Linus Torvalds diz que Android não viola GPL
"São totalmente falsas", diz líder do Linux sobre acusações contra sistema do Google.
"São totalmente falsas", diz líder do Linux sobre acusações contra sistema do Google.
Ao que tudo indica, a antiga guerra entre o software livre e as fabricantes de software proprietário está para recomeçar, mas dessa vez em outro campo de batalha: smartphones. E, para defender o Android do último ataque, o próprio Linus Torvalds resolveu entrar na briga, colocando um ponto final na discussão.
Para entender a história: na semana passada, alguns blogs e jornais noticiaram com pompa a informação de que o “Android estava para morrer”, pois violava a licença GPL. Tal violação, resumidamente, estaria na reprodução de algumas partes dos headers do Linux kernel, sob uma licença diferente da GPL. Como o Android usa o Bionic, e não o gblic, os desenvolvedores do Android acharam melhor remover comentários e outros extras desses headers, licenciado-o por meio de um documento mais permissivo que a GPL, o que permitiria a terceiros desenvolver e lançar programas que não estivessem sob a GPL.
Assim, enquanto o Kernel Linux é licenciado sob a GPL, o Kernel Linux usado no Android (que na verdade possui apenas algumas poucas definições) é licenciado pela licença BSD, bem menos “chata” que a GPL. O que, na cabeça de alguns “especialistas” (entre eles, Edward Naughton; guarde bem esse nome) seria uma clara violação da GPL, e que, portanto, ou o Android (e, por consequência, todos os aplicativos feitos para o iPhone) deveria também ter todo o seu código-fonte aberto, ou ele deveria morrer.
Pior: os mesmos “especialistas” afirmavam que, se nada fosse feito contra o Google, isso seria uma nítida prova de que a GPL possui “buracos” e que seria possível a partir daí criar sistemas proprietários baseados no Kernel Linux!
E, enquanto donos de iPhone corriam por todos os cantos balançando seus celulares e rindo dos donos de celulares com Android (a maioria deitada em posição fetal abraçadas ao celular e murmurando “por favor não pode ser verdade” repetidamente), algumas pessoas mais sensatas foram correr atrás de maiores informações, e inclusive perguntar para quem entende se é bem por aí mesmo.
É aí que entra Linus Torvalds, que foi bem claro sobre o assunto (tradução livre):
Essa afirmação parece ser totalmente falsa. Nós sempre deixamos claro que o interfaces que fazem chamadas ao kernel não necessariamente precisam ser licenciadas sob a GPL, e os detalhes do kernel são exportados para os headers para todas as interfaces do glibc também. (…) Ainda não olhei ao que exatamente o Google faz com os headers do kernel, mas não consigo enxergar o que eles podem ter feito que seja fundamentalmente diferente da glibc.
(…) Então eu não consigo entender todo esse mua-ha-ha em torno do assunto. Exceto se alguém está querendo chamar a atenção ou está politicamente motivado a fazê-lo. Se é pela necessidade gritante de chamar a atenção, eu sugiro que essas simplesmente devam liberar suas próprias fitas de sexo caseiro, o que seria melhor que levar o kernel Linux para seu mundinho sórdido.
Embora muitos possam achar que Linus pegou pesado ao chamar a mãe dos “especialistas” de coxinha, a verdade é que com um pouco mais de investigação o Groklaw descobriu algo fantástico: lembram do “especialista” Edward Naughton, de quem falamos anteriormente? Bem… Ele é um advogado que já trabalhou para a Microsoft em dezenas de casos, a maioria envolvendo casos de direitos autorais. E tudo indica que Edward teve um bom trabalho nas semanas que antecederam sua afirmação sobre a GPL, removendo da internet indícios de que já trabalhou para a Microsoft.
Estranho, não?
Para quem já convive com software livre desde 1998, nem tanto. Não é de hoje que empresas de software proprietário contratam “especialistas” para opinar contra o software livre, normalmente envolvendo a total perda de liberdade ao usar produtos sob uma licença como a GPL. A diferença, como já disse, é que agora não estamos mais falando de desktops, mas sim de smartphones. E, ao que tudo indica, essa briga continuará por muitos anos, e com muitas jogadas sujas.
Em resumo: dificilmente o Android violou a GPL em algum ponto, e seria quase impossível que ele simplesmente “morresse” de uma hora para outra por um problema desse tipo. Donos de smartphones com Android podem respirar aliviados.
Com informações: OSNews.