Review LG G5 SE: o smartphone premium de segunda classe

Topo de linha da LG não é ruim, mas entrega menos que os concorrentes

Paulo Higa
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• Atualizado há 3 meses

A LG causou polêmica ao trazer somente uma versão capada do smartphone G5 ao mercado brasileiro. Chamado de G5 SE, o aparelho mantém o design modular, as duas câmeras traseiras e a tela de 5,3 polegadas, mas perde capacidade de processamento. Nada do poderoso Snapdragon 820: temos um modesto Snapdragon 652, acompanhado de 3 GB de RAM, um hardware que se assemelha à geração anterior.

A baixa no hardware, estranhamente, não se refletiu no valor. Com preço sugerido de 3.499 reais, o G5 SE é bem caro e compete diretamente com aparelhos como Galaxy S7 e iPhone 6s, que possuem chips mais potentes. Será que os diferenciais da LG são suficientes para torná-lo uma boa opção de compra? Eu utilizei o G5 SE como smartphone principal na última semana e conto os detalhes nos próximos minutos.

Review em vídeo

Design

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O design do G5 SE é certamente um avanço em relação aos topos de linha anteriores da LG, que ainda apostava no plástico, enquanto as concorrentes já vendiam smartphones com acabamento de metal e vidro. A LG conseguiu correr atrás das rivais, mas o G5 SE não parece tão sofisticado quando fica ao lado do Galaxy S7, por exemplo — o botão meio desalinhado para ejetar o módulo e o contorno da base ligeiramente menor em relação ao corpo do aparelho afetam meu TOC.

Com tela de 5,3 polegadas, o G5 SE não é absurdamente grande e você pode alcançar os cantos do display fazendo poucos malabarismos com o polegar. A traseira, apesar de parecer lisa demais ao toque dos dedos, fica bem segura na palma da mão. Só não gostei dos cantos pontudos, especialmente no conector USB-C, onde posiciono o mindinho de apoio; a pegada é um pouco incômoda.

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A LG moveu o controle de volume para a lateral, mas manteve o liga/desliga na traseira, que agora também serve como leitor de impressões digitais e desbloqueia o aparelho de forma quase instantânea. Como você mantém o dedo indicador naquele local enquanto segura o G5 SE, esta é uma solução de design que parece bem ergonômica.

Do ponto de vista estético, faz sentido que o sensor esteja na traseira, já que a LG utiliza botões virtuais: se os sul-coreanos quisessem colocá-lo na frente, teriam que adotar uma solução semelhante ao do Moto G4 Plus, de gosto duvidoso. No entanto, o posicionamento frontal é melhor, e se mostra superior quando você recebe uma notificação e o aparelho está sobre a mesa — em vez de levantar o G5 SE e tentar acertar o dedo ali, eu prefiro simplesmente digitar minha senha.

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Uma característica incomum do G5 SE é a base removível, que pode ser trocada pelos módulos CAM Plus (adiciona botões dedicados de câmera e bateria de 1.200 mAh) e Hi-Fi Plus (troca o áudio padrão por um Bang & Olufsen). A ideia da modularidade é boa, mas esbarra no problema do custo proibitivo (649 e 1.299 reais, respectivamente) e da falta de garantia de compatibilidade com futuras gerações. Nesse sentido, a Lenovo parece ter feito um trabalho melhor no Moto Z, com módulos que se encaixam de forma harmônica e têm promessa de suporte nas próximas gerações.

Tela

A LG sempre entregou telas IPS espetaculares nos topos de linha e continua fazendo isso no G5 SE. Ele possui uma das melhores (talvez a melhor) tela LCD disponível num smartphone. O painel apresenta brilho extremamente alto, com saturação equilibrada e excelente nível de contraste, dentro das limitações da tecnologia. Com resolução de 2560×1440 pixels (554 ppi), obviamente não há o que reclamar da definição.

O problema é justamente a limitação do painel LCD. Diferentemente do AMOLED, ele acende todos os pixels por meio de um backlight em vez de controlar a iluminação de cada pixel individualmente. Isso impede que o preto seja tão profundo quanto no AMOLED e prejudica o recurso Display Always On, que exibe o relógio e ícones de notificações enquanto o aparelho está em standby — como o brilho precisa ficar baixo para não gastar muita bateria, o texto fica muito apagado e complicado de se ler.

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Agora que as melhores telas AMOLED são melhores que as melhores telas LCD e não têm mais problemas de cores estouradas ou perda de definição, será que não está na hora de trocar de tecnologia, LG?

Software e multimídia

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O Android 6.0.1 Marshmallow do G5 SE é bastante modificado pela LG, que removeu o menu de aplicativos na UX 5.0. Assim como no iOS e na MIUI, os ícones e widgets ficam necessariamente espalhados pelas telas iniciais. Se desejar, você pode esconder alguns aplicativos nas configurações do launcher. Felizmente, quem prefere o jeitinho padrão do Android, como é o meu caso, pode restaurar o menu de aplicativos nas configurações do sistema.

Houve um cuidado da LG em padronizar o visual de seus aplicativos, acabando com as inconsistências de design da geração anterior, que parecia uma adaptação feita às pressas do Material Design. A interface da LG está bonita, bem acabada e com recursos que funcionam bem. Algumas funções perderam destaque, como o Janela Dupla, que permitia a exibição de dois aplicativos dividindo a tela (mas era extremamente limitado), e o Smart Bulletin, uma espécie de Google Now piorado, que foi desativado por padrão. Eles não fazem a menor falta.

Os aplicativos pré-instalados da LG continuam basicamente os mesmos, com alguns retoques visuais. Além do conjunto do Google, a empresa inclui o LG Backup (para fazer backup ou migrar seus arquivos para outro aparelho), o LG Friends Manager (que reúne os acessórios do G5 SE, como a câmera de 360º e os óculos de realidade virtual), o LG Health (monitora suas atividades físicas), o QuickMemo+ (permite fazer anotações e manuscritos) e algumas ferramentas de suporte.

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Um ponto positivo é que a LG manteve o infravermelho no G5 SE, permitindo que você utilize aplicativos como o QuickRemote para controlar sua TV, ar-condicionado ou projetor por meio do smartphone. O blaster infravermelho é um componente cada vez mais raro nos smartphones atuais: a Samsung, outra fabricante que oferecia IR nos topos de linha, removeu o sensor no Galaxy S7. É bom saber que a LG continua atendendo a esse público.

Os alto-falantes do G5 SE emitem som alto, mas sem tanta qualidade, chegando a distorcer um pouco nos volumes mais altos. Os fones de ouvido, que sempre foram acima da média nos topos de linha da LG, são apenas razoáveis no G5 SE. Os controles de volume dedicados foram removidos e o áudio é extremamente focado nos graves em comparação com as versões anteriores, fazendo os médios ficarem embolados. Se você é audiófilo, um público que a LG está tentando alcançar com o módulo Hi-Fi Plus, certamente não utilizará os acessórios inclusos na caixa.

Câmera

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A câmera do G5 SE é a mais legal que já testei nos últimos meses. Ou melhor, as câmeras. Embora elas não entreguem os melhores resultados de qualidade de imagem, especialmente em comparação com o Galaxy S7, a lente grande angular abre novas possibilidades de fotografia, permitindo que você tire fotos que não seriam possíveis com uma lente normal. Ela também funciona em gravações de vídeo, e é um prato cheio para quem gosta de sair do convencional.

O campo de visão aumenta significativamente com a segunda câmera. Por exemplo, esta é uma fotografia tirada com a lente padrão (f/1,8), no sensor de 16 megapixels:

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E esta foto foi tirada no mesmo local, só que com a lente grande angular (f/2,4), no sensor de 8 megapixels:

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A alternância entre as câmeras é feita de maneira quase transparente. Para ativar a lente grande angular, basta aplicar um gesto de pinça para dar zoom “ao contrário”. O software de câmera, aliás, continua muito bem feito, com modo simples para agradar a maioria dos usuários e um modo manual que permite ajustar o equilíbrio de branco (em Kelvin), o ISO (50 a 3200) e o tempo de exposição (1/3200 a 30 segundos). O aplicativo, que conta com histograma em tempo real e até um fotômetro é, talvez, o melhor que existe no mercado.

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A qualidade das fotografias é decente, mas não mostra um avanço significativo em relação à geração anterior. Aqui, o foco parece ter sido em adicionar funções, não melhorar o que já existe. Em boas condições de iluminação, o G5 SE entrega fotos com saturação equilibrada e bom nível de detalhes. Infelizmente, há um efeito agressivo de sharpening no pós-processamento que me incomoda, já que deixa partes das cenas muito artificiais.

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À noite, o aparelho da LG tem um pouco de dificuldade em focar e manter os pontos de iluminação sob controle no quadro. Como você poderia imaginar, na lente grande angular, que possui abertura menor e acompanha um sensor de imagem com resolução mais baixa, as fotos noturnas sofrem mais.

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Em resumo, a câmera do G5 SE é uma boa opção para brincar, mas quem realmente gosta de fotografia provavelmente ficará melhor servido com um Galaxy S7.

Hardware e bateria

Em relação ao modelo vendido no exterior, o G5 SE perde o processador Snapdragon 820 em favor do Snapdragon 652 e fica com 3 GB de RAM, um gigabyte a menos que o original. A troca do chip também interfere em outros aspectos do hardware, como a velocidade do barramento da RAM e do modem 4G. São baixas incômodas porque a LG cobra praticamente o mesmo preço de aparelhos significativamente mais potentes, como o Galaxy S7, que traz o poderoso Exynos 8890.

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Aqui, é importante lembrar que o Snapdragon 652 não tem nada a ver com os Snapdragon 61x que vemos nos smartphones de 1,5 mil reais — aliás, ele foi anunciado inicialmente como Snapdragon 620, mas a Qualcomm renomeou o chip depois para refletir a diferença de performance. Enquanto os Snapdragon 61x apostam nos núcleos Cortex-A53 (que são os mesmos do simplório Snapdragon 410), os Snapdragon 65x trazem os novos Cortex-A72, núcleos de alto desempenho da ARM.

E o que essa sopa de letrinhas significa na prática? Que você terá desempenho equivalente a um Snapdragon 808, o mesmo processador utilizado no LG G4 e Moto X Style. Ou seja, isso é bom por um lado, porque esses chips ainda entregam excelente desempenho, mas ruim por outro, porque a vida útil do G5 SE fica necessariamente mais curta em relação aos seus pares — que são bem mais baratos.

De qualquer forma, na utilização diária, não notei engasgos nas animações ou lentidões ao abrir e alternar entre aplicativos. Jogos também oferecem bons gráficos na GPU Adreno 510, que não parece sofrer nem um pouco com a resolução de 2560×1440 pixels, ao menos em Dead Trigger 2 e Real Racing 3. Não há quedas na taxa de frames e a suavização de bordas funciona bem nos games.

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Se a performance ainda não é ruim, a bateria já entrega suas fraquezas logo de fábrica. A capacidade de 2.700 mAh, um pouco abaixo dos concorrentes da mesma faixa de preço (3.000 mAh no Galaxy S7 e 3.760 mAh no Moto X Force), de fato se traduz em menor duração de bateria no dia a dia. Foi necessário dosar o uso do G5 SE para que ele não desligasse antes do final do dia.

No meu dia de testes, tirei o smartphone da tomada às 10h30. Nesse período, ouvi 2h de músicas e podcasts por streaming no 4G e naveguei na internet (entre redes sociais, emails e páginas da web) pela rede móvel por 1h40min. A tela ficou ligada por exatamente 1h51min46s, com brilho no automático e Display Always On ativado. Às 22h53, o G5 SE chegou a 18% de carga.

Embora o processador seja teoricamente mais econômico que o dos concorrentes, a tela IPS brilhante de altíssima resolução parece não colaborar para manter o G5 SE muito tempo longe da tomada.

Olhando pelo lado positivo, quando a bateria do G5 SE acabar antes do final do dia, você não precisará mantê-lo durante muito tempo na tomada. O carregamento é tão rápido que parece que a bateria está com defeito: você conecta o aparelho no carregador, fica olhando a tela por um minuto e o nível cresce de maneira assustadora. 34%, 35%, 36%… Subir de zero a 100% demora pouco mais de uma hora.

Só não esqueça o cabo em casa, já que você dificilmente encontrará algum amigo com cabo USB-C por perto.

Conclusão

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Pelo preço de lançamento, de 3.499 reais, o G5 SE é um smartphone que não faz sentido. Os diferenciais que a LG se propõe a oferecer, como a lente de 135 graus e o design modular com bateria removível, são interessantes, mas não enchem os olhos e não justificam o preço. O desempenho inferior do G5 SE é um grande ponto negativo, já que ele entrega hardware de topo de linha de 2015, mas cobrando o valor de um topo de linha de 2016.

Além disso, a LG sofre a concorrência forte da Samsung, que conseguiu fazer um trabalho espetacular no Galaxy S7 e tirou o brilho do G5, mesmo em comparação com a versão normal, que traz hardware mais potente. Os conterrâneos desenvolveram um aparelho melhor em basicamente tudo, no design, na tela, na câmera, na bateria e no software. A não ser que o G5 SE fosse significativamente mais barato, ele não é a melhor opção em sua faixa de preço.

Como estamos falando de um aparelho da LG, é provável que o preço do G5 SE caia bastante nos próximos meses, já que os aparelhos da marca costumam ter desvalorização mais acentuada. Ainda assim, há opções que podem ser mais interessantes mesmo em faixas de preço inferiores. O Moto X Style, por exemplo, que está na faixa dos 2 mil reais, entrega um bom conjunto de câmeras, uma bateria melhor e um acabamento tão bom quanto. Outra opção, ironicamente, é o próprio G4, que frequentemente aparece em promoções por 1,8 mil reais (quase a metade do G5 SE) e oferece uma experiência semelhante.

Quem sabe no G6?

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.700 mAh;
  • Câmera: 16 megapixels (traseira, normal), 8 megapixels (traseira, grande angular) e 8 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.2, USB-C, rádio FM, NFC, infravermelho;
  • Dimensões: 149,4 x 73,9 x 7,3 mm;
  • GPU: Adreno 510;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 32 GB;
  • Memória RAM: 3 GB;
  • Peso: 156 gramas;
  • Plataforma: Android 6.0.1 (Marshmallow);
  • Processador: octa-core Snapdragon 652 de 1,8 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, barômetro, impressões digitais;
  • Tela: IPS LCD de 5,3 polegadas com resolução de 2560×1440 pixels e proteção Gorilla Glass 4.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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