Por que o gás hélio faz iPhones pararem de funcionar?

iPhone e Apple Watch param de funcionar se ficam expostos ao gás hélio; problema não afeta celulares Android

Felipe Ventura
• Atualizado há 1 ano e 9 meses

Os iPhones têm uma vulnerabilidade curiosa: se ficarem expostos por algum tempo ao gás hélio, eles param de funcionar. O mesmo vale para o Apple Watch. Não é algo permanente, mas este problema não afeta celulares Android. O motivo: a Apple usa um gerador de clock que sofre interferência de partículas pequenas — como as moléculas do hélio.

Erik Wooldridge, especialista de sistemas no Morris Hospital (EUA), acabou descobrindo sem querer que o iPhone é “alérgico” ao gás hélio. Durante a instalação de uma máquina de ressonância magnética, diversos funcionários perceberam que seus celulares não ligavam mais.

Wooldridge escreve no Reddit: “meu pensamento imediato foi que a máquina de ressonância deve ter emitido algum tipo de pulso eletromagnético”. Só que isso teria afetado todos os dispositivos eletrônicos — os smartphones Android continuavam funcionando, por exemplo. O problema estava somente em unidades do iPhone e do Apple Watch, um total de 40 dispositivos.

Então, ele descobriu que ocorreu um vazamento de hélio para resfriar o ímã da máquina de ressonância. “Aproximadamente 120 litros de [hélio] líquido foram expelidos ao longo de 5 horas”, escreve Wooldridge. O gás se espalhou por todo o hospital.

Hélio afeta gerador de clock usado no iPhone

OK, mas por que isso acontece? O que o gás hélio tem a ver com iPhones? Como explica o iFixit, isso está relacionado ao mecanismo que gera o sinal de relógio (clock).

Cristal de quartzo encapsulado

Todo dispositivo eletrônico depende de um clock. Este sinal é usado para coordenar a atividade dos circuitos; sem ele, o processador simplesmente para de funcionar. Muitos computadores e celulares usam um oscilador de quartz como gerador de sinal: trata-se de um cristal que vibra a uma frequência específica (geralmente 32 kHz).

No entanto, o oscilador de quartz não é pequeno o bastante para os iPhones mais recentes, nem para o Apple Watch, ocupando uma área de 1 × 3 mm ou mais. Por isso, a Apple passou a usar osciladores de temporização em MEMS.

MEMS, ou sistema microeletromecânico, é uma tecnologia usada em dispositivos muito pequenos. Isso inclui sensores como acelerômetros e giroscópios, encontrados em celulares Android e nos iPhones.

No entanto, o gerador de sinal dos iPhones também é um MEMS. Trata-se do SiT512, feito pela americana SiTime, “o menor oscilador de 32 kHz de baixa potência do mundo”.

Oscilador MEMS

Todo MEMS precisa ser vedado para que partículas externas não interfiram em seu funcionamento. Porém, o lacre pode não impedir a entrada de gases como o hélio. A própria SiTime reconhece isso: alguns de seus componentes podem ser “impactados por altas concentrações de gases de moléculas pequenas” — o hélio se encaixa nessa descrição.

A Apple também avisa no manual do usuário, sem entrar em detalhes, que o hélio pode afetar os iPhones:

A exposição do iPhone a ambientes com altas concentrações de produtos químicos industriais, incluindo gases liquefeitos próximos à evaporação, como o hélio, pode danificar o iPhone ou prejudicar sua funcionalidade.

Wooldridge diz que, no hospital, foram afetados o iPhone 6 e superior e o Apple Watch Series 0 e superior. Estes dispositivos usam o oscilador SiT512, e as moléculas de hélio são pequenas o bastante para entrar e interferir em seu funcionamento mecânico. “Havia apenas um iPhone 5, que não foi impactado de forma alguma”, ele explica.

iPhones deixam de funcionar quando expostos a hélio

Para demonstrar a falha, o iFixit colocou um iPhone 8 dentro de um saco plástico cheio de hélio. Após 4 minutos e meio, ele parou de funcionar. O aparelho só voltou a responder aos comandos após 24 horas.

Wooldridge também fez um experimento semelhante. Ele colocou um iPhone 8 Plus em um saco lacrado e o encheu de hélio. Cerca de 8 minutos depois, o celular trava mas a tela permanece ligada. Claro, o vazamento no hospital teria gerado uma concentração de hélio muito menor, mas o vídeo mostra que o gás pode causar problemas em dispositivos da Apple.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.