Motorola sonha em ser (de novo) a número um do Brasil
Rodrigo Vidigal comemora 200 milhões de unidades vendidas ao longo de uma década de Moto G. Empresa agora aposta alto no segmento superpremium.
Rodrigo Vidigal comemora 200 milhões de unidades vendidas ao longo de uma década de Moto G. Empresa agora aposta alto no segmento superpremium.
O novo presidente da Motorola no Brasil, Rodrigo Vidigal, tem uma ambição gigantesca ao celebrar os dez anos e os 200 milhões de unidades de Moto G: alcançar a liderança do mercado brasileiro de smartphones. Já foi assim no passado, nos tempos áureos do início da telefonia por aqui. Para tanto, bastaria superar a Samsung, que sozinha representa metade das vendas de telefones.
A empresa aposta alto num segmento muito distinto do intermediário, em que o Moto G ainda tem seu destaque. Ela foca agora na linha Edge e nos dobráveis da linha Razr, que ganham importância nos esforços de marketing. São eles que aparecem em comerciais na TV e nas posições mais privilegiadas das vitrines das lojas.
Quais são os planos para o Brasil, que figura entre os três países mais importantes para empresa? Você confere na entrevista a seguir, concedida por Vidigal durante visita à fábrica da marca em Jaguariúna, no interior de São Paulo. O material foi editado para fins de clareza e brevidade.
Thássius Veloso (Tecnoblog) – Como vocês pretendem chegar na liderança?
Rodrigo Vidigal (Motorola) – Eu preciso ser número um na cabeça do consumidor. Este é o nosso principal ponto, até porque já somos muito sólidos no segmento intermediário. Os usuários de Moto G já compraram três, quatro modelos dessa linha. A recompra é muito forte.
Não somos tão fortes no segmento superpremium. Ficamos muito tempo fora deste mercado. O Razr deu um primeiro passo, mas vimos que precisamos ir além da ficha técnica. Vimos que o consumidor tem um desejo por status, além dessa questão de specs. Temos que trabalhar a nossa marca, o desejo, buscar um design melhor, criar uma experiência.
Quais os exemplos dessa visão sendo posta em prática?
O Motorola Edge 30 Ultra nos colocou num novo patamar porque tem uma excelente ficha técnica e ainda é bonito. Faltava na Motorola um produto que despertasse o desejo pela marca. Quando o consumidor coloca este aparelho sobre a mesa, quem está em volta elogia o design.
Em maio lançamos a nova campanha do Motorola Razr 40 com a Gloria Groove. Foi um comercial que também chacoalhou o mercado por ter uma abordagem muito leve e jovem. A consideração do consumidor cresceu.
De quanto para quanto?
As pesquisas mostram que 49% dos consumidores consideravam a marca Motorola na hora de escolher o próximo smartphone superpremium. Agora está em 73%. Vamos continuar trabalhando para crescer isso.
Eu escrevi recentemente um artigo sobre a guerra dos dobráveis, e nele mencionava tanto a Motorola quanto a Samsung. Quem está ganhando?
Ainda é a Samsung em volume de vendas. Ela está há mais tempo com os dobráveis e tem uma distribuição mais ampla. A gente está crescendo, ganhando mercado. Estamos numa maratona e temos que dar um passo de cada vez. Eu até acho que ajuda ter duas marcas divulgando os celulares dobráveis. Mais pessoas acabam conhecendo essa tecnologia. Antes tinha uma preocupação sobre quantas vezes a tela iria dobrar. Isso passou.
Os telefones estão com telas cada vez maiores, o que cria o problema de ficar grande no bolso. O smartphone dobrável resolve de maneira fantástica essa questão. Você tem uma tela enorme que cabe confortavelmente na calça. Dificilmente quem tem um dobrável volta para o formato tradicional de barra.
Já ocorreu até o lançamento do Moto G200. Não tem aparelho demais?
A gente sempre teve uma estratégia de oferecer poucos produtos, mas que fossem vencedores nas suas faixas de preços. A falta de componentes na pandemia fez com que a gente mexesse nisso, porque se falta uma peça não tem como produzir o produto inteiro. Na pandemia tivemos que aumentar a quantidade de fornecedores, porque se um falhasse teria outro. Por isso tivemos G32, G42, G52, G22.
Lançamos um pouco mais para garantir que não iria faltar aparelho. Entendemos que hoje em dia está bem equacionado. Não adianta ter 15 modelos que entregam proposta de valor similar. Eu tenho que ter um produto realmente vencedor em cada faixa de preço. Estamos voltando para essa estratégia agora.
Existe um número ideal de lançamentos por ano?
A gente olha muito o tamanho do mercado por faixa de preço. Ele não é estático, se movimenta de acordo com o poder aquisitivo do brasileiro. Às vezes tem um momento que tá mais favorável, às vezes menos, e eu me adequo a isso. Eu não fico ali batendo na minha verdade e esqueço o mercado, pois eu não vou vencer dessa forma.
De modo geral, nós observamos seis faixas de preço, que vão desde o telefone de entrada até o superpremium. Buscamos popular nosso portfólio de acordo com o tamanho do mercado.
E aí vai subindo quanto? De R$ 200 em R$ 200? Eu pergunto isso porque uma vez um analista de mercado me falou que R$ 100 fazem a diferença.
Depende muito. É mais elástico do que isso, porém existem diversas variáveis. Resolveria a nossa vida se fosse só reduzir R$ 100. (risos) Isso é muito fácil de fazer.
Depende de uma série de fatores, como o posicionamento do produto, a distribuição, a percepção do cliente em relação à concorrência. Por exemplo, eu realmente tenho um diferencial em relação a outro produto similar na mesma faixa de preço? É muito mais complexo do que eu falar em diminuir R$ 100. (risos)
Os consumidores da Motorola trocam de telefone de quanto em quanto tempo?
Varia de acordo com o poder aquisitivo. Quanto maior ele for, mais vezes a pessoa troca de smartphone. Depende também de qual é a novidade mais recente, como é o caso dos dobráveis. No Brasil, a média fica ali entre um ano e oito meses a dois anos e meio. O consumidor de hoje conhece muito mais de tecnologia do que há cinco, dez anos. Ele já tem uma experiência de usar o telefone.
E qual é o maior desafio para convencer a clientela de que está na hora de trocar de aparelho?
Eu acho que a dificuldade principal que a gente atravessa hoje é crédito. O brasileiro tem o hábito de comprar parcelado e, por conta disso, às vezes não consegue arcar com os pagamentos. Isso faz com que ele não tenha crédito aprovado no futuro. Este é o maior problema do varejo no Brasil. Vale para TV, ar condicionado, geladeira.
O juro saltou de 2% ao ano para aproximadamente 13%. Isso é o que mais tem atrapalhado a economia como um todo. Nós estamos tento um grande esforço de viabilizar novas linhas de crédito, financiamento.
Mas pegue como exemplo o Itaú, que vende iPhone naquela mecânica de 21 pagamentos. A Motorola tem algo similar??
A gente já lançou programas assim…
Não deu certo?
Sendo muito sincero, este produto em oferta [o iPhone] tem uma base estabelecida. É um público muito bem fidelizado, com poder aquisitivo alto, que se interessa por esse tipo de programa. Nós ainda não estamos neste estágio. Temos que trabalhar para chegar lá.
Então no futuro pode ser que o Razr ganhe um programa assim?
Nós já fizemos no passado e vimos que é um programa em que muitas vezes o cliente acaba pagando mais caro do que se comprasse um telefone novo. Tivemos algumas reclamações. Hoje estamos buscando outros caminhos, como a parceria forte com as operadoras. Trabalhamos a divulgação dos nossos produtos em planos pós-pagos, na fidelização. E também em ofertas de upgrade que contemplam o trade in.
Vocês divulgaram que 60% do portfólio atual da Motorola no planeta têm tecnologia 5G. As pessoas chegam na loja pedindo 5G?
Chegam! Ano passado eu fui rodar durante a Black Friday e passei pelo Shopping Itaquera, em São Paulo. Entrei numa loja e percebi que os clientes perguntavam se tinha 5G. Eu pensava comigo mesmo: para usar onde? Mas eles querem 5G porque sabem que é mais doque o 4G. Assim como o 486 era superior ao 386 há 15 anos.
Mas um ano depois, a impressão que eu tenho é que deu uma uma esfriada por causa dessa percepção de que o 5G não tá 10 vezes mais veloz do que o 4G… por isso eu insisto neste tema.
Isso passa pelo serviço prestado pelas operadoras e nós não vamos comentar. Eu acho que o 4G se popularizou por causa dos aplicativos, como Waze e Uber. Isso revolucionou o mercado. Agora, com o 5G, as pessoas estão usando os mesmos aplicativos do 4G, que já estava com uma velocidade boa. Elas ainda não percebem a vantagem.
Vai levar um tempo até desenvolver aplicações que tirem proveito da latência praticamente zero, que agreguem mais tecnologia, serviços, opções. As pessoas vão perceber o benefício cada vez maior de aderir aos aparelhos com 5G.
Como concorrer com produtos importados no mercado cinza?
A gente concorre fazendo o nosso trabalho. Eu acho que você viu aqui o exemplo de uma empresa que aposta no país e que faz as coisas certas. Quem tem que olhar isso são os órgãos de segurança ou mesmo o governo, que tá perdendo arrecadação. Ou ainda o consumidor, que está comprando um produto sem garantia.
Mais cedo ou mais tarde as máscaras caem. Nós temos que fazer a nossa parte. A Abinee [associação do setor de eletrônicos] está buscando dar visibilidade ao tema. Nós a apoiamos integramente.
Não poderia deixar de falar sem perguntar de inteligência artificial. O que vem por aí?
A gente já tem muita coisa de inteligência artificial na câmera do celular ou na maneira de otimizar bateria. Isso vai aumentar de maneira exponencial. A evolução do hardware acompanha o software. A gente vai conseguir oferecer soluções mais personalizadas. Você vai ter um telefone que vai aprender com a sua necessidade e vai permitir que a gente desenvolva soluções que entreguem mais performance.
Thássius Veloso viajou para Jaguariúna (SP) a convite da Motorola