Conheça Cowbird, a Wikipedia para a vida
Ferramenta se dedica a contar boas histórias.
Ferramenta se dedica a contar boas histórias.
Se você é apreciador de conteúdo de qualidade, especialmente quando minerado a partir de startups com qualidade real e ótima atenção aos detalhes, pode ser que aquele seu desânimo com toda aquela bobagem interweb afora ganhe um novo fôlego e boas razões para manter a fé na internet.
Pessoalmente, vejo o Cowbird — projeto lançado essa semana pelo artista e engenheiro de internet Jonathan Harris — como uma daquelas coisas que me dá motivos para jamais perder o entusiasmo com a web. Ele combina fatores únicos quando procuramos separar bem o joio do trigo: texto, som, imagens, links, mapas, dedicatórias, linhas do tempo ou um misto de todos eles. E não, o Cowbird não está competindo com o Facebook ou o Tumblr, nem de longe…
Em suma, o projeto se resume em uma espécie pessoaclopédia onde são compartilhados relatos individuais e que são segmentados por tags. Quando contemplado mais em pormenor, dá para se perceber porque o Cowbird anda abocanhando reviews ultra-empáticos de veículos como o NYT, The Wall Street Journal, a revista Wired, o Mashable, o TechCrunch e diversos outros.
Trata-se de uma plataforma muito, mas muito bem feita, onde os seus membros — contadores de histórias convidados — contribuem e distribuem seu próprio conteúdo, enriquecendo por meio de um agradável mix de mídias e em um ambiente bastante amigável para leitor.
O conteúdo do Cowbird não só desliza diante dos olhos, como também inspira e revigora pelo caráter pessoal e tão bem pensado, como projeto. A ideia é juntar os elementos mais comuns na composição de histórias aos recursos de tecnologia mais imediatamente disponíveis.
Segundo a definição dos seus próprios criadores, as histórias produzidas — quando são relevantes e interessantes para o resto dos internautas — acabam culminando em uma produção cooperada e resultam em grandes “sagas” ou registros importantes de um determinado evento ou momento, como por exemplo a coleção de 522 estórias que compõem o movimento Occupy por lá.
O resultado é uma constelação bastante peculiar dos olhares de cada internauta, produzidos com a sua visão pessoal e misturando-se às de outros ao redor de um tema qualquer, desenhando um retrato bastante atípico de percepções e idéias.
Do ponto de vista prático, o Cowbird define a si próprio como uma espécie de Wikipedia para a vida na qual, em vez de coletar informação de natureza canônica por parte de seus membros, ela coleta, organiza e redistribui suas experiências pessoais.
Além da ideia bacana, está o modo como o site funciona. A fusão de texto com imagens e áudio — como aquela de muitas das histórias legais existentes no acervo — levam o ato de blogar e também de consumir informação e arte para um nível bem diferente.
Sob este prisma o Cowbird nem pode ser considerado uma rede social, mas um ambiente comum que desacelera e compartimentaliza o ritmo das redes sociais para uma experiência mais individual. Ele também não é uma ferramenta co-social de conteúdo, como o bacana Storify. Uma vez que o projeto não foca em preferências, mas sim em experiências, o Cowbird acaba por produzir uma grande costura de histórias interessantes que se organizam de maneira não-linear e não-cronológica também; o que o separa nitidamente da categoria de diários ou pura e simplesmente de blogagem.
Até a escolha do nome é bem humorada, uma vez que os cowbirds são passarinhos bem diferentes daqueles que piam em todo canto (uma referência em rebate ao Twitter?) e são conhecidos por serem oportunistas e até meio que “forçosamente” sociais, pondo seus ovos nos ninhos de outras aves. Quando seus ovos são removidos do ninho, eles voltam ao mesmo lugar e detonam os outros ovos do hospedeiro também. Algo como “share or die”, se formos filosofar muito a respeito…
O fato é que o site é incrivelmente atraente e apesar de uma quantidade não muito grande de usuários (12.580 membros até o momento desta matéria), se as previsões de todos os grandes portais e especialistas de internet estiverem corretas, serão projetos com a mesma pegada que a do Cowbird que irão gerir o modo como registramos a nossa opinião de maneira um pouco mais consistente e também como damos testemunhos relevantes sobre o nosso tempo.
E em uma época em que o talento para se separar de todo o lixo é na realidade uma ferramenta de sobrevivência online, pequenas preciosidades honestas e bem-feitas são mais que um mero achado.
São também muito bem-vindas.
Leia | Como funciona a Wikipédia