Review Galaxy S6 Edge: o smartphone vindo do futuro
Tela curvada traz visual diferenciado para o topo de linha da Samsung
Tela curvada traz visual diferenciado para o topo de linha da Samsung
“A tela curvada realmente tem alguma utilidade?” Essa é a pergunta que mais ouvi nos últimos dez dias, quando mostrava para amigos e colegas o Galaxy S6 Edge. Um questionamento bastante difícil. Depois deste período de testes, finalmente estou pronto para dar uma resposta. Vale a pena comprar o smartphone mais caro da Sammy, com preço de 3.799 reais? Vem comigo.
Quando a Samsung anunciou a linha Galaxy S6 na Mobile World Congress, o próprio CEO brincou ao afirmar que a sua língua-mãe é a “engenharia”. Nós conseguimos ver isso com os novos produtos, que chegaram ao mercado brasileiro no dia 25 de abril. Falando especificamente do Edge, nós temos um celular com construção industrial bastante robusta. Ao segurá-lo, a impressão é de que tenho em mãos um dispositivo feito a partir de materiais de primeira qualidade.
Na parte frontal, creio que o designers da Samsung mantiveram o mesmo padrão do Galaxy S5. Os dois dispositivos não diferem muito entre si. Mas na parte traseira, aí sim temos a noção real do que mudou: sai de cena o plástico, entra o vidro em Gorilla Glass. Eu utilizei um S6 Edge com traseira na cor safira, que dá uma sobriedade e elegância fora de série. Quando está num ambiente mais iluminado, você percebe que ali tem uma cor diferenciada.
O vidro traseiro tem um inconveniente: impressões digitais. James Bond ficaria satisfeito de perceber que, com algum pó, facilmente conseguiria desvendar a identidade de criminosos a partir das amostras ali colhidas – caso usassem um Galaxy S6. Pode ser um incômodo para as pessoas com TOC, pois fica aquela vontade de limpar constantemente a parte de trás, mas é algo com que você vai se acostumar com o tempo.
Os cantos arredondados do smartphone são belos e agradáveis de usar. O metal do corpo do aparelho, por sua vez, é convidativo ao toque humano. E mais importante que tudo: a Samsung conseguiu criar um celular sem impulsos suicidas, como é o caso dos smartphones da Apple. Durante meu período de testes, em nenhum momento o Edge se jogou rumo ao chão. Não tive essa mesma segurança com o iPhone 6 Plus.
A pegada é realmente agradável. As bordas curvadas dão a impressão de que o aparelho é ainda mais fino do que na realidade, pois os dedos ficam em contato com as partes menos espessas (ou grossas) das laterais. Já o peso do S6 Edge, de 132 gramas, é pouco superior às 129 gramas do iPhone 6. Eu poderia jurar que o aparelho da Samsung era mais leve – creio que as bordas finas levam a essa impressão –, mas uma pesquisa pelas especificações de ambos os produtos derrubou este mito.
O resumo da ópera é que quando a Samsung passou a falar mais em experiência de usuário e design, seguindo a mesma cartilha da Apple, ela não estava brincando. A gigante coreana conseguiu entregar um produto impecável na construção industrial. Metal; vidro Gorilla Glass 4 no display e traseira; bordas curvadas. Parece um smartphone vindo do futuro.
A Samsung colocou um Exynos 7420 nesta belezinha. Nós estamos falando de um processador octa-core que na verdade combina 4 núcleos rodando na frequência de 2,1 GHz e outros 4 a 1,5 GHz. O resultado é um smartphone bastante veloz para a realização de diversas tarefas, inclusive simultaneamente. Você consegue utilizar o multitarefa para assistir ao episódio de uma série no player nativo enquanto navega pela sua timeline no Twitter. A própria fabricante inclui uma ferramenta para redimensionar e organizar na tela os vários apps rodando ao mesmo tempo – algo impensável no iOS.
Da mesma forma, os aplicativos carregam muito rapidamente. Eu uso bastante o Gmail, Inbox, Telegram e WhatsApp no meu cotidiano. Bastava tocar no ícone na tela inicial para que os aplicativos abrissem imediatamente, sem engasgos, ainda que não houvesse informações em cache naquele primeiro momento (quando a interface carrega com alguns elementos em branco).
Sabe o que me incomoda? O teclado nativo da Samsung. Parece que eles ainda não chegaram num nível de desenvolvimento que permita entregar um teclado para touchscreen inteligente o suficiente para compreender que o verbo “checar” existe na Língua Portuguesa. Eu juro que tentei, mas no fim das contas corri para o teclado padrão do próprio Google (eleito o melhor para a plataforma pelo Verge). Ele também não é perfeito, mas ao menos não substitui “Tô fora” por “Tô foda”, como me aconteceu ao responder um convite no Swarm.
Como eu já disse, fiquei com o Galaxy S6 Edge como meu smartphone principal por mais de 10 dias. Com este tempo de uso – quase duas semanas – começou a maldição do Android. Mesmo com um processador octa-core associado a memória RAM de 3 GB, percebi que o desempenho do dispositivo começou a se deteriorar.
Um colega jornalista bem diz que RAM nunca é demais no Android. Quanto mais você oferece ao robôzinho do Google, mais apetite ele gera. O resultado é uma experiência com ligeiros engasgos ao pressionar o botão Home para voltar à tela inicial. Carrega o papel de parede, mas os ícones de apps carregam instantes depois. Não chega a ser absurdo, só que não é o que o consumidor espera de um smartphone topo de linha e com preço tão elevado.
Outro indicador de queda no desempenho, ao menos para mim, é a rolagem dentro do Twitter e Facebook. Depois dessas quase duas semanas, percebo algum lag ao fazer mover o dedo de baixo para cima, para ver com certa velocidade os posts dos meus amigos.
O aplicativo Gerenciador Inteligente promete auxiliar na tarefa de melhorar o desempenho S6 Edge. Ele funciona como qualquer outro limpador de RAM. Com o aparelho em mãos neste mesmo, o app informa que o Android está usando 84% da memória (461 MB livres. Toco em “Limpar tudo”. Instantes depois… O Edge ainda utiliza 59% da memória (1,1 GB livre).
Ainda no meu experimento para este artigo, eu toco no botão de gerenciamento de janelas e mando fechar todas elas. Em seguida, volto para o Gerenciador Inteligente: 60% de uso de memória, com 1 GB livre.
Ao tocar especificamente em RAM, um relatório me aponta que o Facebook é o programa que mais utiliza recursos do smartphone. Se você quer preservar ao máximo o desempenho, talvez seja uma boa ideia deixá-lo de fora do seu celular. Vale lembrar que o Messenger ganhou um excelente app à parte.
O TouchWiz continua presente no Android 5.0.2 (Lollipop). Há quem diga que a Sammy mantém uma identidade visual própria porque se algum dia resolver abandonar o Android para adotar outra plataforma (Tizen talvez?), o impacto não será sentido tão intensamente pelos consumidores da marca. Fato é que o TouchWiz divide opiniões, mas não me incomodou no uso diário do S6 Edge. É bem verdade que a associação com a água e outros elementos orgânicos está sendo superada pela indústria, em prol de interfaces mais objetivas, mas não é um real problema ver aquele efeito de uma onda se expandido na lagoa ao desbloquear o dispositivo.
Ao menos os aplicativos estão mais próximos do Material Design defendido pelo Google. A Samsung adotou cores sólidas e interfaces mais limpas para o discador e a central de SMS, por exemplo. O próprio CEO dissera na Mobile World Congress que alguns ícones foram sumariamente eliminados do TouchWiz. No lugar deles, a fabricante colocou texto puro, repetindo um movimento que a Apple vem realizando.
Os aplicativos exclusivos são o S Health, com um pedômetro para acompanhamento do desempenho físico diário; S Voice, a ainda limitada assistente virtual da Samsung; e a agenda S Planner, que funciona muito bem com a conta Google. Ainda temos apps de notas, gerenciamento de arquivos e gravador de voz. Nada que mereça particular destaque neste review. São ferramentas interessantes que vêm de fábrica, mas até pela sua simplicidade, seriam substituídas facilmente por algum app da Google Play Store.
Outro dia estava conversando com o Paulo Higa, que reclamava do sensor de impressões digitais do Galaxy Note Edge, cujo review sai em breve aqui no TB. Ele dizia que era muito chata essa necessidade de rolar o dedo pelo sensor para desbloquear. Acredito que o S6 adota uma tecnologia mais nova para essa mesma função. Ela não requer, por exemplo, nenhum tipo de movimentação. Basta pousar o polegar – ou qualquer outro dedo, óbvio – para o reconhecimento. E… surpresa! O funcionamento dele é muito melhor do que eu imaginava.
Pausa para parênteses. Desde a adolescência, eu sofro com impressões digitais muito fracas. Costumava ser um problema quando a biometria começou a ser implementada no país, primeiramente em catracas de academia e mais recentemente em caixas eletrônicos. Eu me preparei psicologicamente para habilitar um recurso similar ao Touch ID que não funcionaria comigo, mas a verdade é que o leitor de biometria do S6 funcionou na maior parte do tempo. É melhor que o da Apple, portanto. Foram poucas as vezes em que eu tive que digitar a senha alfanumérica (uma chatice, por sinal! Permitam PINs no desbloqueio da tela) para acessar o dispositivo.
Até mesmo com os dedos enrugados depois do banho, a biometria funcionou sem problemas. Ponto para a Sammy. Agora é torcer para que eles usem o mesmo sensor nos próximos lançamentos de smartphones.
Dezesseis megapixels com foco automático, estabilização de imagem e abertura de f/1.9. Na prática, isso significa que o Galaxy S6 Edge faz fotos magníficas – quando você as visualiza na tela do próprio smartphone. O display de 5,1 polegadas e 1440×2560 pixels é o ambiente perfeito para ver os seus registros fotográficos. Muito brilhante, ele reproduz bem as cores vibrantes de uma cesta de frutas, por exemplo. Ou ainda o azul do oceano.
Agora vai ver as mesmas fotos na tela um pouco maior do notebook. Você perceberá nas amostras que acontece aquele efeito chato de aquarela – parece que as fotos foram de alguma forma lavadas. O pós-processamento da Samsung é muito intenso, criando este efeito que pode não agradar em telas maiores. As mesmas imagens ficam incríveis para postar no Instagram (como essa e essa) ou mesmo no Facebook, mas ainda assim eu preciso alertar: a limitação existe.
Um dos pontos fortes, até pela abertura da lente, são as fotos no escuro. Eu fiz alguns registros das orlas de Búzios e do Rio de Janeiro ao entardecer e já de noite, respectivamente. Perceba que são fotos em que é possível ver praticamente todos os elementos, sem ficar aquele apagão.
A gravação de vídeo é igualmente interessante. A captura em 1920×1080 possui uma estabilização que deixa as imagens menos tremidas mesmo quando o usuário faz movimentos bruscos – como você pode ver na amostra acima. Também fiz testes com o Full HD e resolução UHD em ambiente com iluminação natural, mas o vento intenso atrapalhou a captura de áudio. Ainda assim, você pode conferir o resultado no nosso canal no YouTube.
O Galaxy S6 Edge tem uma bateria de 2.600 mAh – superior à do iPhone 6, com 1.810 mAh, mas ao mesmo tempo, inferior à do Galaxy S5, com 2.800 mAh. Melhor do que falar sobre números e possibilidade, eu usei o aparelho continuamente e fiz um registro do tempo de uso. Vamos ao meu querido diário de bateria:
Portanto, uma duração de bateria de 6 horas e 9 minutos em um dia regular. Eu consultei o email em diversos momentos e também passeei pelas timelines de redes sociais enquanto estava no metrô. O Wi-Fi permaneceu ligado, embora nem sempre conectado, e o brilho da tela estava em modo automático. Eu costumo deixar como parâmetro uma iluminação por volta de 65%.
O desempenho é ruim como em qualquer smartphone repleto de recursos. O iPhone 6 passa pelo mesmo problema e parece que a indústria ainda não encontrou uma maneira de fazer com que a bateria dure mais nestes aparelhos cada vez mais finos.
Observação: Aqui no site, nós estranhamos uma autonomia de bateria tão reduzida em um dos principais lançamentos para este ano. A Samsung brasileira prometeu enviar um novo dispositivo para mais testes e é possível que esta seção da análise seja revisada em breve. Vale lembrar que, no exterior, algumas unidades do Galaxy apresentaram outro problema: a orientação da imagem ficou travada, não importando se o smartphone estivesse na horizontal ou vertical. Parece que foi um problema em um dos lotes.
Pelo menos a Samsung inclui no kit do Galaxy S6 Edge o carregador com tecnologia de recarga rápida. Eles prometem 4 horas de autonomia depois de uma carga de somente 10 minutos. Não cheguei a fazer este teste, mas constatei que com 10 minutos recarregando, o Edge já tinha recuperado 40% da carga. Levou 1 hora e 23 minutos para chegar aos 100%.
Não posso relatar a mesma velocidade em relação ao carregador sem fio que a Samsung oferece como acessório para a linha Galaxy S6. Ele funciona no padrão Qi de indução de eletricidade. O aparelho circular lembra um pequeno disco voador que pousou na sua mesa. Ele utiliza o mesmo cabo com saída Micro USB do S6 (não vem com um segundo destes, portanto) e se ilumina quando está carregando o celular. É uma boa pedida para deixar no trabalho, assim você larga o smartphone carregando enquanto cumpre sua rotina diária. O preço: 249 reais.
Enquanto o Edge oferece 2.600 mAh, o iPhone 6 traz 1.810 mAh. As duas fabricantes agora estão juntas na decisão de incluir baterias não removíveis. A Samsung sustenta que não é mais necessário dar acesso aos componentes internos para uma eventual reposição porque o componente chegou num bom patamar. Entretanto, os técnicos da marca poderão trocá-lo nas assistências técnicas.
Voltando à pergunta do início deste artigo: eu fui conversar com o gerente sênior de Produtos da Samsung brasileira, Renato Citrini, para entender melhor qual é a proposta da tela curvada do Edge. Ele ressaltou que existe dentro da loja de apps da Samsung uma série de barras de notificações que permitem visualizar dados rápidos em uma das laterais. Pode ser a previsão do tempo ou as últimas notícias. Para acioná-la só é preciso fazer um leve carinho com o dedo, passando ele de cima para baixo e vice-versa, enquanto o smartphone está apagado.
Outra funcionalidade desta tela diferente são as notificações iluminadas. O usuário escolhe 5 contatos e designa uma cor para cada um deles. A partir daí, a lateral vai acender naquela cor quando a pessoa te ligar. A fabricante diz que é hábito colocar o telefone virado para baixo durante uma reunião ou um compromisso no restaurante. Com essa notificação, ainda assim é possível saber quem está te ligando.
Um segundo fator a ser considerado: a Samsung tenta posicionar o Edge como um produto premium, tanto que o evento de lançamento em São Paulo teve a participação de uma série de modelos. O segmento permite cobrar mais caro por uma inovação no design. O S6 Edge é um smartphone bonito, elegante e – se me permite dizer – futurista, pois é o primeiro do mundo a tela curvada em ambas as laterais.
Se isso vale a diferença de preço? Eu acredito que não. O Galaxy S6 convencional possui praticamente as mesmas especificações do Edge (com bateria ligeiramente mais potente) e imagino que tenha o mesmo desempenho, embora não possa afirmar isso com absoluta certeza sem testá-lo. Ele ainda custa 500 reais a menos que o modelo mais sofisticado. A menos que você tenha meio barão sobrando, o S6 pode ser uma escolha mais inteligente em relação ao Edge.
A Samsung fez um excelente trabalho com a linha S6. São dispositivos com as tecnologias mais avançadas do mercado, incluindo um bom processador e uma câmera que faz inveja nos demais concorrentes. A fabricante ainda sofre por causa das limitações do próprio Android e por mais que o Edge esteja otimizado para rodar o sistema do Google, ainda assim o lag natural com o uso do aparelho vem com o tempo.
Tendo em vista estas condições, eu diria que é o melhor smartphone com Android disponível no mercado atualmente. A nova construção em alumínio e vidro faz dele resistente (ao custo de perder a proteção à água). Em especial no Edge, a tela curvada traz inovação ao mercado e um certo status para quem o utiliza.
Como nem todo mundo está disposto a desembolsar 3.799 reais em um smartphone, vale lembrar que existem outras opções igualmente interessantes no mercado, embora não tenham tanto poder de processamento ou a câmera do S6 Edge. O Moto Maxx (nota 9,3) sai atualmente na casa dos 2.100 reais com sua bateria imbatível. Também tem o LG G3 (nota 8,9) por até 1.600 na rede de varejo
Outro fator a se considerar são os benefícios que a Samsung promete com a venda do S6. Tem desde assinaturas de serviços premium, como Evernote e OneDrive, até ingressos para shows de artistas internacionais. A audiência do TB mesmo reagiu de maneira muito uniforme a estes benefícios: preferem menos apps de graça e um valor mais em conta.
Sempre existe a alternativa de esperar alguns meses para ver até que preço a Samsung consegue fazer pelo S6 Edge. Já tem distribuidor oferecendo ele por 3.000 reais à vista. A cifra tende a cair, como é normal o mundo do Android.
Trocando em miúdos: os coreanos mandaram bem, mas isso tem seu preço. E o Android, enquanto plataforma, ainda sofre seus soluços.
Atualizado em 4 de maio de 2015 às 11h20.