Review Nokia 5.4: o que aconteceu aqui?
Com tela menor e processador inferior, Nokia 5.4 chegou ao mercado com downgrades e sem diferenciais para cativar o consumidor
Com tela menor e processador inferior, Nokia 5.4 chegou ao mercado com downgrades e sem diferenciais para cativar o consumidor
O Nokia 5.3, lançado no Brasil em 2020, chamou a nossa atenção por ser mais avançado que outros modelos anunciados pela HMD Global por aqui. As avaliações, no entanto, mostraram que ele tinha alguns problemas que impediam a recomendação e o preço elevado também não ajudava. Poucos meses depois, a finlandesa, então, oficializou o seu sucessor, o Nokia 5.4, com ajustes no design, tela de 6,39 polegadas, processador Snapdragon 662 e Android 12 garantido.
Porém, o dispositivo chegou mais caro às lojas, custando R$ 1.999. Será que a empresa, enfim, acertou? O Nokia 5.4 foi o meu celular principal nas últimas semanas e compartilho a seguir os seus pontos positivos e negativos.
O Tecnoblog é um veículo jornalístico independente que ajuda as pessoas a tomarem sua próxima decisão de compra desde 2005. Nossas análises não têm intenção publicitária, por isso ressaltam os pontos positivos e negativos de cada produto. Nenhuma empresa pagou, revisou ou teve acesso antecipado a este conteúdo.
O Nokia 5.4 foi fornecido pela HMD Global por empréstimo e será devolvido à empresa após os testes. Para mais informações, acesse tecnoblog.net/etica.
O Nokia 5.4 é um celular sem muita personalidade. O visual remete a alguns celulares chineses, como o Poco X3, mas o intermediário da finlandesa, claro, é muito mais simples, mas não tão simples como a geração passada. Ainda que seja idêntico ao 5.3, com quase nenhuma alteração no layout, na disposição dos atalhos e no módulo redondo da câmera, o aparelho ganhou uma leve atualização no material traseiro, que está mais brilhante e traz novas cores.
Mesmo sem ter recebido um upgrade na bateria, que poderia passar de 4.000 mAh para 5.000 ou até 6.000 mAh, o Nokia 5.4 está mais espesso. Não é um problema, até porque o dispositivo continua leve, permitindo o uso com apenas uma mão, mas a alteração é curiosa. As novas laterais achatadas abrigam os botões de liga/desliga, um exclusivo para acionar o Google Assistente, os de volume e a gaveta de chip e cartão de memória.
No resto, a marca continua conservadora, mas no bom sentido. A entrada de áudio de 3,5 mm está presente no topo do aparelho e a conexão USB-C está na parte inferior. O leitor de impressões digitais, próximo das câmeras, é outro bom adicional: em alguns momentos, o reconhecimento pode falhar, mas não é nada grave.
A tela do Nokia 5.4 gera polêmicas. Esperávamos um bom upgrade nesse quesito, mas, na verdade, nos deparamos com um downgrade. O primeiro ponto a se observar é que ela reduziu, passando de 6,55 polegadas para 6,39 polegadas. A meu ver, não é um declínio que possa desagradar muitas pessoas, pois o celular continua com um painel grande e a remoção do notch favoreceu a sensação de tela grande.
Infelizmente, o AMOLED não deu as caras nessa geração e ele continua com o IPS LCD e a resolução é HD+ (1560 x 720 pixels), enquanto a proporção ficou em 19,5:9. Essa configuração mais simples não deve fazer muita diferença para usuários menos exigentes, entretanto é difícil ignorar, tendo em vista que o Samsung Galaxy M21s, mais barato que o Nokia, tem um painel superior e Full HD+.
Excluindo os mais rigorosos, a tela do intermediário deve agradar muita gente: dentro das limitações, o LCD do aparelho é bom. Por sua vez, o alto-falante, mono, é muito baixo e, praticamente, tem a mesma qualidade do 5.3; ao menos o fone de ouvido é enviado na caixa.
Se na tela o smartphone não anima, é no software que a Nokia vem agradando. Ainda que demore, é bom saber que o produto não vai ficar estagnado nos próximos anos. No caso do 5.4, após rever o seu calendário, a HMD Global bateu o martelo e definiu que o Android 11 será disponibilizado para ele no segundo trimestre deste ano; o update nesse período ainda atinge o antecessor, 5.3, e o 2.4, que já avaliamos no Tecnoblog. Já o Android 12 está garantido e as atualizações mensais de segurança são disponibilizadas por três anos.
Quanto à interface, novamente a marca entrega um aparelho limpo, sem modificações bizarras e bloatwares. De fábrica, você já tem acesso aos principais aplicativos do Google, ao My Phone, que concentra recomendações de apps para você baixar, tem o suporte e uma comunidade. Rádio FM também está disponível e, na lateral esquerda, existe o botão dedicado para acionar o Google Assistente, que não pode ser configurado para outras ações.
O conjunto fotográfico foi aprimorado. A câmera principal, antes de 13 megapixels, avançou para 48 megapixels. O resto segue igual: a ultrawide tem 5 megapixels de resolução, a lente macro tem 2 megapixels e existe um sensor de profundidade também de 2 megapixels. A frontal passa a ser de 16 megapixels: ela produz selfies legais, com boa nitidez e exposição controlada. Eu, no entanto, acredito que a saturação poderia ser um pouco mais forte, ainda assim, dá para obter imagens interessantes.
A lente principal é a grande estrela do Nokia 5.4. A definição é decente, a coloração agrada e eu, também, gostei da textura que o pós-processamento valoriza. Mas uma coisa que a Nokia não resolveu são as aberrações cromáticas que surgem sempre no meio das árvores. O sensor de profundidade é só ok; ele não é tão lento durante a captura, mas se perde com muita informação na cena.
A ultrawide não convence: a imagem não tem vida, a definição é 100% prejudicada, tanto no centro quanto nos cantos da fotografia. A macro é o calcanhar de Aquiles desse conjunto: o foco é fixo, então o usuário precisa encontrar a melhor posição para fazer o registro. Mas aí vem outro erro: você deve manter uma distância de 4 cm do objeto, só que a inteligência artificial da Nokia não consegue apontar quando o intervalo está bom para tirar a foto. Você vai ficar irritado e não terá fotos decentes.
Já em condições de baixa luminosidade, o resultado, ainda com a principal, é bom considerando a categoria do celular. É possível notar que o Modo Noite tenta, ao máximo, melhorar a nitidez: dá certo alguns pontos, mas alguns fantasmas são visíveis.
Curiosamente, o Nokia 5.4 retrocedeu no desempenho, isso porque a empresa trocou o Snapdragon 665 pelo 662. Não é um obstáculo gigante, tendo em vista que esta geração não peca tanto na performance, mas é um tanto confuso esse downgrade. Ele trabalha aliado a 4 GB de memória RAM, bom número, e 128 GB de espaço interno. Mesmo com o retrocesso, essa configuração deve atender boa parte dos compradores. Durante a navegação pelos principais aplicativos, eu não presenciei engasgos e fechamentos inesperados.
A GPU Adreno 610 faz um bom trabalho e não deve gerar dores de cabeça para os jogadores menos exigentes. Com os detalhes reduzidos, Asphalt 9 roda com um desempenho satisfatório: na maioria das vezes, o título é executado sem travamentos. Outros jogos leves também operam com fluidez.
Depois do software, a bateria continua sendo o destaque do Nokia 5.4. A finlandesa ressalta que o componente de 4.000 mAh garante até dois dias de uso com apenas uma carga. A verdade é que este aparelho não tem configurações altas que existem muito da bateria, então é possível chegar perto de dois dias. Com o brilho da tela no máximo, eu consumi duas horas de Netflix, uma hora de YouTube, uma hora de redes sociais e fechei com 15 minutos de Asphalt 9: a porcentagem foi 100 para 45, carga suficiente para mais um dia.
Um carregador de 10 watts está incluso na caixa. O acessório faz o telefone sair do zero e chegar aos 100% em 2h35min. Ele merecia um carregador mais rápido? Até merecia, mas esse tempo ainda é aceitável e vale lembrar que o 5.4 não consome tanta energia no dia a dia.
Em 2020, eu disse que o Nokia 5.3 avançou, mas nem tanto. Essa mesma frase pode definir o Nokia 5.4. Infelizmente, o aparelho não tem personalidade e um diferencial que cative o consumidor. O Galaxy M21s tem um painel AMOLED e uma bateria de 6.000 mAh; o Moto G20 tem tela de 90 Hz; o Redmi Note 10 tem design de topo de linha e um conjunto fotográfico muito animador; o Nokia 5.4 tem o software. Não sei se é suficiente.
Também não está claro o porquê dos downgrades na tela e no processador, baixas que podem desanimar ainda mais. O Nokia 5.4 é um modelo que agrada por poucos detalhes: a bateria de 4.000 mAh é interessante, a câmera principal tira boas fotos para as redes sociais, a remoção do notch, a meu ver, foi um acerto, e manter a entrada para fones de ouvido faz ele ganhar mais pontos comigo.
Em resumo, este aparelho não é ruim, mas ele está na categoria errada e não tem diferenciais para quem busca algo superior ao Nokia 2.3 e 2.4. Atualmente, ele só faz sentido durante as promoções do varejo. Não vale pagar R$ 2 mil nem R$ 1.700, que é o preço que o varejo tem cobrado enquanto eu produzia este review. Eu pagaria, no máximo, R$ 1.100 e, por fim, espero que a HMD Global possa nos surpreender na próxima geração.