Adobe vai espiar o que você faz e levanta suspeitas sobre treinamento de IAs

Empresa atualizou termos de uso e exige que usuários concordem com a possibilidade de seus trabalhos serem “revisados” pela Adobe

Felipe Freitas
Por
Adobe Photoshop (Imagem: Szabo Viktor/ Unsplash)
Novos termos de uso da Adobe informam que a empresa poderá acessar e revisar o conteúdo criado em seus apps (Imagem: Szabo Viktor/ Unsplash)

A Adobe atualizou os termos de uso de seus serviços e agora ela poderá acessar os conteúdos criados em seus apps. Os seus clientes ficaram indignados com a novidade, principalmente porque é especulado que a Adobe pode usar o material para treinar sua IA. A revolta acontece ainda porque você não pode desinstalar ou cancelar os programas sem aceitar os termos.

Nas novas políticas de uso, a Adobe informa que poderá acessar o conteúdo do usuário por métodos manuais ou automatizados para revisar o material. No tópico 2.2, a empresa diz que precisa acessar o conteúdo (seja em áudio, vídeo ou imagem) para responder feedbacks, suporte e outras atividades ligadas à segurança e aos termos de uso.

(Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Novos termos de uso da Adobe falam de usar machine learning para melhorar experiência (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Porém, na parte final, ela diz que o conteúdo será analisado usando machine learning. Aqui é o ponto no qual os usuários passam a questionar se isso será usado para treinar a Firefly, IA generativa da Adobe.

O artigo 4.2 reforça essa suspeita. Nessa seção, a Adobe informa que, ao aceitar os termos, o usuário concorda em fornecer uma licença para que ela utilize o material produzido para publicidade e praticamente usar no que quiser — atenção para o “criar trabalhos derivados”.

“4.2 Somente com o propósito de operar ou melhorar os Serviços e o Software, você nos concede uma licença não exclusiva, mundial, livre de royalties e sublicenciável para usar, reproduzir, exibir publicamente, distribuir, modificar, criar trabalhos derivados, executar publicamente e traduzir o Conteúdo”

Além de todos os problemas sobre privacidade e direitos autorais, os termos de uso ainda geram problemas para quem trabalha em projetos sob embargos — os Non-Disclosure Agreement, acordo de não divulgação.

Por exemplo, uma empresa que está preparando o lançamento de um produto e o departamento de arte criou a imagem promocional. Contudo, a estreia será em uma data futura. A Adobe poderá acessar esse material antes mesmo do lançamento oficial.

Segundo Sam Santala, artista visual que foi ao X/Twitter reclamar do caso, ao tentar cancelar a assinatura, desinstalar um app ou falar com o suporte da Adobe, era obrigatório que ele aceitasse os termos de uso para seguir com essas ações.

Usuário da Adobe diz que não pode cancelar nem desintalar o Photoshop sem concordar com os termos (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
Usuário da Adobe diz que não pode cancelar nem desintalar o Photoshop sem concordar com os termos (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Empresas usando IA para monitorar telas

O caso do Adobe de “revisar” o conteúdo gerado em seus aplicativos lembra o Windows Recall. Anunciado em maio, o novo serviço da Microsoft monitora a tela para “ajudar o usuário” nas tarefas do computador. Todavia, o especialista em cibersegurança Kevin Beaumont afirma que o recurso tem falhas graves de segurança.

Recentemente, o jornalista Mark Gurman publicou que o iOS 18 trará uma atualização da Siri na qual ela será capaz de executar aplicativos e fazer outras tarefas via comando de voz. Isso não chega a ser um monitoramento de tela, mas assim como o Recall e o novo termo de uso da Adobe, fará com que um aplicativo tenha mais acesso ao seu dispositivo.

Com informações: Android Authority

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