iPhone e games – um ano depois
Há algum tempo enumerei os motivos pelos quais, em minha humilde opinião, o iPhone é uma excelente plataforma móvel pra jogos – convergência, portabilidade, miríade de jogos a preços acessíveis, entre outros. E os donos do aparelho (ou do seu irmão mais esbelto, o iPod Touch) que se aventuram na seção de jogos da AppStore parecem concordar comigo no ponto de que, apesar de algumas desvantagens, o aparelho preenche bem a lacuna de console portátil.
Naturalmente, ainda há uma imensa rejeição por parte dos gamers mais hardcore à idéia de considerar um iPhone como um competidor “de verdade” na batalha pela hegemonia da jogatina de bolso. Há os que esboçam análises elaboradas para justificar a antipatia, e há os que rejeitam a premissa logo de cara. Posso estar enganado, mas sempre imaginei que a interseção entre este último grupo e os que cultivam desprezo pela Apple é grande.
Nenhum lado dessa discussão estava necessariamente “certo”, no entanto – eu apenas ecoava a voz dos milhões de gamers que se satisfazem com as capacidades “videogamicas” dos seus iPhones, e do outro lado havia aqueles para os quais a ideia não é atraente. Ninguém está certo ou errado, e ninguém precisa justificar uma opinião – eu gosto, você não gosta (ou vice-versa). Fazer o que, né? A discussão é meio abstrata. Ou, em termos mais comuns, “não vai a lugar nenhum”.
Bom, a discussão era abstrada. Nesta semana foram divulgados números interessantes sobre a aceitação do iPhone como console portátil, e que nos permitem especular sobre o futuro da plataforma nesse mercado.
Os números acima comparam a renda gasta em games nos Estados Unidos – e convenhamos, quando o assunto é game, o que rola nos EUA define o mercado e se reflete globalmente. Em 2008, 75% de toda grana gasta em games de bolso ia para os cofres da Big N. O PSP ficava num distante segundo lugar, com 20% da fatia. O recém-chegado iPhone (a AppStore foi lançada naquele ano, portanto era sua estreia como “console”) amargava a lanterna com míseros 5%.
De lá para cá, eu e muitos outros gastamos nosso fôlego e dedos pregando a respeito do potencial do iPhone como console portátil, explicando que as desvantagens não pesam mais que as vantagens da plataforma, e que a convergência do aparelho poderá mudar a forma como jogamos portatilmente.
Um ano se passou, e até mesmo os defensores mais otimistas do aparelho se surpreenderam com o efeito que ele teve sobre o cenário gamer. Grandes nomes da indústria como Mark Rein, John Romero e John Carmack saíram em defesa do (e em desenvolvimento de jogos para o) iPhone. No caso do Carmack, chegou até mesmo a falar inequivocamente “o iPhone é melhor que consoles portáteis dedicados”. A Game Developers Conference reconheceu o aparelho este ano e teve eventos com empresas e desenvolvedores da AppStore. Grandes estúdios como Konami, Capcom, Activision, Sega, PopCap e até mesmo a gigante EA, ao contrário de desconsiderar o iPhone, marcaram presença forte no desenvolvimento de ótimos jogos pra plataforma.
E o resultado é o gráfico da direita na imagem acima. O dinheiro gasto em jogos do Nintendo DS caiu em 5%, e de PSP em 9%. Lucros gerados por vendas de joguinhos na AppStore subiram precisamente 14%. Ou seja, o iPhone devorou uma considerável fatia do mercado de ambas competidoras. Em um ano. Com hardware, alguns argumentam, que sequer é apropriado para games, apra começo de conversa.
Só para fins de comparação, o N-Gage (que nasceu desde o começo como um híbrido de celular e videogame) teve míseros 58 jogos lançados, e vendeu 3 milhões de unidades. Em contraste, a AppStore tem 25.400 games, e mais de 42 milhões de iPhones foram vendidos. O mercado gamer atingido pelo celular não tem paralelo.
A conclusão que cheguei é que foi-se o argumento chavão de que “o mercado de iPhones, DSs e PSPs é distinto, não há comparação”. O mercado está mostrando nitidamente que a diferença não é tão grande quanto se imaginava, e que um dono de iPhone que tenha outro console portátil acaba comprando mais games na AppStore do que na loja local.
Aquele papinho lugar-comum de que “o iPhone NUNCA desafiará o estabelecimento convencional do console portátil, não tem botão, mimimi” agora está com as mãos atrás das costas, assobiando e olhando para o teto, fingindo que nunca falou nada.
E com o lançamento iminente do iPad, não podemos deixar de imaginar que talvez o domínio da Apple no mercado de games portáteis – algo em que ela entrou meio como quem não quer nada – está apenas começando. Não digam que eu não avisei…