Correios dizem que brasileiros vão arcar com custos da privatização

Presidente dos Correios diz que apenas parte lucrativa da estatal irá para iniciativa privada; deputados querem dificultar privatização

Felipe Ventura
• Atualizado há 3 anos
Você consegue rastrear encomendas internacionais pelos Correios (Foto: Correios/Divulgação)

Os Correios levantaram mais uma crítica ao projeto de privatização: o general Juarez Aparecido Cunha, presidente da estatal, diz que apenas a parte lucrativa da empresa irá para a iniciativa privada, e os brasileiros terão que arcar com os custos do que restar. Alguns deputados querem dificultar a venda, mas os estudos de viabilidade já receberam “sinal verde” de Bolsonaro.

Em audiência na Câmara dos Deputados, o general Cunha explicou que o resultado financeiro dos Correios é concentrado em poucas cidades. Em 2018, 92% dos lucros vieram das atividades em 324 municípios, correspondendo a um total de R$ 6,71 bilhões. Enquanto isso, os outros 5.246 municípios respondem por um prejuízo de R$ 6,54 bilhões.

O lucro dos Correios vem principalmente do serviço de entrega de encomendas, enquanto a entrega de correspondências é deficitária — ou seja, gera mais gastos que faturamento. “O Estado brasileiro ou o cidadão brasileiro que paga impostos vão pagar a conta dos demais municípios”, disse Cunha, de acordo com o TeleSíntese.

É possível privatizar e manter serviço postal, diz governo

Fábio Abrahão, assessor da Secretaria de Desestatização do Ministério da Economia, sugere que é possível chegar a um meio-termo. “A gente acredita que é possível manter o serviço postal, manter a universalização, e o mais importante, resolver esses déficits gigantescos que foram abertos”, ele disse em audiência na Câmara.

O assessor também apontou outro problema nos Correios: o rombo no Postalis, fundo de pensão dos servidores, e no plano de saúde. “A quantidade de escândalos que envolve o Postalis é enorme. A gente está falando de R$ 11,5 bilhões. O desconto em folha de funcionários é de 27%, de quem já está aposentado, R$ 4 bilhões do plano de saúde deles. Quem que vai resolver isso?”

Os Correios tiveram lucro de R$ 161 milhões em 2018 e R$ 667,3 milhões em 2017, mas sofreram perdas de R$ 5 bilhões nos dois anos anteriores. Para evitar novos prejuízos, a empresa está enxugando custos.

A estatal vai demitir 7,3 mil servidores através de um PDV (programa de demissão voluntária) e fechar 161 agências até julho — confira a lista aqui. Ela diz que “o atendimento será absorvido por outras agências próximas, sem prejuízo da continuidade e da oferta de serviços e produtos”.

Projetos de lei querem dificultar privatização dos Correios

Alguns deputados se manifestaram contra a privatização dos Correios. Há dois projetos de lei tramitando na Câmara sobre o assunto: um deles exige que serviços postais dos Correios sejam prestados por órgãos públicos federais (fidelização); o outro cria o FUSP, Fundo de Universalização dos Serviços Postais, para financiar a estatal.

O deputado Leonardo Monteiro (PT-MG), contrário à privatização, disse na audiência da Câmara: “os projetos da fidelização e do FUSP sem dúvida garantem a viabilidade econômica, financeira e social dos Correios… aprovando essas leis, sem dúvida nenhuma vamos estar garantindo a viabilidade dos Correios, sem necessidade de privatizar”.

O assessor Fábio Abrahão deu um argumento contrário: “vocês são contra a privatização, mas boa parte das operações dos Correios hoje são privatizadas; cerca de 60% das atividades da empresa são feitas por franquias”.

Os deputados presentes na audiência desta quarta-feira (5) vão pedir que o presidente da Câmara vote com urgência os projetos de lei PL 7638/17 (fidelização) e PL 1368/19 (FUSP).

Com informações: TeleSíntese, Agência Câmara.

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Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.