Arm, a empresa da qual todos precisam

Prestes a abrir capital, a Arm pode levar competidores históricos a colocar suas diferenças de lado e se unirem

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 11 meses
Arm, a empresa da qual todos precisam (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
Arm, a empresa da qual todos precisam (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

É muito provável que você tenha um celular ou tablet. Talvez até esteja lendo estas palavras na tela de um desses dispositivos. Sendo esse o caso, você é uma das muitas pessoas no planeta que se beneficia dos serviços da Arm. O mesmo vale caso você esteja acessando o Tecnoblog a partir de um Mac com M1, o processador que deixa para trás toda a concorrência. Por trás da poderosa linha Apple Silicon, é a tecnologia da Arm que faz tudo funcionar.

Mesmo não tendo um nome tão forte quanto outras empresas de semicondutores, como Intel, Qualcomm e MediaTek, a Arm é hoje um dos players mais importantes nesse mercado. O que ela entrega, nenhum concorrente consegue igualar. Companhias globais dependem de sua tecnologia. Alternativas já foram testadas, e falharam. A Arm não tem um competidor em seu encalço.

Não é estranho, portanto, que o mercado esteja atento aos rumos dessa empresa de chips sediada na Inglaterra. O que acontece com a Arm pode impactar toda a indústria, razão pela qual a ideia de que ela seja absorvida por algum outro player é vista com temor por seus clientes. Não é de hoje que o destino da Arm tira o sono de muitos CEOs mundo afora.

Uma empresa de chips que não fabrica chips

A Arm oferece um tipo de arquitetura para chips. Ela não os produz, mas licencia os designs e conjuntos de instruções que os fazem funcionar. Outras empresas cuidarão da fabricação, e podem utilizar o material licenciado para criar produtos adequados às suas necessidades.

O M1 é atualmente o processador Arm mais conhecido nos computadores, mas é nos dispositivos móveis que essa arquitetura brilha. Diferente da x86, da Intel, pensada para PCs e outros dispositivos que precisam de desempenho, a Arm foca desde sua origem em aparelhos menores. Neles, o que conta é a eficiência e velocidade.

Isso tem a ver com a forma como chips Arm seguem instruções. Enquanto um processador x86 resolve uma determinada tarefa em três passos, o Arm pode precisar de dez e ainda assim ser mais rápido. Podemos apelar para Emerson Alecrim, cientista da computação e autor aqui do Tecnoblog, para explicar essa aparente contradição.

“O x86 é como se fosse um caminhão que, independente da tarefa, vai usar bastante potência, e a Arm vai fazê-la com um pouco menos de complexidade. E, se houver uma complexidade notável, ela vai fazê-la em mais passos, mas como cada passo é simples, ela consegue fazer isso de maneira rápida.”

Emerson Alecrim

Esse é o tipo de eficiência que os dispositivos móveis precisam, e é isto que a Arm entrega. Daí sua posição estratégica num mercado extremamente competitivo, licenciando chips para os principais players do ramo dos semicondutores.

E se todo mundo tivesse um pedacinho da Arm?

Em 2020, a Nvidia tentou adquirir a Arm. Seria um processo difícil, sujeito à análise de vários órgãos antitruste ao redor do mundo, mas a empresa parecia muito certa do que queria. O problema é que ninguém gostou da ideia.

A Qualcomm, uma das principais parceiras da Arm, se opôs formalmente. Google e Microsoft também, embora apenas nos bastidores. O receio era que a Nvidia se tornasse um competidor muito poderoso ao absorver uma empresa tão fundamental para o mercado como um todo. A Huawei também apresentou sua objeção, apontando o fato da Nvidia ser uma empresa americana, e, portanto, contrária aos interesses chineses.

A pressão foi tanta, incluindo aí os órgãos antitruste, que a Nvidia desistiu da jogada. Todos os parceiros da Arm comemoraram, afinal, ela não teria mais um controlador único, capaz de mudar radicalmente sua direção. Porém, agora a Arm está para se tornar uma empresa de capital aberto. O que levanta novos temores.

E se houver uma aquisição hostil, como no caso da compra do Twitter por Elon Musk? Como se prevenir desse cenário?

Se depender de Qualcomm, Intel e SK Hynix, a solução é deixar a competição de lado e se unir para comprar ações da Arm. Formar um consórcio e tornar a empresa de chips um ente oficialmente neutro.

Se a ideia funcionar, seria algo sem precedentes na indústria de tecnologia. E apenas consolidaria o lugar central ocupado pela Arm, a empresa da qual todos precisam.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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