ChatGPT já causa preocupações dentro do Google e do WeChat

Chatbot da OpenAI é vista como um possível substituto para o Google; Tencent suspende aplicações com ChatGPT no WeChat

Bruno Gall De Blasi
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Código em Python escrito pelo ChatGPT (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Código em Python escrito pelo ChatGPT (Imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

ChatGPT virou um dos novos fenômenos da internet. E não é para menos: o chatbot da OpenAI é capaz de manter diálogos de texto como se fosse, de fato, um humano. A solução de inteligência artificial (IA), no entanto, causou apreensão em grandes empresas de tecnologia, como o Google e a Tencent, dona do WeChat.

Parte das preocupações vieram de dentro do Google.

Afinal, o recurso é capaz de tecer conversas com tamanha simplicidade e eloquência, ainda que com limites pré-estabelecidos. Com todo esse potencial, a novidade pode dar respostas à perguntas que, geralmente, são feitas no buscador.

Não é à toa que já há quem se pergunte se isto poderá substituir o buscador em algum momento.

Conforme observado pela CNBC, já há funcionários com medo de isso se tornar realidade ao ponto de questionar executivos da empresa.

Alguns até consideraram a estreia do chatbot da OpenAI como uma “oportunidade perdida”.

Segundo a emissora americana, o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, e o chefe de inteligência artificial da empresa, Jeff Dean, não estão preocupados.

Mas já algumas figuras de peso do mercado, como a Morgan Stanley, que observam o contrário: estas ferramentas podem disputar o espaço que, hoje, é dominado pelo Google.

No entanto, tudo isso soa meio precipitado.

Logotipo do Google
Google (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

O ChatGPT pode substituir o Google?

Sim e não. Depende do ponto de vista.

Quando se fala em usabilidade, o ChatGPT parece ser uma abordagem mais natural do que o Google (buscador).

A ferramenta não precisa nem do uso do mouse ou de toques extras, além do teclado, para funcionar. Você só precisa perguntar o que quer e esperar pela resposta.

Se aplicar um bom sistema de reconhecimento de voz, a fricção fica ainda menor.

Esta proposta tem potencial de atrair muitas pessoas, especialmente os mais leigos, pois você literalmente só precisa conversar com a máquina. Também existe o fator da linguagem, já que o sistema fala com você como se fosse outra pessoa.

Mesmo assim, não são todas as informações que podem ser repassadas dessa maneira.

Chatbot precisou de mais palavras para fazer o que o Google faz com uma

Se você busca por algo mais complexo ou que não depende apenas da indexação dos resultados, o ChatGPT não seria a melhor alternativa. Especialmente se você está pesquisando um link específico: é mais fácil digitar o nome do site em uma caixa de busca do que digitar “qual é o endereço do Tecnoblog”, por exemplo.

Diria, inclusive, que é o comportamento mais esperado, porque é exatamente isso que quase todo mundo faz quando precisa entrar em algum site e não lembra o endereço de cabeça – ou apenas está com preguiça.

Fiz esse teste na manhã desta sexta-feira (16). Ao digitar “Tecnoblog”, o ChatGPT apenas fez um resumo sobre o site. Para obter o link de acesso, precisei pesquisar “qual é o endereço do Tecnoblog?”.

O mesmo aconteceu quando procurei pelo Facebook, Google, entre outros sites populares, usando as mesmas construções.

ChatGPT revela endereço do Tecnoblog ao ser questionado (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
ChatGPT revela endereço do Tecnoblog ao ser questionado (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

A ferramenta tem suas limitações e não esconde isso

O próprio chatbot me revelou suas limitações neste primeiro momento durante o meu teste. Quando perguntei “vai chover hoje?”, o sistema me informou o seguinte:

“Desculpe, mas eu não tenho informações atualizadas sobre o tempo. Como um modelo de linguagem treinado por OpenAI, eu não tenho acesso à Internet e meu conhecimento é limitado ao que foi treinado em mim até o final de 2021. Portanto, eu não posso prever o tempo atual ou fornecer informações sobre o tempo futuro.

Se você estiver procurando informações sobre o tempo atual, recomendo verificar sites de previsão do tempo ou aplicativos meteorológicos confiáveis. Eles podem fornecer informações precisas e atualizadas sobre o tempo atual e previsões para os dias seguintes.”

Tem outra questão em jogo: não é porque as respostas são convincentes que estão certas. Essa imprecisão do modelo de inteligência artificial já vem sendo exposta inclusive pela OpenAI.

ChatGPT explica como ir de São Paulo ao Rio de Janeiro (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)
ChatGPT explica como ir de São Paulo ao Rio de Janeiro (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Calma, tudo vai melhorar depois da Copa

É importante deixar claro que estou me baseando em uma perspectiva do presente. Como esses modelos de processamento de linguagem natural (NLP, na sigla em inglês) são treinados constantemente, tudo isso pode melhorar.

Mesmo assim, não é nada que o Google não consiga fazer e levar até mesmo ao buscador no futuro, especialmente com o LaMDA.

O sistema da OpenAI não está completo. Por mais que os testes sejam promissores, ainda não dá para tirar grandes conclusões.

O próprio CEO da empresa, Sam Altman, jogou um holofote sobre este problema no último dia 10:

“O ChatGPT é incrivelmente limitado, mas bom o suficiente em algumas coisas para criar uma impressão enganosa de grandeza”, advertiu. “É um erro confiar nele para qualquer coisa importante agora. É uma prévia do progresso; temos muito trabalho a fazer em robustez e veracidade.”

O ChatGPT também não faz piadas boas. Mas é meio grossinho:

Chatbot é restringido pelo WeChat

Enquanto as discussões sobre o futuro do Google pós-ChatGPT estão em andamento, a solução da OpenAI já não tem mais espaço em algumas plataformas.

De acordo com o Gizmochina, a Tencent bloqueou o acesso ao ChatGPT pelo WeChat.

A decisão veio à tona após o surgimento de aplicações que conectavam a plataforma ao chatbot. Através dela, os usuários poderiam conversar com o sistema de inteligência artificial sem sair do mensageiro. Os motivos da suspensão, no entanto, não foram revelados.

Mas acredita-se que a decisão foi tomada devido à imprecisão do chatbot.

Vale lembrar que este não foi o primeiro “revés” do sistema. Recentemente, o Stack Overflow proibiu respostas geradas pelo ChatGPT.

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Bruno Gall De Blasi

Bruno Gall De Blasi

Ex-autor

Bruno Gall De Blasi é jornalista e cobre tecnologia desde 2016. Sua paixão pelo assunto começou ainda na infância, quando descobriu "acidentalmente" que "FORMAT C:" apagava tudo. Antes de seguir carreira em comunicação, fez Ensino Médio Técnico em Mecatrônica com o sonho de virar engenheiro. Escreveu para o TechTudo e iHelpBR. No Tecnoblog, atuou como autor entre 2020 e 2023.

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