Review LG G4: o grande acerto da LG
Com câmeras de altíssima qualidade e tela impecável, flagship da LG é um bom candidato a ocupar o seu bolso
Com câmeras de altíssima qualidade e tela impecável, flagship da LG é um bom candidato a ocupar o seu bolso
O segmento de smartphones topo de linha nunca esteve tão bem servido. A Samsung abandonou o criticado acabamento de plástico e mostrou um belo design na linha Galaxy S6. A Apple se curvou ao mercado e passou a oferecer telas maiores nos iPhones. A Motorola finalmente está prometendo câmeras boas em seus aparelhos. É nesse momento que a LG tentará conquistar o público com o G4, sucessor do elogiado G3.
A nova geração do flagship da LG traz alguns upgrades no poder de processamento, mas foca especialmente na qualidade das câmeras, com sensor de 8 megapixels na frontal e uma ainda incomum lente de abertura f/1,8 na traseira. A sul-coreana também atualizou a tela levemente curvada de 5,5 polegadas e está usando o novo processador hexa-core Snapdragon 808.
Como o G4 se sai no uso diário? Eu te conto nos próximos parágrafos.
Tive acesso a duas unidades do G4. A primeira, em meados de junho, com design de plástico. A segunda, na última semana, com acabamento de couro. Na prática, a diferença entre as versões é pequena, porque apenas a tampa traseira é alterada. Não há nenhuma sofisticação adicional no resto da carcaça do smartphone de couro, o que não impediu a LG de cobrar 100 reais a mais por esse pequeno diferencial.
Embora a tela de 5,5 polegadas esteja acima do que julgo confortável para manuseá-lo com uma mão, a LG fez um bom trabalho em reduzir ao máximo a moldura em torno do display, o que deixa a pegada menos desconfortável — mas não quer dizer que seja boa; é um retrocesso em relação ao G3 e G2, que eram mais estreitos e agradáveis de segurar.
O G4 segue o conceito que estamos vendo desde o G2: não há nenhum botão liga/desliga ou controle de volume na lateral, apenas na traseira. É uma abordagem que gosto bastante, já que meus dedos ficam naturalmente nesse local; isso também ajuda no momento de ajustar o volume enquanto o smartphone estiver no bolso da calça. Claro que o software também colabora: se o aparelho estiver sobre uma mesa, com os botões inacessíveis, basta dar dois toques rápidos e a tela será ligada.
Mas, embora o acabamento do G4 não seja particularmente ruim, na geração atual a LG ficou atrás de Samsung e Apple, que adotaram materiais mais sofisticados em seus flagships. A versão de plástico do G4, certamente a mais vendida pelo preço inferior e maior disponibilidade, é apenas medíocre (no sentido original da palavra) e uma baixa em relação ao G3, que trazia um elegante acabamento lembrando aço escovado. O design da LG na época do Optimus G me agradava mais.
Ao retirar a tampa traseira, vemos a bateria removível de 2.900 mAh, um slot para o Micro-SIM da operadora e uma importantíssima entrada para microSD. É legal ver que a LG ainda se preocupa com essa questão, já que até a rival Samsung deixou de lado a expansão de memória no Galaxy S6. Para quem faz questão de carregar muitas músicas e vídeos no smartphone, o G4 ainda é uma das poucas opções que restam no mercado.
A tela, um componente que sempre elogiei nos aparelhos mais caros da LG, continua excepcional. O G4 possui a melhor tela LCD de smartphone que já passou pelas minhas mãos, com ângulo de visão impecável, nível de preto excelente dentro das limitações da tecnologia e brilho e cores mais vivas que no G3, mas sem exagerar na saturação. A definição, em um display de 5,5 polegadas com resolução de 2560×1440 pixels, dispensa comentários adicionais.
No G4, a LG adotou uma nova tecnologia chamada IPS Quantum Display, que promete cores mais fiéis de acordo com os padrões do Digital Cinema Initiatives (DCI), um grupo formado por estúdios de cinema; e melhorias físicas no painel, que passou a combinar sensor de toque e LCD em camada única pela primeira vez numa tela Quad HD. Deu certo? Aparentemente, sim.
Eu nunca fui um grande fã do software da LG, e a nova UX 4.0 faz pouca coisa para mudar essa opinião. A interface está muito parecida com a anterior, mas melhor adaptada ao Material Design do Android 5.1 Lollipop. Mesmo assim, ainda há os ícones quadrados de cantos retos que contrastam com os de outros aplicativos e os recursos que não funcionam a contento.
Ao deslizar o dedo para a direita na tela inicial do launcher da LG, não é mostrado o Google Now, mas o Smart Bulletin. Essa tela mostra alguns recursos da LG, como LG Health (aplicativo de saúde) e Smart Tips (dicas de como usar algumas funções), além do player de música e calendário. Ele só faria algum sentido se adicionasse algo em relação ao Google Now, ou fosse melhor em alguma coisa. Mas é apenas um bloatware que parece ter sido feito para não deixar os desenvolvedores da empresa ociosos.
Há um recurso chamado Janela Dupla, que permite o uso de dois aplicativos ao mesmo tempo, dividindo a tela grande de 5,5 polegadas. Assim como nos smartphones anteriores da LG, esse recurso continua ruim: há suporte a poucos aplicativos (os nativos, desenvolvidos por Google e LG), que são exibidos em uma grade pré-definida.
As intenções da LG em desenvolver alguns diferenciais no Android parecem ser boas, mas a execução é ruim. Há inconsistências de design por todo lado, diferenciais que seriam bons no papel e na prática não funcionam como deveriam, recursos que parecem inacabados. Esses problemas permanecem na LG há anos, desde que os Androids da marca se chamavam Optimus e, enquanto Samsung e Motorola aprimoraram significativamente seus softwares, não houve grandes avanços na LG.
Depois de criticar o software da LG, vale uma pausa para elogiar… o software. Mais especificamente o aplicativo da câmera, que consegue agradar a todo mundo. No modo simples, parecido com o que vemos na Motorola, basta tocar na tela para tirar a foto e usar gestos para alternar entre câmeras. O modo básico adiciona alguns atalhos para configurar o HDR, flash e temporizador. E o modo manual, o mais bacana de todos, permite configurar tudo, incluindo ISO e velocidade do obturador.
O modo manual não será usado por muitas pessoas, mas é ótimo para quem gosta de ter controle maior sobre a imagem e possui algum conhecimento técnico em fotografia. É possível ajustar, de maneira fina, balanço de branco (em Kelvin), distância de foco, ISO (de 50 a 2700) e tempo de exposição (de 1/6000 a 30 segundos). Na parte superior, há um histograma e até um fotômetro. Lembra bastante o aplicativo de câmera dos Lumias — só que mais rápido e muito melhor. Em um smartphone com lente f/1,8, ter tanto controle sobre a foto é sensacional. Ponto para a LG.
Mas, para quem deseja apenas tirar fotos e não quer lidar com o modo manual, o G4 não decepcionará — muito pelo contrário. A câmera consegue reproduzir cores que agradam e mantém um nível de definição das imagens bem impressionante para um smartphone. As fotos noturnas e em ambientes internos também ficam acima da média, provavelmente ajudadas pela lente de grande abertura.
Abaixo você confere algumas fotos de teste:
A câmera frontal, com sensor de 8 megapixels, também fica acima da média. Na minha selfie (em modo paisagem e com um monte de objetos atrás para avaliar melhor a definição do sensor) dá para ver claramente as teclas do teclado do notebook e outros pequenos itens, o que era impensável para uma câmera frontal até algum tempo atrás:
Se você procura um smartphone e faz questão de câmera boa, certamente ficará bastante satisfeito com o G4.
A LG gerou uma pequena sensação negativa no lançamento do G4 pelo uso do Snapdragon 808, um processador hexa-core da Qualcomm, com dois núcleos Cortex-A57 de 1,82 GHz e quatro Cortex-A53 de 1,44 GHz. É um dos melhores chips do mercado, mas essa característica foi estranha porque o G Flex 2 já vinha com Snapdragon 810, que está um patamar acima.
O que isso muda na prática? Pouca coisa. Nos benchmarks sintéticos, há alguma perda nos números, especialmente nos gráficos, que são providos por uma Adreno 418, levemente inferior à Adreno 430. Na prática, no entanto, eu não tive nenhum problema com travadinhas, os aplicativos sempre abriram rapidamente (a RAM de 3 GB ajuda bastante) e todos os jogos famosos por aqui (Dead Trigger 2, Modern Combat 5 e Real Racing 3) rodaram muito bem, com ótima qualidade gráfica.
O que eu não tive foram as engasgadas incômodas e inexplicáveis do G Flex 2 e o temido superaquecimento que afetou as primeiras unidades do Snapdragon 810. Então, acho que está tudo bem.
As principais fabricantes têm conseguido colocar bons alto-falantes em seus smartphones. Não é diferente com o G4: a qualidade sonora é ótima e o nível de volume está suficientemente alto para incomodar muitas pessoas no transporte público. Mas a LG traz um adicional na caixa: os novos fones QuadBeat 3. Eles emitem bom som, com ênfase nos graves como o nome sugere, e possuem um fio com acabamento reforçado — que, pelo menos no meu caso, também ajudou muito a evitar embolamentos.
A bateria do G4, com capacidade de 2.900 mAh, dá conta do recado. Para fins de comparação, eu repeti quase as mesmas atividades do teste do G Flex 2: tirei o G4 da tomada às 10h40, ouvi áudio por streaming (Spotify e Pocket Casts) no 4G por 2h30min e naveguei na web (emails, sites e redes sociais) por cerca de 2h. A tela ficou ligada por exatamente 2h17min. Às 19h20, ainda restavam 28% — mais que os 13% do G Flex 2, que tem bateria de 3.000 mAh.
É curioso que haja uma diferença boa de autonomia com um hardware bem parecido, apenas trocando o Snapdragon 810 pelo Snapdragon 808. Também é bom saber que, mesmo com uma tela de resolução exagerada, a LG continua mantendo uma autonomia bem decente nos topos de linha, embora não surpreenda tanto quanto na época do G2.
O G4 é o Android mais bacana com que tive contato nos últimos meses. Alguns pontos precisam ser refinados, como o software e o design, mas a LG conseguiu produzir um smartphone bastante equilibrado, com os melhores componentes do mercado. A tela, um componente que a LG sempre conseguiu fabricar muito bem, é excelente. A câmera, que costumava ser muito abaixo da concorrência nos aparelhos antigos, está ótima.
No Brasil, o G4 foi lançado por R$ 3.099 (plástico) e R$ 3.199 (couro). São preços muito altos, mas na prática nós sabemos que qualquer smartphone da LG se desvaloriza de uma forma assustadora: menos de três meses após o lançamento, é fácil encontrar o G4 por R$ 2,1 mil à vista em grandes redes de varejo. O mesmo havia acontecido com o G3 (e com qualquer outro topo de linha da LG), lançado em 2014 por R$ 2.299 e que já pode ser encontrado por R$ 1 mil em promoções de lojas online.
Considerando que o G4 continuará a cair de preço, provavelmente estamos diante de uma das (futuras) melhores relações custo-benefício do mercado. Para quem comprou um Android topo de linha no último ano, provavelmente a compra não vale a pena, a não ser que você esteja insatisfeito com sua câmera. Já para quem precisa de um upgrade, será difícil se arrepender com o G4. A LG praticamente não errou na nova geração.