Os primeiros módulos do Moto Z: impressionantes, inovadores e dispensáveis

Uma olhada de perto nos Moto Snaps de bateria externa, alto-falante, projetor e câmera com zoom óptico de 10x

Paulo Higa
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• Atualizado há 1 ano
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O primeiro smartphone modular da Lenovo chegou ao mercado brasileiro e, com ele, os primeiros módulos. Os Moto Snaps são acessórios que se integram perfeitamente ao Moto Z e adicionam funcionalidades que não seriam possíveis num corpo fino de smartphone, como alto-falantes potentes, baterias gigantes ou câmeras com zoom óptico de até 10x.

Mas qual é a desses módulos? Eles são realmente úteis? O que eles representam ao mercado de smartphones? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.

Uma visão geral

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Os módulos do Moto Z se comunicam por meio dos 16 pinos (e uma faixa) na traseira do aparelho. Eles ficam presos com a ajuda de ímãs, que são fortes o suficiente para que você não precise se preocupar com uma desconexão acidental — o enorme calombo na câmera traseira também colabora para mantê-los no lugar. Basicamente qualquer informação pode ser transmitida do Moto Z para um Moto Snap, então o limite acaba sendo apenas a criatividade dos desenvolvedores.

O kit padrão do Moto Z vendido no Brasil já traz dois “módulos”. O primeiro é a Style Shell, uma traseira de couro preto (na versão preta) ou madeira cinza (na versão branca), que tem duas funções: esconder a traseira metálica que serve como ímã de impressões digitais e esconder o calombo da câmera — a espessura da Style Shell coincide com a altura da protuberância. O segundo, que é um módulo de verdade, é a Incipio offGRID Power Pack, uma bateria de 2.220 mAh que detalharei adiante.

Quatro módulos de verdade foram revelados até o momento: o Moto Insta-Share Projector, um projetor de imagem de até 70 polegadas; o JBL SoundBoost, um alto-falante de 6 watts; a Incipio offGRID Power Pack; e a Hasselblad True Zoom, uma câmera com zoom óptico de 10x e flash de xenon.

Moto Insta-Share Projector

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O projetor é certamente o Moto Snap que mais deixa as pessoas boquiabertas. Isso porque não é incomum conectarmos uma bateria ou caixa de som a um celular, mas um projetor sim. Pouquíssimos smartphones trouxeram essa função de fábrica: de cabeça, lembro do Galaxy Beam, um Android da Samsung que ajudava na hora de fazer demonstrações rápidas ou compartilhar fotos — em troca de uma coisa estranha na parte superior da carcaça.

Talvez você não veja boa qualidade de imagem, mas verá pessoas impressionadas

O Insta-Share Projector deixou não apenas o meu pai (que não acompanha o noticiário de tecnologia diariamente), mas também executivos de uma fabricante de processadores impressionados. Não é para menos: basta conectar o módulo à traseira do Moto Z, ligar o projetor, e a imagem começa a ser transmitida imediatamente, sem nenhuma configuração adicional. Além disso, como o módulo detecta o ângulo em que está posicionado, a imagem é endireitada automaticamente na parede, no teto ou em qualquer outra superfície.

Analisando friamente, no entanto, ele não é uma compra tão interessante. Por 1.499 reais, quando adquirido separadamente, o Insta-Share Projector custa o mesmo que um projetor de verdade, que emite luz com intensidade muito maior que os 50 lúmens do Snap. Também há modelos compactos, como o Asus S1, que fica na mesma faixa de preço, mas tem luz mais forte (200 lúmens) e bateria de três horas (contra apenas uma do Insta-Share Projector).

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A Lenovo diz que o Insta-Share Projector permite que você “reúna seus amigos e compartilhe fotos das férias, assista a vídeos ou veja seus esportes favoritos”, mas eu tenho sérias dúvidas se isso é um chamariz interessante. O projetor é suficiente para assistir a um vídeo com baixa resolução (854×480 pixels) em paredes brancas e na escuridão, mas é difícil enxergar com clareza quando há luz ambiente.

Além disso, a bateria de 1.100 mAh com duração de uma hora é suficiente para fazer uma apresentação curta ou assistir a um episódio de uma série, mas o módulo já começa a gastar a bateria do Moto Z em filmes mais longos. O gasto de energia fica por conta não apenas da projeção, mas também da ventoinha interna, para que o Insta-Share Projector não superaqueça — ele esquenta um pouco, mas nada que chegue a incomodar.

O problema é que todos os cenários que eu consigo imaginar para o Insta-Share Projector são melhor atendidos por alternativas:

  • Se você costuma fazer apresentações, provavelmente já tem um projetor (normal ou compacto), que emite imagem melhor e com resolução mais alta;
  • Se você costuma assistir a filmes e séries, talvez seja melhor comprar uma boa TV pelos 1.499 reais que a Lenovo está cobrando;
  • Se você quiser compartilhar uma foto ou vídeo com amigos que estão perto de você, não faz sentido trocar o belo display de 5,5 polegadas (2560×1440 pixels) do Moto Z por uma projeção fraca de baixa resolução e contraste.

Talvez o Insta-Share Projector seja realmente útil se você estiver numa ilha deserta, sem acesso a nada, e quiser entreter os amigos. De resto, não passa de um gadget dispensável. Muito bacana, mas dispensável.

JBL SoundBoost

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Não adianta: por mais que as fabricantes se esforcem, não dá para colocar um alto-falante super potente, com alcance dinâmico impressionante, numa carcaça de smartphone. A sensação de radinho de pilha permanece, em maior ou menor intensidade. Por isso, o JBL SoundBoost é um módulo bem interessante — basta conectá-lo ao Moto Z e pronto, temos um som estéreo de 6 watts (3 watts por alto-falante, com 27 mm de diâmetro cada).

O som do JBL SoundBoost agrada. A potência não é suficiente para festas com muita gente (mais de 15 ou 20 pessoas, talvez), porque os falantes começam a distorcer o áudio em volumes mais elevados, mas o áudio tem boa qualidade. Por padrão, ele é equalizado com o perfil “Batida grave” que, como o nome sugere, deixa os graves mais potentes (mas em compensação os médios ficam meio embolados). É possível configurá-lo ao seu gosto.

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Um detalhe legal é o pezinho retrátil do JBL SoundBoost, que permite deixar o Moto Z em pé; de quebra, isso ajuda a propagar melhor o som. A integração via software também é um ponto positivo, já que o Moto Z alterna automaticamente para os alto-falantes internos quando você recebe uma ligação (mas também dá para usá-lo no viva-voz, caso você realmente queira que todo mundo escute a conversa).

Não é tão potente, mas é bom o suficiente

Por 699 reais, a Lenovo está vendendo praticidade — não é necessário passar pelo ritual de parear o alto-falante por Bluetooth, nem ficar se preocupando em mantê-lo carregado. Eu não consegui descarregar totalmente a bateria do JBL SoundBoost, mas o módulo parece bem perto de cumprir a promessa das 10 horas de duração antes de consumir a carga do Moto Z, ao menos em volume médio.

É muito provável que você consiga alto-falantes Bluetooth mais potentes, inclusive da própria JBL, gastando o mesmo dinheiro ou menos, mas o SoundBoost entra na categoria do “bom o suficiente”. Ele tem várias possibilidades de uso e já serve para animar pequenas festas ou transformar o Moto Z num companheiro de entretenimento, para ouvir música ou assistir a vídeos com boa qualidade de som.

Incipio offGRID Power Pack

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A bateria interna de 2.600 mAh do Moto Z não seria nenhum grande problema se não estivéssemos falando de um smartphone com tela grande (5,5 polegadas) de altíssima resolução (2560×1440 pixels) e processador potente (Snapdragon 820). Quando comparamos com smartphones de mesmo nível, como o Galaxy S7 Edge e sua bateria de 3.600 mAh, a autonomia do Moto Z decepciona.

Por isso, o Incipio offGRID Power Pack, ao contrário dos outros Moto Snaps, não é um acessório supérfluo ou de luxo: para muitas pessoas, ele acaba sendo obrigatório, tanto que a Lenovo tomou a iniciativa de incluí-lo no kit padrão vendido no Brasil. Com a capacidade adicional de 2.220 mAh, o Moto Z aguenta facilmente até a metade do dia seguinte no meu caso, com 5 horas de tela ligada e uso intenso de navegação em 4G.

Módulo corrige a bateria com duração ruim do Moto Z

Aqui, é importante lembrar de alguns detalhes. O primeiro é que não estamos falando de uma simples conta de adição — como é uma bateria externa, há perda de energia durante a recarga, então não é como se o Moto Z virasse um “smartphone com bateria de 4.820 mAh”. O próprio módulo permite que você configure um modo de energia: no padrão, a carga do Moto Z é sempre mantida em 100%; no modo de eficiência, a bateria interna fica em 80% (e a bateria externa dura mais).

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O segundo é que, com o Incipio offGRID Power Pack, o Moto Z se torna um smartphone espesso e pesado. Em um cálculo rápido, estamos falando de um smartphone de 215 gramas e 11,4 mm de espessura. Você pode argumentar que essa espessura não é muito diferente dos aparelhos “normais”, e eu direi que isso é verdade, com ressalvas:

  1. Os smartphones espessos costumam ser mais compactos, caso do Moto G de 3ª geração (11,6 mm), por exemplo. O Moto Z vira um smartphone espesso e grande, o que piora ainda mais a ergonomia (que não é boa mesmo sem o módulo, por causa da enorme borda inferior). Não é por acaso que o Moto G4 (também com 5,5 polegadas) veio bem mais fino;
  2. E os smartphones grandes e espessos, como o Moto X Style (11,1 mm)? Eles não são os campeões em ergonomia, mas são pensados para oferecer uma experiência minimamente decente — a traseira é curvada, e as bordas são finas. O Moto Z vira um tijolão com bordas ligeiramente arredondadas.

Acho o módulo bem válido (ainda mais vindo como “brinde”) porque ele é simplesmente melhor que qualquer solução de bateria externa convencional — você não precisa carregá-lo separadamente e nem ficar com um cabinho pendurado no smartphone. Snap e Moto Z se integram bem, como se fossem uma coisa só.

Ainda assim, é importante lembrar que o módulo é útil porque ele ataca um problema causado justamente pela existência dos módulos — ou seja, ele ataca um problema criado por ele mesmo. Tanto é assim que o Moto Z Play, com 2 mm de espessura a mais, consegue entregar uma bateria com duração impressionante e, portanto, não precisaria do módulo.

Hasselblad True Zoom

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A Hasselblad True Zoom é quase uma câmera completa. Ao ligá-la no Moto Z, você passa a utilizar a bateria, a tela e o processamento do smartphone — mas a lente com zoom óptico de 10x e até mesmo o sensor de imagem, com resolução de 12 megapixels, são independentes. A integração é muito boa: depois de conectá-la, você passa a tirar fotos com o mesmo aplicativo de câmera nativo do Moto Z, mas com recursos adicionais, como a possibilidade de salvar em RAW.

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Falando de números, temos um sensor CMOS retroiluminado de 1/2,3 polegada, mesmo tamanho utilizado em outras câmeras compactas e nos smartphones mais caros da Sony. A lente tem distância focal equivalente de 25 a 250 mm, e a abertura é variável de acordo com o zoom aplicado, indo de f/3,5 a f/6,5. Ela também possui dois microfones (o microfone traseiro do Moto Z fica coberto pelo módulo) e um flash de xenon.

Na prática, as fotos são apenas satisfatórias

Na prática, as fotos da Hasselblad True Zoom são apenas satisfatórias, mesmo em comparação com o Moto Z Play, que teoricamente possui uma câmera inferior ao Moto Z. O nível de detalhes é curiosamente inferior, e as fotos em baixa iluminação são prejudicadas pela lente com abertura pequena (no mínimo f/3,5, enquanto Moto Z e Moto Z Play têm f/1,8 e f/2,0, respectivamente). Com zoom em 10x, a Hasselblad sofre com a abertura de f/6,5 e sobe agressivamente o ISO, aumentando o ruído e prejudicando a definição. O flash de xenon seria uma salvação, mas obviamente ele não alcança um objeto fotografado com zoom de 10x.

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Sem contar que o Moto Z fica pesado e ruim de manusear com o módulo conectado, portanto, não é algo que você utilizaria o tempo todo — de qualquer forma, há um estojo incluso na caixa para guardar a Hasselblad True Zoom com segurança. Além da espessura (são 15,1 mm adicionais), a ergonomia é prejudicada porque a lente é pesada e muda o centro gravitacional do aparelho; o Moto Z tende a “cair para frente” com a câmera ligada.

Quando considero o principal diferencial, que é o zoom óptico de 10x, a Hasselblad True Zoom faz um bom serviço, enxergando bem longe e mantendo os detalhes das imagens, algo que nunca seria possível com zoom digital. Eis uma foto tirada com o Moto Z Play:

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E uma com a Hasselblad True Zoom:

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E uma com a Hasselblad True Zoom e zoom de 10x:

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Nas fotos em ambientes internos, a Hasselblad True Zoom apresenta mais ruído que a câmera do Moto Z Play, piorando em áreas de sombra, que ficam “duras”. Mesmo com sensor de imagem maior, a definição é apenas equivalente.

Esta foto interna foi tirada com o Moto Z Play:

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E esta com a Hasselblad True Zoom:

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Para fins de comparação, eis uma tirada com o Galaxy S7 Edge:

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Pelo software da câmera, é possível ativar um zoom digital de 4x, o que resultaria num “zoom de 40x”. No entanto, nessa configuração, é praticamente impossível tirar uma boa foto, tanto pela qualidade da imagem (que é apenas esticada por software, piorando a definição) quanto pela tremedeira natural das mãos, mesmo com estabilização óptica de imagem. Além disso, como o motor da objetiva é relativamente barulhento, eu não recomendaria ligar o zoom óptico durante uma gravação de vídeo.

Ela entra no mesmo problema dos outros módulos, só que em maior intensidade. Por 1.499 reais, é possível comprar uma câmera de verdade, que oferece resultados superiores — a vantagem da “portabilidade” não pode ser levada em consideração aqui, porque não é nada prático utilizar um Moto Z com Hasselblad True Zoom. Se a questão for enxergar longe, câmeras ultrazoom (como a Sony DSC-H400, com zoom óptico de 63x) são encontradas por volta de 800 reais. Se a questão for qualidade, basta utilizar a câmera do Moto Z ou Moto Z Play. Ou comprar um smartphone com câmera melhor.

E aí?

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Sem dúvida, o Moto Z é a melhor implementação de smartphone modular que tivemos até agora: o fracassado Projeto Ara prometeu muito, mas acabou não saindo do papel, e o G5 foi uma tentativa de pioneirismo que não deu certo pelas trapalhadas da LG, como a necessidade de desligar o aparelho para substituir um módulo. O problema é saber se ser melhor é suficiente.

Praticidade vs. público e preço vs. escala: os dilemas dos módulos

A Lenovo tenta vender praticidade, com o slogan “em um click, tudo pode mudar”, já que os Moto Snaps são realmente fáceis de usar — basta conectá-los à traseira do Moto Z e eles magicamente começam a funcionar, sem nenhuma configuração, pareamento ou gambiarra.

Mas talvez os que mais se beneficiariam de um smartphone mais completo (os usuários avançados) são justamente os que não precisam de tanta praticidade. Pelo preço que os Moto Snaps são vendidos, é possível comprar projetor, câmera ou alto-falante bem melhores que as versões modulares, ao custo da “inconveniência” de ter que ligá-los manualmente ou não ter forte integração via software.

Se um beco sem saída é a praticidade vs. usuários avançados, outro dilema fica por conta de preço vs. escala. Um produto específico para um aparelho terá um teto de produção necessariamente menor que um acessório compatível com qualquer aparelho e, por isso, tende a ficar sempre mais caro. O custo-benefício provavelmente nunca será um atrativo para os Moto Snaps, portanto. No Brasil, a situação é ainda pior porque, se não há escala, não compensa fabricá-lo no país. E se a produção não é nacional, os impostos de importação encarecem significativamente os acessórios.

Os Moto Snaps revelados até o momento ainda não mostraram a que vieram — e eu tenho dúvidas se eles serão interessantes em algum momento no futuro. A Lenovo está incentivando a criação de módulos, oferecendo até um prêmio milionário para quem conseguir desenvolver o melhor Moto Snap. A dúvida é se teremos uma revolução semelhante ao que a App Store e o Android Market causaram na década passada, ou se estamos falando de uma tecnologia impressionante com prazo de validade.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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