internos (nada de vidrinhos saltando do smartphone) para dar o zoom óptico de até 3x.
Para melhorar a experiência de fotografia, a Asus fez algumas adaptações. Primeiro, a traseira possui uma pequena saliência num dos lados para permitir que o usuário segure o smartphone com apenas uma mão, com o aparelho na horizontal, como numa câmera compacta. Além disso, o orifício para pendurar cacarecos pode ser aproveitado desde o primeiro dia: na caixa do Zenfone Zoom, há um cordão de pulso para você fotografar com mais segurança.
O design do Zenfone Zoom é todo adaptado para funcionar bem como câmera
Os botões também foram adaptados: além do botão físico para abrir o aplicativo de câmera e tirar a foto (que possui duas fases, uma para focar e outra para capturar), há um botão dedicado para filmagem, e os botões de volume possuem as inscrições W (wide) e T (tele), para controlar o zoom.
É um aparelho bem construído, que passa uma boa sensação de qualidade e sofisticação; na versão branca, as bordas metálicas têm um discreto tom champanhe que muito me agrada. O grande problema é que o couro branco fica com marcas de sujeira rapidamente — algumas fabricantes, como a Sony, evitam utilizar texturas em materiais de cor branca, justamente para evitar esse inconveniente. Além disso, como a Asus posiciona as antenas na base do aparelho, o velho detalhe dos botões físicos sem retroiluminação continua presente, já que não houve espaço para incluir os LEDs.
Pelo menos na minha unidade de testes, a tela do Zenfone Zoom é notavelmente mais brilhante do que a experiência que tive no Zenfone 2, que sofria com a incidência da luz solar. Não é um display que se destaca, especialmente considerando concorrentes como Galaxy S6 e iPhone 6 Plus, encontrados em preços semelhantes ou mais baixos, mas é um painel decente, que atenderá as expectativas da maioria das pessoas.
A Asus continua pecando no software de seus smartphones. Embora a ZenUI traga funções que melhoram a experiência de uso, como os gestos para ligar a tela, um bom gerenciador de arquivos e uma arquitetura mais modular, que permite atualizar muitos dos aplicativos e recursos nativos pelo Google Play, fica nítida a falta de cuidado dos taiwaneses com o Android, cada vez mais pesado.
O primeiro detalhe é que, em abril de 2016, estamos vendo um aparelho sendo lançado com o Android 5.0, um sistema operacional de 2014. Outra questão é que todos aqueles softwares de utilidade questionável do Zenfone 2 estão presentes no Zenfone Zoom, agora com ainda mais intensidade. Logo na primeira inicialização, o smartphone começa a baixar aplicativos que se somam às inutilidades da própria Asus, como o Omlet Chat e o ZenCircle, que não fazem o menor sentido no ocidente: já inventaram WhatsApp e Instagram por aqui.
A Asus poderia ter aprendido com os velhos erros da Samsung e Motorola, mas inchou seu software
A sensação de utilizar o Zenfone Zoom, o Zenfone 2 e outros smartphones recentes da Asus é a mesma de ligar pela primeira vez um Android da Samsung de 2013 ou um Motorola de 2011. Falta refinamento na interface, que perdeu sua essência após a inclusão de incontáveis funcionalidades. Com tantos exemplos ruins de personalizações odiadas de fabricantes no passado, a Asus poderia ter aprendido com os erros dos outros, mas apenas repetiu as falhas.
O problema de vir com tanta coisa é que, se você está disposto a eliminar todo o lixo, gastará um bom tempo, que deveria estar sendo utilizado para aproveitar sua nova aquisição. Mas, se não tiver tempo, prepare-se para levar seu carregador para todo lugar: algum dos aplicativos pré-instalados do Zenfone Zoom estava drenando minha bateria rapidamente, de modo que apenas quatro ou cinco horas de uso eram suficientes para acabar com 3.000 mAh.
Num momento em que todas as fabricantes estão simplificando seus softwares, refinando suas interfaces e reduzindo a quantidade de aplicativos pré-instalados, a Asus está fazendo exatamente o contrário, com uma versão antiga do Android, um sistema carregado de coisas que você não vai precisar e softwares duplicados (ou até triplicados, no caso de navegadores: Chrome, Asus Browser e Puffin).
A câmera é o ponto mais importante do Zenfone Zoom, e talvez o componente que tive mais dificuldade de avaliar durante as semanas em que utilizei o aparelho.
Para mim, o Zenfone Zoom ainda é uma prova de conceito. Por um lado, é interessante ver toda a engenharia utilizada pela Asus para desenvolver um smartphone com zoom óptico num corpo bem fino — nada de lentes que ficam pulando para fora ou coisas bizarras que se parecem uma câmera fotográfica com telefone. No entanto, as fotos do Zenfone Zoom não ficam à altura das expectativas criadas pela Asus, que são altas, especialmente considerando os preços de R$ 2.699 (64 GB) e R$ 3.299 (128 GB), competindo com aparelhos como Galaxy S6 e iPhone 6 Plus.
Câmeras de smartphones precisam funcionar bem no modo automático, o que não é o caso do Zenfone Zoom. É possível contornar algumas limitações se você explorar os modos de super-resolução, cena noturna ou manual, mas ninguém prefere utilizar essas funções: celular é para tirar do bolso, abrir o aplicativo da câmera e fotografar. Modos específicos podem ser utilizados para melhorar a qualidade das fotos, mas não para consertar os problemas de uma câmera.
Modo manual é para melhorar as fotos, não para consertar problemas
Devido à limitação das lentes, que possuem abertura de f/2,7 a f/4,8, dependendo da distância focal, muito mais fechadas do que as f/1,7 ou f/1,9 que estamos vendo nos aparelhos mais recentes, o Zenfone Zoom sofre com iluminação fora do ideal. O ruído e a perda de definição são notáveis em ambientes internos ou cenários noturnos. O pós-processamento também não colabora, por vezes saturando demais as cores e, em outros casos, deixando a imagem lavada.
Vale notar que, devido a uma limitação do processador da Intel, o Zenfone Zoom é incapaz de filmar em 4K, uma característica que está chegando até mesmo aos smartphones abaixo da faixa dos dois mil reais; também não é possível gravar em 1080p a 60 quadros por segundo. A falta de competitividade do Atom (mais especificamente do processador de sinal de imagem utilizado nos chips Moorefield) fica evidente quando se nota a lentidão no processamento das fotos no aplicativo de câmera, às vezes causando travamentos que impedem o usuário de tirar prontamente a foto seguinte, o que não deveria acontecer num topo de linha.
Todo o software é muito dependente de ações manuais do usuário. O HDR automático, que exige poder de processamento, não está disponível: é necessário ativá-lo manualmente no aplicativo de câmera. Isso seria muito importante no Zenfone Zoom, já que o smartphone tem sérios problemas com alcance dinâmico, frequentemente subexpondo as fotos, criando regiões escuras demais e com granulação nas cenas.
Câmera do Zenfone Zoom é inovadora, mas não é boa
A câmera do Zenfone Zoom é um protótipo que, talvez, nas gerações futuras, se tornará realmente interessante. O zoom óptico abre novas possibilidades se você estiver disposto a explorá-las, especialmente para fotografar em macro. Não é como se um zoom de 3x fosse a solução perfeita para fotografar pássaros ou a lua, mas dá para afirmar que esse diferencial traz novas ideias de composição de cenas.
Por enquanto, a Asus prova ao mercado que é possível criar um smartphone com zoom óptico e design atraente, mas sacrificando a qualidade de imagem. Se o maior objetivo é tirar boas fotos, o Zenfone Zoom não é uma opção interessante de compra — trata-se de uma câmera apenas razoável. Os topos de linha mais recentes da Samsung e os iPhones ainda fazem um trabalho muito superior, sem depender de gambiarras de software.
O hardware do Zenfone Zoom herda algumas das características do Zenfone 2, o que significa que o conjunto ainda é bom. O multitarefa responde bem com os 4 GB de RAM, tornando mais rápido alternar entre os vários aplicativos abertos. Diferentemente da Samsung, a Asus adota um multitarefa mais orientado para o desempenho, mantendo os softwares carregados por mais tempo na memória.
Com um multitarefa rápido, você não terá problemas com desempenho
O processador quad-core Intel Atom Z3590 de 2,5 GHz, o mesmo que acompanha o Zenfone 2 Deluxe, continua dando um bom caldo no modelo de 128 GB. Os gráficos ficam por conta da PowerVR G6430, que não é mais uma opção tão interessante, já que estamos falando do chip gráfico que acompanhava o iPhone 5s, lançado em 2013. Por esse preço, o Zenfone Zoom merecia algo melhor, mas a GPU ainda rende bem, e você não terá grandes problemas para rodar a maioria dos jogos com qualidade gráfica decente.
Se o hardware continua bom, a bateria continua sendo um dos pontos fracos dos smartphones da Asus com processador Intel. É necessário fazer alguns malabarismos para que a bateria de 3.000 mAh consiga chegar até o final do dia sem a ajuda do carregador. Depois de restaurar o aparelho para as configurações de fábrica e desinstalar alguns dos aplicativos esfomeados do Zenfone Zoom, pude notar uma autonomia semelhante a do Zenfone 2 — ou seja, nada muito diferente do que temos nos smartphones com baterias na casa dos 2.300 mAh e chips Qualcomm ou MediaTek.
No dia de testes, tirei o Zenfone Zoom da tomada às 9h, ouvi músicas por streaming no 4G (Spotify) por 2 horas e naveguei na internet pelo 4G, entre emails, redes sociais e páginas da web, por cerca de 1h50min. A tela ficou ligada por exatamente 2h03min41s, com brilho no automático. Às 22h12, a carga chegou a 17%. Como nos smartphones antigos da Asus, o maior vilão da bateria parece ser o modem, que drena mais energia que os concorrentes para baixar dados em 3G ou 4G.
O smartphone da Asus conseguirá aguentar um dia inteiro de uso, mas com sufoco para uma parcela relevante dos usuários. Ao menos os taiwaneses facilitaram com o carregador rápido, que consegue elevar a bateria de 0% a 60% em 40 minutos.
O que a Asus fez foi lançar um protótipo de um smartphone que pode se tornar muito interessante nas próximas gerações. Por enquanto, não consigo enxergar um público cuja compra do Zenfone Zoom seja realmente recomendada, principalmente na faixa de preço que a Asus está tentando competir.
Se o argumento de compra do Zenfone Zoom for a performance, é mais vantajoso adquirir um Galaxy S6 ou Moto X Style (ambos mais baratos que o aparelho da Asus, vale notar), que possuem desempenho superior, com GPUs atualizadas e processadores mais eficientes, ao mesmo tempo em que mantêm um software mais bem cuidado e acabamento sofisticado.
Se o argumento de compra do Zenfone Zoom for a câmera, já vimos que os topos de linha da Samsung (Galaxy S6, Galaxy Note 5 e Galaxy S7) entregam resultados superiores. Os iPhones 6 e 6 Plus, que estão na mesma faixa de preço do aparelho da Asus, também possuem uma experiência de fotografia que julgo muito melhor, mesmo para quem gosta de brincar com modos manuais — há aplicativos específicos para os fuçadores na App Store.
Quem sabe no Zenfone Zoom 2?
O Zenfone Zoom é um bom exemplo de como a tecnologia pode evoluir, e uma maneira da Asus se afirmar como uma empresa inovadora, que investe em tecnologias potencialmente promissoras. Infelizmente, com descuidos no software, uma câmera que não atende às expectativas e um preço que compete com opções mais que estabelecidas no mercado, as inovações não são suficientes para justificar o Zenfone Zoom como boa opção de compra.
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