Polêmico, fundador da Vero responde às críticas ao serviço
A Ascensão repentina da rede social Vero não veio isenta de críticas. Além de bugs nos apps e instabilidades causadas pelo grande volume de acessos, o serviço vem sendo alvo de desconfiança por ter como cofundador e CEO um bilionário filho de um falecido político libanês acusado de corrupção. Mas Ayman Hariri, como é chamado, deu uma entrevista ao Mashable para esclarecer alguns pontos.
O Tecnoblog fez um apanhado geral sobre a Vero aqui, mas, para recapitular, a rede social surgiu com os apelos de proporcionar conexões reais entre os usuários, sem manipulação do conteúdo por algoritmos, e não exibir anúncios publicitários. Em troca, o usuário terá que pagar uma “pequena taxa anual”, nas palavras da própria companhia, embora o valor ainda não tenha sido definido.
Chama atenção o fato de a Vero ter ficado conhecida de uma hora para outra. A empresa foi criada em 2015 e, no último fim de semana, passou a ter tantos acessos que os servidores estão até agora sobrecarregados. Além da não exibição de anúncios, há outro detalhe que pode ter contribuído para o hype: a Vero promete acesso gratuito para sempre ao primeiro milhão de usuários da plataforma — nesta quarta-feira (28), a empresa informou que, por conta dos problemas técnicos, um número maior de pessoas terá perfil grátis.
Mas por que alguém criaria mais uma rede social se só estamos dispostos a utilizar poucas delas? Hariri explicou que a ideia surgiu pautada em experiências pessoais: “por que nossos amigos estão agindo desse jeito quando online se eles são incrivelmente diferentes no mundo real?”
Outra motivação veio dos estudos sobre depressão impulsionada pelas redes sociais. No entendimento de Hariri, não deveria ser assim, afinal, as pessoas só querem se conectar às outras. Não é por acaso que um manifesto na página da Vero critica veementemente a manipulação por algoritmos das grandes redes sociais — uma “indireta bem direta” ao Facebook.
Olhando em profundidade, alguns usuários notaram aspectos que contradizem essa abordagem “do bem”, começando pelos termos de uso: com eles, a Vero assume o direito de utilizar o conteúdo do usuário como bem entender, incluindo nome e curtidas.
Questionado sobre esse aspecto, Hariri respondeu que o objetivo desses termos é simplesmente o de fazer o usuário permitir que a Vero exiba seu conteúdo dentro da rede social. Ele explicou ainda que os termos foram atualizados para ficar mais claros.
Entre as demais críticas estão a dificuldade de excluir uma conta — deficiência resolvida só recentemente — e a notória instabilidade na plataforma que será resolvida em breve, de acordo com a Vero.
Porém, o ponto mais crítico não está no serviço em si, mas no passado de Ayman Hariri. Ele é filho de Rafik Hariri, magnata que foi primeiro-ministro do Líbano de 1992 a 1998 e de 2000 a 2004. Em sua trajetória política, Rafik Hariri foi acusado diversas vezes de envolvimento em escândalos de corrupção.
O filho contestou: “qualquer pessoa que diz que meu pai era corrupto infelizmente está muito mal informado”. “Meu pai deu a vida pelo seu país e, quando obteve sucesso, poderia ter permanecido como um homem de negócios, mas ele decidiu fazer a diferença nesse país”, continuou. Rafik Hariri foi assassinado em 2005.
Bom, não é razoável associar as atividades do pai ao filho, certo? Só que o buraco é mais embaixo. Muito antes de se tornar primeiro-ministro, Rafik Hariri criou a Saudi Oger, uma gigante da construção civil. Ayman e seu irmão Saad Hariri assumiram o negócio depois da morte do pai.
A empresa acabou falindo em setembro de 2017 por má administração e deixou dívidas de mais de US$ 3,5 bilhões. A pior parte dessa história é que milhares de trabalhadores ficaram sem receber salários, boa parte deles de origem estrangeira. E aí surge a pergunta: dá para confiar em uma rede social “boazinha” vinda de alguém que permitiu isso?
Sobre a Saudi Oger, até agora, Ayman Hariri não fez nenhum comentário.