Facebook se recusa a enfraquecer criptografia para EUA, Reino Unido e Austrália

Facebook quer implantar criptografia de ponta a ponta em todos os aplicativos, mas governos fazem pressão contrária

Paulo Higa
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
WhatsApp

Autoridades dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália enviaram uma carta aberta ao Facebook em outubro pedindo que a empresa não prossiga com os planos de implantar criptografia de ponta a ponta em todos os aplicativos, porque manter as mensagens protegidas poderia causar “riscos à segurança nacional”. A resposta pública do Facebook aos apelos dos governos chegou e foi um previsível “não”.

Em um documento endereçado a ministros e secretários dos três países, o Facebook defende que enfraquecer a criptografia dos aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Facebook Messenger, apenas abriria portas para que as brechas fossem exploradas com fins maliciosos.

“Os especialistas em cibersegurança provaram repetidas vezes que, quando você enfraquece qualquer parte de um sistema criptografado, o enfraquece para qualquer um, em qualquer lugar (…) É simplesmente impossível criar um backdoor e não esperar que outros tentem explorá-lo”, diz a carta assinada por Will Cathcart e Stan Chudnovsky, vice-presidentes do WhatsApp e Facebook Messenger, respectivamente.

Backdoor seria “presente para criminosos”

Uma das solicitações dos governos é justamente a criação de um backdoor: eles querem que o Facebook permita a “aplicação da lei para obter acesso legal ao conteúdo em um formato legível e usável”. Em um sistema criptografado de ponta a ponta, apenas o remetente e o destinatário podem ler as mensagens trocadas — nem o WhatsApp, nem seu provedor e nem o governo conseguiriam acesso sem uma chave de criptografia válida, ou sem uma “falha” de segurança criada propositalmente.

Aos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, o Facebook afirma: “O acesso de ‘backdoor’ que vocês estão exigindo para a aplicação da lei seria um presente para criminosos, hackers e regimes repressivos, criando uma maneira de eles entrarem em nossos sistemas e deixarem todas as pessoas em nossas plataformas mais vulneráveis a danos na vida real”.

E como o Facebook pretende atender às preocupações de segurança? “A inteligência artificial agora nos permite detectar proativamente muitos tipos de conteúdo ruim no Facebook e Instagram antes mesmo que alguém o denuncie e, muitas vezes, antes que alguém o veja. O WhatsApp detecta e bane 2 milhões de contas todos os meses com base em padrões de abuso e verifica informações não criptografadas, como informações e perfil e grupo em busca de conteúdo abusivo, como imagens de exploração infantil”, dizem os executivos.

Não é a primeira vez que o Facebook sofreu pressão de governos para quebrar a criptografia de ponta a ponta dos aplicativos. No Brasil, uma proposta do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) pedia “meios de acesso e quebra de sigilo de troca de mensagens de membros de organizações criminosas pela internet, redes sociais ou aplicativos de mensagens, inclusive com a possibilidade de infiltração de agentes policiais”.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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