Intel teve ano caótico, com saída de CEO e esperança com placa de vídeo

Gigante dos chips entrou em uma das piores crises financeiras da sua história. Cerca de 15 mil funcionários foram demitidos.

Felipe Freitas

Crise financeira, término de um relacionamento de anos, muitas falhas, e um mínimo de esperança. Pode parecer a retrospectiva de alguma pessoa com um ano difícil, mas na realidade se trata do resumo do que a gigante da tecnologia Intel passou em 2024. A empresa enfrentou alguns de seus piores momentos, mas viu a esperança reacender num dos segmentos mais promissores: o de placas gráficas, as famosas GPUs.

Uma crise sem precedentes

2024 marcou uma das piores (talvez a pior) crises financeiras da Intel. A empresa do lado azul da força fechou o terceiro trimestre do ano no vermelho, com prejuízo de US$ 16,6 bilhões (R$ 99 bilhões), o maior da sua história. No primeiro trimestre do ano, as perdas foram de US$ 2,8 bilhões (R$ 17,2 bilhões).

Parte dessa crise vem do investimento da Intel em novas fábricas de chips da Intel Foundry, sua divisão que concorre com a TSMC. A expectativa da empresa era de receber um contrato volumoso de produção, o que não ocorreu. Por sorte, a Intel tem um contrato com militares dos Estados Unidos avaliado em US$ 11,5 bilhões (R$ 71 bilhões), o que ajuda nas contas, mas não faz milagre.

Para salvar de fato as finanças da empresa, o CEO Pat Gelsinger (falaremos mais dele adiante) fez o arroz com feijão das grandes companhias: passaralho e corte de gastos. Foram 15 mil demissões em agosto. A meta é economizar US$ 10 bilhões no próximo ano.

Há ainda a possibilidade de vender a Intel Foundry, já que, das fabricantes de chips, apenas a Intel e a Samsung possuem fábricas próprias. Todas as demais (como AMD, Apple, Qualcomm e Nvidia) terceirizam essa parte, normalmente com a TSMC.

CEO Pat Gelsinger sai de cena

Aos 45 minutos do segundo tempo, a Intel anunciou a aposentadoria de Pat Gelsinger. O ex-CEO entrou na empresa aos 18 anos, passou por diversos cargos, liderou o desenvolvimento dos chips 80486, virou diretor de tecnologia (CTO) e vice-presidente antes de sair em 2009 para virar CEO da VMWare. Ele retornou em 2021 para assumir o cargo de CEO da velha casa.

Foi sob o comando dele que a empresa chegou à crise atual. Aliás, um dos motivos para a aposentadoria seria tentar recuperar a confiança dos investidores. E tal qual ocorre no futebol brasileiro, a demissão de um treinador dá certa esperança para a torcida.

Enquanto as rivais investiam na produção de hardware para IAs generativas (vide a Nvidia, que chegou a valer US$ 3 trilhões), Pat Gelsinger apostou nas foundries para fabricar chips para clientes. Ele pode ter percebido o sucesso da TSMC e o contrato bilionário com a Apple, mas o resultado foram fábricas paradas.

Ironicamente, a Intel teve a oportunidade de adquirir 15% das ações da OpenAI por US$ 1 bilhão. A proposta foi realizada em 2018, mas o então CEO Bob Swam não acreditou que IAs generativas se popularizariam tão rápido. Gelsinger dobrou a aposta.

O chip da tela azul da morte

Em meados de 2024, os processadores Intel Core de 13ª e 14ª geração causaram problemas aos usuários. Uma falha no controle de tensão causava uma instabilidade, que por sua vez gerava travamentos, reinicializações ou até a infame tela azul da morte.

Os relatos deste problema começaram ainda no fim de 2022 e foram aumentando no decorrer de 2024.

No início, acreditava-se que apenas os modelos Core i7 e Core i9, os mais potentes, sofriam da falha. Contudo, a Intel reconheceu que o problema poderia ocorrer em qualquer processador com TDP de pelo menos 65 W.

Para piorar, o patch de correção só funciona em chips que ainda não passaram pelo problema. Os clientes que passaram pela pane teriam, portanto, de pedir a troca do componente. A Intel se negou a fazer um recall e a recolher os chips das lojas.

Intel Arc fecha ano com ótimas notícias

Depois de tanta desgraça, a Intel termina o ano com o lançamento das placas de vídeo Arc B580 e B570. A segunda geração (e possivelmente última) de GPUs recebeu ótimas análises da mídia especializada, em especial pela estreia da B580, criada para competir com a Nvidia RTX 4060.

A Intel Arc B580 chegou com desempenho que supera a RTX 4060 em alguns cenários, o que é ótimo para a Intel. Assim como a Nvidia RTX 4060 e a AMD Radeon RX 7600, a GPU do lado azul da força atende ao público que busca um hardware para rodar games em Full HD e, dependendo das configurações, também em Quad HD.

Para os consumidores internacionais, o destaque é o preço: a GPU da Intel sai por US$ 249 nos Estados Unidos – US$ 50 a menos que a rival da Nvidia e US$ 20 a menos que a Radeon RX 7600. Ainda não se sabe quanto o produto vai custar no Brasil.


Com os problemas financeiros de 2024, rumores apontam que a Intel pode reduzir investimentos em algumas divisões. Ainda que a Arc B580 seja uma baita GPU, o segmento não é muito lucrativo para a empresa. Assim, faria mais sentido investir em mercados mais garantidos, como o de processadores para consumidores e servidores.

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.