Conseguir uma corrida na Uber está difícil? Você não está sozinho nessa

Passageiros reclamam sobre cancelamento de corridas e motoristas dizem que muitas viagens não compensam; Amobitec afirma que demora é reflexo da alta demanda

Ana Marques
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• Atualizado há 5 meses
Aplicativo da Uber (Imagem: Priscilla Du Preez/Unsplash)
Aplicativo da Uber (Imagem: Priscilla Du Preez/Unsplash)

A demanda por mobilidade volta a crescer enquanto as medidas de quarentena vão se flexibilizando ao redor do país em decorrência do avanço da vacinação contra COVID-19. Nesse cenário, muitos passageiros têm relatado dificuldades para conseguir iniciar viagens na Uber. “Tá horrível! Você tem que implorar para que mantenham a corrida”, relata um usuário no Twitter — a thread na qual encontrei esse depoimento tem quase 60 mil likes e mais de 600 comentários.

“Moço, não cancela, por favor”. A frase aparece em um print tirado por outro passageiro da Uber e publicado na rede social. Em alguns casos, porém, o pedido não surte efeito.

“Não vou fazer, desculpe”, respondeu um motorista em outra conversa dentro do app da Uber, que teve a imagem compartilhada na publicação.

Por que motoristas estão cancelando corridas?

Buscando entender os motivos para os problemas relatados por diversos passageiros usuários da Uber, o Tecnoblog entrou em contato com sindicatos e associações de motoristas de aplicativo.

Duda, presidente da AMASP – Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo, aceitou conversar com a reportagem para expor algumas dificuldades que ele e outros colegas vêm enfrentando diariamente no setor.

“Os passageiros enfrentam problemas com as corridas porque os motoristas de app estão selecionando as corridas”, resumiu Duda rapidamente. Em seguida, ele explicou de forma detalhada:

“Quando um motorista recebe uma chamada, ele consegue identificar para qual região o passageiro vai, e quando o motorista chega ao ponto de cancelar uma corrida, é devido ao fato de que as empresas criaram categorias de corridas para passageiros que têm o valor mais baixo do que uma corrida comum, já conhecida. Por exemplo: UberX é a categoria popular, mas há ainda a UberX Promo que tem tarifa mais baixa. E os passageiros focam nessas corridas. O que acontece é que motoristas aceitam por engano e cancelam ao ver uma corrida dessas categorias”.

Duda diz ainda que categorias promocionais, como a UberX Promo, muitas vezes não compensam para o motorista. “Uma corrida como essa faz com que o motorista pague para que o passageiro possa viajar, porque o valor da corrida que o passageiro paga não é o suficiente para arcar com as despesas que o motorista tem para chegar ao destino”.

Procurada pelo Tecnoblog, a Uber afirma que o UberX Promo só opera fora dos horários de pico, quando a quantidade de chamados de UberX cai e o motorista parceiro fica mais tempo parado esperando entre uma viagem de UbeX e outra. A empresa diz que:

“Como são preços promocionais, os usuários pagam menos, a Uber ganha menos e os motoristas parceiros também. Os parceiros têm liberdade para decidir se querem ou não aceitar viagens de UberX Promo, mas quem aceita sabe que, com ele, o app não para de tocar. E sabe que os usuários são, em sua maioria, pessoas que não usavam UberX com frequência, mas agora buscam fugir das aglomerações na hora de se locomover.”

Motorista por aplicativo (Imagem: Dan Gold/Unsplash)

Motoristas temem insegurança

Outra reclamação de diversos profissionais que trabalham no setor de corridas por aplicativo é sobre a insegurança, especialmente em aplicativos populares, mais visados por criminosos.

“Existe uma fragilidade na abertura de contas como passageiros”, afirma o presidente da AMASP. “O motorista se sente inseguro devido a isso. […] Então, o motorista fica à mercê tanto de criminosos que se passam por passageiros, quanto também aos crimes que ocorrem no dia a dia — aqueles em que você está dirigindo e o criminoso vem do lado externo do veículo, seja em uma abordagem no farol, fechamento em avenida… Enfim, a gente também corre esse risco.”

Duda, presidente da AMASP

É importante salientar ainda que o termo “Uber” muitas vezes é usado como referência para a reclamação sobre todo um setor, mas parceiros de outras empresas concorrentes também tendem a enfrentar as mesmas questões.

Perguntei a Duda se a 99 teria alguma vantagem sobre a Uber, e a resposta foi a seguinte:

“Na verdade nem a 99, nem a Uber, têm pontos específicos que atraiam os motoristas. Algumas vezes a migração entre uma e outra se dá por manifestações [por parte dos condutores] — no sentido de ‘vamos rodar hoje somente pela Uber, ou só pela 99’ — e vice-versa. Os motoristas normalmente trabalham com os dois aplicativos ligados.”

A migração para táxi e fidelização de clientela

Um levantamento da Vá de Táxi, app de mobilidade criado em 2013, mostrou que a demanda por táxis tem crescido diariamente no último semestre, em um percentual em torno de 18% mês a mês.

De acordo com a empresa, 60% do crescimento orgânico ocorre pela migração de passageiros insatisfeitos com a qualidade dos serviços de aplicativos de motoristas particulares. “Varia de cidade para cidade, mas nas grandes capitais, onde o volume de corridas é mais significativo, o percentual é este”, explica Fernando Chavarro, CPO da Vá de Táxi.

Vale lembrar que em junho, o Cabify, concorrente da 99 e da Uber, encerrou suas atividades no Brasil após dificuldades provocadas pela crise econômica que se instalou após a pandemia.

Por outro lado, tem se tornado uma prática comum o motorista fidelizar clientes para prestar serviços particulares por conta própria.

“Pelas plataformas, o motorista tem uma taxa a ser descontada dentro da corrida. Ao fidelizar um passageiro, ele pega o valor cheio, mesmo que a corrida dê o mesmo preço da feita pelo aplicativo. Então, a margem de lucro aumenta um pouco. Tendo em vista os aumentos [nos preços] de combustíveis que têm acontecido de forma consecutiva, essa é uma maneira que o motorista tem de alimentar a sua despesa e obter algum lucro.”

Duda, presidente da AMASP

Tendo em vista o aumento no preço dos combustíveis, a Uber afirma que apesar de ser algo que foge ao controle da empresa, entende a insatisfação dos motoristas, e trabalha para ajudar na redução de gastos de parceiros.

“Por meio do nosso programa de vantagens para parceiros, o Uber Pro, buscamos parcerias como a da rede Ipiranga. Pagando com o app abastece-aí, o motorista parceiro da Uber tem direito a 4% de cashback sem que, para isso, precise gastar nenhum dos pontos do programa KM de Vantagens. Isso significa que, além de receber de volta parte do valor gasto, o parceiro ainda acumula mais pontos que pode usar, por exemplo, em trocas de óleo. Com o Uber Pro, os parceiros ainda têm acesso à Vale Saúde Sempre, que dá descontos na rede particular de saúde e na compra de remédios e também o Uber Chip, o plano pré-pago da Surf Telecom com preços especiais e que não desconta dados no uso de apps como Uber Driver, Waze e WhatsApp.”

Tempo de espera é reflexo de alta demanda, diz Amobitec

Procurada pelo Tecnoblog, a Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) afirmou que as empresas associadas, dentre elas, a Uber, não têm verificado redução no número de motoristas parceiros ativos. A entidade disse ainda que o que tem provocado maior tempo de espera, em algumas cidades, é o aumento exponencial na demanda por corridas.

“Desde o início da pandemia, diversas pesquisas vêm apontando que as pessoas têm preferido usar aplicativos de mobilidade em seus deslocamentos, por considerarem uma opção mais prática e segura em relação a outros modais com maior aglomeração de pessoas. Esse cenário de alta demanda vem se intensificando ainda mais nos últimos meses, com o avanço da vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades”.

A associação explicou à reportagem que apesar de cada empresa ter sua política própria sobre ganhos de motoristas parceiros, o tema leva em conta uma série de fatores, como a distância total percorrida, o tempo necessário para os deslocamentos, incluindo as condições de trânsito e congestionamentos, e a demanda por viagens no horário e local específicos.

“É importante frisar que, por conta da flexibilidade de atuação nos aplicativos, os ganhos de cada parceiro são muito particulares e variam conforme escolhas pessoais relacionadas aos dias, locais e horários que preferem dirigir, o modelo de veículo utilizado, o tipo de combustível etc”, pondera a Amobitec.

A entidade ressalta ainda que quando um motorista rejeita repetidamente e intencionalmente as corridas, de modo que possa prejudicar a experiência dos demais membros das plataformas, eles podem sofrer penalidades.

Se você está enfrentando dificuldades com a Uber, saiba como fazer uma reclamação. Você também pode reclamar com a 99, caso encontre problemas para usar o serviço.

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Ana Marques

Ana Marques

Gerente de Conteúdo

Ana Marques é jornalista e cobre o universo de eletrônicos de consumo desde 2016. Já participou de eventos nacionais e internacionais da indústria de tecnologia a convite de empresas como Samsung, Motorola, LG e Xiaomi. Analisou celulares, tablets, fones de ouvido, notebooks e wearables, entre outros dispositivos. Ana entrou no Tecnoblog em 2020, como repórter, foi editora-assistente de Notícias e, em 2022, passou a integrar o time de estratégia do site, como Gerente de Conteúdo. Escreveu a coluna "Vida Digital" no site da revista Seleções (Reader's Digest). Trabalhou no TechTudo e no hub de conteúdo do Zoom/Buscapé.

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