Microsoft e Amazon suspendem reconhecimento facial para uso policial
As empresas esperam por uma regulamentação do reconhecimento facial nos Estados Unidos para evitar abusos de suas ferramentas
As empresas esperam por uma regulamentação do reconhecimento facial nos Estados Unidos para evitar abusos de suas ferramentas
A Microsoft e a Amazon informaram que vão suspender a venda de soluções de reconhecimento facial para o uso policial. Em seus anúncios, as empresas indicam que é preciso haver uma regulamentação em torno da tecnologia nos Estados Unidos para evitar que suas ferramentas contribuam com abusos policiais e violações de direitos humanos.
A decisão mais recente é da Microsoft, que indicou nesta quinta-feira (11) ao Washington Post que não oferecerá a solução para órgãos de segurança. “Não venderemos tecnologia de reconhecimento facial para departamentos de polícia dos EUA até que tenhamos uma lei nacional em vigor”, afirmou o presidente da Microsoft, Brad Smith.
“O principal ponto para nós é proteger os direitos humanos das pessoas conforme essa tecnologia é implementada”, continou. O executivo destacou que, até o momento, a Microsoft não vendeu a sua solução de reconhecimento facial para nenhuma autoridade.
A Amazon, por sua vez, suspenderá por um ano o uso policial de sua ferramenta de reconhecimento facial. A Rekognition, como é chamada, serve para realizar análises faciais em fotos e vídeos. Segundo a empresa, ela é capaz de “detectar, analisar e comparar rostos” em várias situações, como “verificação de usuários, contagem de pessoas e segurança pública”.
Em seu comunicado, a empresa destaca que o Rekognition ainda poderá ser usado por organizações que ajudam a resgatar vítimas de tráfico de pessoas e a encontrar crianças desaparecidas. Para as demais finalidades, a empresa espera uma regulação mais definitiva do Congresso dos EUA para aprimorar a ferramenta.
“Defendemos que os governos implementem regulamentações mais rígidas para conduzir o uso ético do reconhecimento facial na tecnologia e, nos últimos dias, o Congresso parece pronto para enfrentar esse desafio”, diz a nota divulgada na quarta-feira (10). “Esperamos que essa moratória de um ano dê tempo ao Congresso para implementar regras apropriadas e estamos prontos para ajudar se solicitados”.
A decisão de interromper o uso policial de ferramentas de reconhecimento facial acontece após críticas de movimentos civis sobre o viés racial dessa tecnologia. A pauta voltou à tona com as mais recentes manifestações do movimento Black Lives Matter, que ocupa as ruas dos Estados Unidos desde o assassinato do cidadão negro George Floyd por um policial de Minneapolis.
Em 2019, pesquisadores do MIT Media Lab e da Universidade de Toronto indicaram em números o viés racial do Rekognition. O estudo apontou que a ferramenta pode confundir mulheres negras com homens negros. Nos testes de análise facial, ela teve 92,9% de precisão com mulheres brancas e 68,6%, com mulheres negras.
O estudo fez a polícia de Orlando, nos EUA, deixar de usar a solução da Amazon. À época, apesar de pedidos para suspender a venda da ferramenta, a empresa não realizou nenhuma mudança. A nova decisão gerou reação entre entidades como a União Americana das Liberdades Civis (ACLU), que aponta os riscos do reconhecimento facial para a comunidade afro-americana.
“A tecnologia de reconhecimento facial oferece aos governos o poder de nos espionar onde quer que vamos. Isso alimenta o abuso policial. Esses perigos não desaparecerão em um ano”, afirma a organização. “A Amazon deve se comprometer com uma parada total de suas vendas de reconhecimento facial até que os perigos possam ser totalmente resolvidos”.
A IBM também anunciou que não venderá ferramentas de reconhecimento facial com fins de vigilância em massa. Em carta ao Congresso publicada na segunda-feira (8), a empresa indicou que não oferecerá tecnologias para a criação de perfis raciais, violações de direitos humanos e liberdades básicas ou qualquer finalidade que não seja condizente com seus valores.
A companhia citou George Floyd, Ahmaud Arbery e Breonna Taylor, todos mortos por policiais, para defender a reforma das polícias e o uso responsável da tecnologia. “Acreditamos que agora é a hora de iniciar um diálogo nacional sobre se e como a tecnologia de reconhecimento facial deve ser empregada pelas agências policiais nacionais”, afirmou o CEO da IBM, Arvind Krishna.
Com informações: Mashable, The Next Web.