Review Google Pixel: o Android em sua melhor forma

Com preço de iPhone, o Google Pixel finalmente conseguiu igualar o Android ao iOS

Jean Prado
• Atualizado há 4 meses

Não vou mentir, sempre fui um usuário assíduo de Android. Desde 2010, com o Galaxy S, até hoje, com o Moto X (2ª geração), me acomodei no sistema operacional do Google. E também tive curiosidade em experimentar o iOS: acabei fazendo isso com o iPhone 7.

No entanto, disponível desde outubro, o Pixel me convenceu a voltar para o Android. Um smartphone com todos os aspectos pensados pelo próprio Google? Bem atrativo. Será que os refinamentos valem o preço cobrado? O que você ganha exatamente comprando um Pixel? Eu conto nos próximos parágrafos.

Design

Confesso que fiquei meio receoso quando vi uma foto do Pixel pela primeira vez. Com acabamento em alumínio e parte da traseira revestida com vidro, ele lembra muito um iPhone preto matte misturado com um iPhone preto brilhante, como bem nota este tweet. Mas acredite: pessoalmente, ele é bem bonito. Acabei acostumando com esse design diferentão depois de alguns dias de uso.

Diferente de certos celulares, o Pixel não compromete a autonomia de bateria para ter design mais fino. Ainda assim, não tenho nenhuma reclamação sobre a espessura ou a pegada do aparelho. As bordas são curvadas para deixar o Pixel mais confortável de segurar. O modelo de 5 polegadas tem excelente ergonomia e não é escorregadio.

Um fator que pode atrapalhar a ergonomia é a posição do leitor de impressões digitais, que fica na traseira do aparelho. Eu sei, você ainda precisa levantar o celular da mesa para desbloqueá-lo. Não me incomodei tanto — acabei me acostumando com a posição, embora admita que preferiria um botão frontal. Aliás, o Pixel reconheceu mais rapidamente e com menos erros meu dedo quando comparado ao iPhone 7.

Outro ponto positivo é que ele tem as laterais bem resistentes. Uma vez derrubei o Pixel no concreto na altura do bolso com a tela para o chão e ele saiu apenas com alguns arranhões na borda (obrigado, Gorilla Glass 4!). A traseira, no entanto, suja mais fácil do que eu esperava, ainda que comum para o acabamento de alumínio e vidro.

E sim, o Pixel manteve a entrada de 3,5 mm para fones de ouvido. Estranhamente, não há nenhum fone de ouvido incluso na caixa do aparelho, então você vai ter que usar o seu antigo. Pelo menos você não vai ficar sem ouvir música caso não tenha um headset sem fio.

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O Pixel dispensou o conector Micro-USB e aderiu ao USB-C. A caixa do aparelho, inclusive, vem com um cabo com as duas pontas USB-C e um segundo cabo de USB para USB-C. Também há um conversor USB fêmea para USB-C para migrar os dados do aparelho antigo, seja iPhone ou Android. Achei conveniente.

Não vi muito problema na transição para o USB-C. Deixei um cabo na mochila, com a minha bateria externa, e outro no plug para a tomada. Dessa forma, se eu esquecesse um deles, não ficaria sem ter como plugar o Pixel.

Minha única reclamação é a falta de um alto-falante decente em um smartphone lançado em 2016. Tipo, sério? Migrei do iPhone 7, que tinha um som estéreo excelente, para esse som mono, nem tão alto e um pouco abafado? Bom, não dá para acertar em tudo.

Tela

De qualquer forma, se teve algo que o Google acertou no Pixel foi a tela. As cores são um pouco saturadas — algo comum para uma tela AMOLED, o que eu particularmente gosto — mas sem exageros. O brilho também é bom o suficiente para eu não me incomodar em usar o Pixel debaixo do sol.

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A resolução de 1920×1080 pixels combina bem com o display de 5 polegadas e todos os elementos ficam bem nítidos. O branco é bem balanceado e, como de praxe em displays AMOLED, o preto também. O Ambient Display, que mostra suas notificações acendendo apenas algumas partes da tela, funciona bem com pouca luz.

Pode ser birra minha, mas acabo preferindo o Moto Tela porque eu posso passar a mão sobre o celular para ver se tem alguma notificação. O Google ainda não acertou muito no Ambient Display, então a tela só acendia quando alguém falava comigo ou quando eu tirava o celular do bolso.

Software

Chegamos ao ponto central do Pixel. Sim, ele roda Android, mas é um Android diferente. Em vez de falar que é um Android puro e seguir em frente, finalmente temos novidades interessantes por aqui. Antes de entrar nas novidades do Nougat, queria confessar algumas coisas.

Um dos aspectos que mais gostei no iPhone foi o aproveitamento de espaço na tela. Foi muito divertido pegar o Pixel e ver que ele também traz os elementos da interface com um tamanho razoável. Eu nunca tinha percebido que o Android aumentava tanto o espaçamento entre os elementos da tela até ir para o iOS, e agora não tem mais volta.

Essa opção já existe em interfaces personalizadas de fabricantes, como na TouchWiz, mas não havia nada parecido para quem usava o Android puro. No Pixel, tem, sem precisar configurar nada. Sério, olha isso:

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Em outros lugares, como no Telegram ou WhatsApp, consigo ver mais um ou dois contatos na tela e várias outras mensagens. Preferi exemplificar com o Twitter para não vazar meus planos de dominação mundial, mas você pegou a ideia.

A principal novidade do Android 7.1 Nougat no smartphone do Google é o Pixel Launcher, junto com o Google Assistant, o mais novo assistente virtual do Google. Para ficar mais pessoal, o Google pegou tudo o que tinha de bom no Google Now e adicionou alguns recursos como o estilo de conversa da Siri e o entendimento de informações contextuais.

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Comparado ao Assistant, a Siri perde feio. O Assistant é muito rápido, o reconhecimento de voz é bem preciso e ele é bem mais útil. Dá para perguntar “quem é o presidente dos Estados Unidos?”, seguir com “qual a altura dele?”, “com quem ele é casado?”, “qual o patrimônio dela?” e saber quão rica é a Michelle Obama sem nem mencionar o nome dela. Sensacional.

Ele também pega algumas funções do Allo emprestadas, como os games ou as respostas engraçadas para perguntas simples. Também há opções contextuais para você tocar e saber mais do que acabou de perguntar. Por exemplo, se você perguntar “como está o tempo hoje?”, o Assisant vai te sugerir perguntar “e amanhã?”.

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Algumas novidades do Nougat já deixam o Android puro menos desinteressante, como a página de configurações mais completa, a central de notificações mais condensada, configurações rápidas personalizáveis, modo multitela e economia de dados.

O formato das notificações no Nougat me agradou muito. É bem melhor que as notificações únicas do iOS e dá para expandir as mensagens quando precisar, sem contar o recurso de responder sem entrar no aplicativo.

Como esperado de um smartphone administrado pelo Google, o Pixel também vai receber atualizações mensais de segurança. Posso confirmar que, pelo menos em novembro de 2016, o Google cumpriu sua promessa: já recebi a atualização por aqui.

Apesar das novidades, o Pixel ainda roda Android “puro”, então não tem muito mais a se explorar. O Google continua insistindo no Fotos, logo, não há um app de galeria nativo, nem um gravador de voz, nem um gerenciador de arquivos. De qualquer forma, é fácil baixar esses aplicativos na Play Store. Dá para dizer que o Nougat está bom o suficiente para satisfazer qualquer tipo de usuário.

Câmera

Outra característica que o iPhone me fez perceber que é fundamental em um smartphone é uma câmera boa. Fiquei bem curioso ao ver que o Google enfatizou na divulgação do Pixel que a câmera do seu smartphone é a melhor, segundo o ranking DxOMark. Agora eu posso confirmar: é mesmo.

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A câmera traseira tem um sensor de 12,3 megapixels com abertura de f/2,0. Não é a lente mais aberta entre os smartphones: o Galaxy S7 tem f/1,7 e o iPhone 7, f/1,8. Ainda assim, as fotos com o Pixel não deixaram a desejar em nenhuma condição de iluminação.

Graças ao foco por laser, o Pixel consegue focar muito rápido antes de tirar a foto. Por padrão, o Google deixa o HDR+ no automático, configuração que pode interferir na velocidade de tirar a foto. Ainda assim, o Pixel se mostrou bem rápido em várias situações.

Em condições normais, as fotos com o Pixel saem com cores mais saturadas que a câmera do iPhone 7, mas ainda realistas e sem exageros. Normalmente, o HDR+ faz muita diferença e a maioria das fotos fica com excelente profundidade de campo e ótimo equilíbrio de exposição.

Em fotos noturnas, o desempenho é semelhante ao do iPhone 7. Normalmente, se a cena não tem muito movimento, o Pixel faz um ótimo trabalho em equilibrar o ruído com a definição, e a foto sai bem clara. Caso contrário, você pode ver um pouco de ruído ou borrado, mas nada alarmante. No geral, tudo dentro do esperado para uma câmera dessa faixa de preço.

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Essa ficou surpreendentemente desfocada. Tirei bem rápido, com o carro em movimento. Nem sempre as fotos saem perfeitas.

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Desempenho e bateria

Equipado com um Snapdragon 821 quad-core com dois núcleos a 2,15 GHz e outros dois a 1,6 GHz, além de 4 GB de RAM, o desempenho do Pixel não deixa a desejar em nenhuma situação. É bem consistente para tarefas diárias, jogos e multitarefa.

A RAM a mais fez diferença por aqui: alternar entre aplicativos era instantâneo, e não notei nenhum engasgo. Fugindo do Snapdragon 810/820, o Pixel nem esquenta tanto, mesmo se você forçar bastante.

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Nos benchmarks, o Pixel surpreendentemente ficou atrás do Galaxy S7 e iPhone 7 na performance single-core, perdeu no 3DMark, mas ganhou no AnTuTu. Como usei tanto o Pixel quanto o iPhone 7, posso confirmar que não senti diferença no desempenho cotidiano entre ambos, mas dá para entender por que o iPhone conseguiu as melhores notas.

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No Asphalt 8, consegui jogar sem nenhum lag com os gráficos no máximo. A transição do jogo para outros aplicativos também não demora. Basicamente, o Pixel é capaz de rodar qualquer coisa sem muito esforço, como esperado para um celular dessa faixa de preço.

O que eu particularmente não esperava era uma bateria tão potente. O Pixel de 5 polegadas tem uma bateria de 2.770 mAh, o que parece apenas razoável em números. No entanto, com as melhorias no modo de economia de bateria do Nougat, consegui chegar em casa até com 40% de carga restante em alguns dias. Normalmente variava entre 30 e 35%.

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Uso moderado, intenso e bem intenso.

Meu uso envolve sair de casa por volta das 9h, deixar o brilho em 30% com Wi-Fi, dados móveis e Bluetooth ligados, usar moderadamente até a hora do almoço, onde tenho mais tempo para mexer no celular, e depois usar moderadamente até o final do dia, às 18h. O Pixel praticamente inutilizou minha bateria externa.

Em uso moderado, é interessante perceber como a bateria demora para cair. Com uso mais intenso, obviamente ela vai cair mais rápido, mas em uma velocidade abaixo da média pelo que percebi. Em todos os dias, foi difícil zerar a bateria do Pixel ou chegar em casa com menos de 25%.

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Conclusão

É interessante ver como o Google avançou em melhorar o ecossistema do Android. Vejo um desempenho consistente com um sistema estável, incluindo ótimos recursos, e um conjunto de hardware excelente. O Pixel é um smartphone muito bem acabado, com uma câmera excelente e ótima autonomia de bateria.

Exceto pelo último aspecto, eu poderia facilmente trocar “Pixel” por “iPhone” no parágrafo anterior e ainda seria verdade. Acredito que pela primeira vez, o Google conseguiu criar uma alternativa viável e focada no consumidor típico do iPhone, com os reforços sendo refletidos inclusive no preço, que ficou no mesmo nível da Apple. Mas sim, o Pixel é tudo isso que parece.

Fico feliz que a ideia de um “smartphone do Google” finalmente tenha sido bem executada, depois de tentativas pouco sucedidas. Aqui pelo Canadá, até chegaram a reconhecer o Pixel, perguntando “esse aí é o novo celular do Google? Que daora!”. Resta saber se o Pixel pode realmente conquistar consumidores comuns.

A notícia ruim é que não há nenhuma previsão do Pixel chegar ao Brasil — ainda mais se lembrarmos que o smartphone está sendo fabricado pela HTC. Uma pena, pois certamente seria uma compra certa para qualquer um que deseja investir em um smartphone e gosta de ficar no Android.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.770 mAh (Pixel) ou 3.450 mAh (XL);
  • Câmera: 12,3 megapixels (traseira) e 8 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.2, USB-C, NFC;
  • Dimensões: 143,8 x 69,5 x 7,31 mm (Pixel) ou 154,2 x 75,7 x 7,31 mm (XL);
  • Memória interna: 32 GB ou 128 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 143 gramas (Pixel) ou 168 gramas (XL);
  • Plataforma: Android 7.1 Nougat;
  • Processador: Snapdragon 821 quad-core 64-bits com dois núcleos a 2,15 GHz e dois a 1,6 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, bússola, giroscópio, impressões digitais e barômetro;
  • Tela: AMOLED de 5 polegadas e resolução 1920×1080 pixels (Pixel) ou 5,5 polegadas 2560×1440 pixels (XL).

Review Google Pixel

Prós

  • Finalmente o Android não parece inacabado
  • Tela com bom ângulo de visão e cores consistentes
  • Câmera tira ótimas fotos e foco é rápido
  • Desempenho consistente e confiável
  • Pegada confortável e acabamento resistente

Contras

  • Cadê os fones de ouvido na caixa?
  • Alto-falante poderia ser melhor
Nota Final 9.4
Bateria
10
Câmera
10
Conectividade
8
Desempenho
10
Design
9
Software
9
Tela
10

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Escrito por

Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.