Review: iPhone 4S, o melhor iPhone que a Apple não quer que você compre
Com uma câmera de 8 megapixels, processador A5 e com um Siri incapacitado, o iPhone 4S chega ao Brasil. Ele vale a pena?
Ele chegou. Apenas alguns meses depois de ser lançado oficialmente nos EUA, o iPhone 4S desembarcou no Brasil na semana passada. Ele pode até parecer um pouco mais do mesmo, só que os componentes de hardware responsáveis por fazer com que ele funcione receberam um merecido upgrade, com foco principalmente no seu novo processador A5 e a câmera de 8 megapixels.
Só isso, você pergunta, é o suficiente para justificar sua compra? Ou existe algo realmente inovador que vai fazer dele uma boa escolha diante da concorrência? Passei uma semana brincando com o mais novo iPhone e por isso você confere logo abaixo as minhas impressões sobre o que ele tem de bom, o que não fede nem cheira e no que a Apple escorregou bonito.
Design
O iPhone 4S segue o mesmo design do iPhone 4, com algumas modificações que podem irritar quem tem uma case para o modelo anterior. Os botões de volume e a trava de modo silencioso estão um pouco acima de onde estavam antes, portanto nem toda a case vai servir. Ao redor dele, o contorno metálico que dá vida às antenas de 3G e WiFi também continua lá, dessa vez modificado para receber sinais tanto de redes GSM quanto de CDMA. O destaque aqui vai mesmo para o microfone ao lado do conector de fone de ouvido, que serviu para anular certos ruídos de chamadas e está presente desde o modelo anterior também.
Mesmo com esse design considerado genial, o iPhone 4S repete também os defeitos do design original e que provavelmente só vão mudar com a chegada do iPhone 5. O principal dele é ser o mais frágil dos iPhones, já que o aparelho tem dois enormes pedaços de vidro na frente e na traseira. Esse foi um dos motivos que me fez comprar uma proteção antes mesmo de de ter o celular em si: se ele cair e o vidro rachar, vou poder continuar usando-o sem risco de cortar o dedo. E é por isso que você vai ver uma fina película quase que invisível nas fotos deste review.
Fora isso, o antennagate, que existia em algumas regiões do planeta e especificamente no iPhone 4, parece ter sido solucionado aqui, já que o celular teve sua antena modificada e as modificações no iOS parecem ter ajudado. A empunhadura é boa e apesar da liga metálica da antena parecer um pouco escorregadia, ela garante um apoio firme na mão.
Um ótimo diferencial e que não vejo muitas fabricantes focando é o fato de que o design do iPhone 4S, assim como seu antecessor, permite que ele tenha a incrível, sensacional e indispensável habilidade de…
…ficar de pé. Ok, isso não é tão importante assim. Só achei que gostariam de saber.
O diferencial do iOS 5
Antes de citar qualquer componente de hardware do iPhone 4S, acho importante destacar o seu sistema operacional. Muitas das funcionalidades que ele oferece não são mérito dos seus componentes e sim do software. Você provavelmente lembra quando ele saiu, pois eu falei dele aqui quando ainda estava em testes.
Uma das novidades que chegou com essa versão do sistema é poder tirar o iPhone da caixa e já sair usando, algo que era vantagens de plataformas como o Android até então. Outra cópia descarada do sistema do Google foram as notificações deslizantes a partir do topo, que são menos intrusivas. Há também um botão dedicado para câmera na tela inicial e o sistema de mensagens iMessage para comunicação entre dispositivos iOS consegue economizar uns trocados com taxas de SMS e MMS. Outro destaque fica com a atualização de software pelo próprio dispositivo. Não precisar baixar 600 MB pelo iTunes a cada atualização é uma funcionalidade que deveria garantir a canonização do seu criador, seja ele da Apple ou não.
Ao menos não ainda. Sabemos que a Apple está escutando sempre as reclamações dos seus clientes e implementando as correções e novidades mais requisitadas, afinal de contas a maioria das funcionalidades disponíveis no iOS (e aqui levo em conta todas as versões) surgiram primeiro quando foram implementadas por programadores por meio de jailbreak.
Nem tudo são flores, obviamente. De cara, desativei das abas das notificações os programas de ações da bolsa e temperatura, já que a constante atualização deles pode drenar um pouquinho mais rápido a bateria. A sincronização via WiFi ainda está extremamente capenga e lenta, talvez até pelas restrições do próprio protocolo de rede. Existem aplicativos que eu não uso e que eu adoraria poder tirar, mas não posso por que a Apple simplesmente não deixa.
A quinta versão do sistema operacional móvel da Apple consegue ser mais responsável pelos trunfos do iPhone 4S do que o hardware em si. Sim, ele tem bons itens, mas se ele ainda viesse de fábrica com o iOS 4 ou qualquer outro anterior, eles seriam subutilizados e o celular não teria tanto assim a oferecer. E a atitude da Apple de liberar essa versão para dois modelos anteriores de iPhone pode não parecer financeiramente interessante, já que é melhor para a fabricante vender o seu último modelo, mas é algo que deu vida nova ao 3GS e melhorou ainda mais o iPhone 4.
Dito isso, vamos ao hardware.
Tela e navegação
A mesma tela do iPhone 4, chamada pela Apple Brasil de tela retina, com resolução de 960 x 640 pixels, vem condensada nas mesmas 3,5 polegadas. É um tamanho de tela que não segue a tendência de ser exageradamente grande, como vemos em smartphones Android e Windows Phone que estão no mercado brasileiro hoje em dia, e por isso a grande maioria dos usuários não vai ter dificuldade em alcançar um canto dela com uma mão apenas. E um designer comprovou isso em outubro.
A tela também extremamente nítida e brilhante, já que é um LCD retroiluminado com LED. Ela pode ser um pouco refletiva, mas na maioria das vezes que você tentar enxergar algo contra o sol não vai ter problema. O mérito aqui é do sensor de luminosidade que regula o brilho e funcionou melhor e bem mais rápido do que eu já vi em demais modelos de smartphone. O Safari está notoriamente rápido, e mostra que está tirando proveito do processador A5 do aparelho.
Existem vídeos na web que mostram como bebês e senhoras de idade conseguem usar o iPhone e o iPad com extrema facilidade, e é exatamente essa sensação que ele passa. Qualquer pessoa que pegar um iPhone 4S vai usar sua intuição para aprender navegar na tela com os dedos. O mesmo acontece em alguns dos aparelhos high-end com Android ou Windows Phone, dependendo da versão. A Apple só ganha nos quesitos de unificação da interface em vários dispositivos e do belo design dela, mas não na funcionalidade em si. Era inédita em 2007, quando o primeiro iPhone foi lançado. Hoje é comum.
Assim como os demais iPhones, o 4S não vem com personalizações de operadoras. Em compensação a Apple se encarrega de encher o aparelho com uma pá de aplicativos que podem ser menos úteis do que a empresa originalmente achou que seriam. Newsstand? Reminders? Bússola? Ok, eu vejo a utilidade deles para algumas pessoas, mas que tal me oferecer a opção de desinstalá-los? E esses aplicativos do YouTube e Maps já está tão velhos quanto andar pra frente, vamos atualizar, ô gigante da maçã? Você sabe que precisa fazer isso quando a interface de ambos sequer se comparam ao que está disponível na web.
Multimídia e qualidade de chamada
O suporte multimídia do iPhone é o mesmo de qualquer aparelho iOS. E como todos eles, é necessário passar pelo monstro do iTunes para colocar conteúdo que não estiver disponível para compra na loja online direto do aparelho. Em termos de vídeo, o que não for um arquivo mp4, m4v nas especificações da Apple não vai ser adicionado no programa e não vai ser sincronizado. Essa lacuna, no entanto, é bem preenchida por desenvolvedores de aplicativos dedicados a tocar formatos não suportados pelos dispositivos iOS. Existem uma leva deles na AppStore e eu fiquei com o VLC mesmo. Ele já foi chutado de lá, mas fiz backup antes.
Enquanto que o suporte nativo a vídeos ainda deixa bastante espaço para melhorias (algo que a Apple poderia se inspirar no Android), os codecs de áudio que o iPhone 4S suporta continuam sendo um dos melhores conjuntos, também mérito do iOS 5. Ele vem com suporte a aac, mp3, Apple Lossless, aiff e wav. E isso, combinado com a interface do iPod, faz o iPhone o melhor player dos smartphones na minha opinião (algo que o Android precisa copiar da Apple o mais rápido possível).
Como citei na sessão de design, o iPhone 4S tem um microfone redutor de ruído que deixa a qualidade de chamadas excelente. Tanto pelo alto-falante quanto pelo speaker consegui ouvir o interlocutor claramente, algo que se repetiu em ambientes com bastante ruído.
Um item que a Apple insiste em não melhorar é a qualidade dos seus fones de ouvido. Se existisse uma escala de qualidade desse tipo de eletrônico específico e, digamos, “bunda” fosse a palavra que descrevesse a pior classificação possível, eu colocaria os fones de ouvido da Apple no nível “cóccix”. Eles não chegam a ser muito ruins, mas por um aparelho do calibre do iPhone e pelo que ele custa, os fones deixam bastante a desejar. E certamente não vale os 100 reais pelos quais eles são vendidos na loja online.
Câmera
Se existe algum item que merece destaque do iPhone 4S é a sua câmera. Eu considero a principal melhoria em relação ao modelos anteriores, acima do processador A5 e também do Siri. A câmera, que teve uma mecânica interior considerada uma enorme inovação na época que o aparelho foi anunciado, tem um sensor de 8 megapixels e vem com detecção de rosto e um flash melhorado em relação ao iPhone 4. A captura também pode acontecer em HDR, como no modelo anterior. Veja abaixo alguns exemplos de fotos.
Tudo é muito bonitinho nesse ecossistema, mas me irrita o fato de que o controle da qualidade da foto não é oferecido. Fica a cargo dos aplicativos que estão usando a câmera escolher com qual resolução ela será enviada. No caso do Twitter, por exemplo, não consigo enviar fotos maiores do que 1024 x 768. Mas para o Flickr é possível mandar até na mais alta. Seria bom ter o controle unificado dessa qualidade direto na câmera mesmo.
Para vídeos, a resolução é excelente e o flash de LED ajuda bastante em situações de pouca luz. A qualidade está travada em 1080p, mas ao enviar para o YouTube é oferecida uma qualidade menor. E por e-mail você ainda pode escolher outras três, o que é bacana. Os vídeos não ficam muito grandes: 1 minuto de gravação em 1080p gerou um arquivo de 174 MB, que em 720p ficou em 18 MB. Veja abaixo um vídeo de 1 minuto gravado com o iPhone 4S.
Siri, o assistente virtual
Esse poderia ser considerado o segundo item mais importante do aparelho, mas ele não funciona no Brasil ou em português. Ainda. Mesmo assim, você pode acionar o assistente virtual da Apple se tiver confiante que o seu inglês (ou alemão ou francês) estão afiados o bastante para serem entendidos. Como o reconhecimento de voz é feito nos servidores da Apple, ele exige uma conexão de dados ou via WiFi para funcionar.
Para quem se colocar a esse desafio, é possível realizar a variedade de tarefas como ligar para contatos da agenda, configurar alarmes, agendar reuniões, anotar itens numa lista e várias outras coisas. Mas de novo: todos os comandos e resultados deles vão estar em inglês, francês ou alemão. Também há uma barreira extra aqui: quantos de vocês se sentem confortável dando uma ordem a um aparelho no meio da rua? É, eu não tenho tanta vontade de usar o Siri assim.
É inquestionável que o Siri é uma das inovações criadas pela Apple para vender o iPhone 4S como uma grande melhora do iPhone 4. Mas ele não oferece suporte ao português e isso o torna meio inútil para quem for comprar o aparelho apenas por causa dele.
Sincronização com o computador
Esse passo se tornou desnecessário com o iOS. Mas é um passo que ainda não é possível pular se você valoriza seu tempo: a sincronização via cabo USB ainda é mais rápida do que qualquer outra opção disponível atualmente. Ou caso você queira desbloquear o celular para uso em outras operadoras também.
O iTunes, mesmo sem a obrigatoriedade de ser instalado com o Quicktime, continua sendo um hipopótamo no Windows. Dizem que a experiência no Mac OS é melhor, mas ainda não pude testar essa incrível alegação. Admito que ele ficou melhor com os tempos e no Windows 7 ele está particularmente mais estável, mas já tive problemas com travadas e erros. Os erros, aliás, continuam pouco descritivos como sempre: exibem uma numeração aleatória como 0x008UND4 ou coisa do tipo e espera que nós procuremos online para descobrir do que se trata. Por que colocar a descrição na própria caixa de erro é provavelmente muito mainstream.
Ele deixa muito espaço para melhora mas entrega uma boa interface compatível com o que a Apple entrega no iPhone. Eu diria que é um mal necessário.
Extras
Eis aqui alguns dos itens que o iPhone 4S oferece, são importante o bastante para serem citados mas não foram até agora: ele vem com FaceTime, edição básica de imagens e corte de vídeos direto do rolo da câmera, Safari com capacidade para navegação anônima e salvar senhas e existe uma integração com o Twitter em todos os cantos do sistema. O suporte ao iCloud também é algo que chegou com essa versão do sistema e ele é o responsável por fazer seus dados continuarem sãos e salvos nas nuvens da Apple.
Também no iPhone 4S estão funcionalidades de acessibilidade que permitem que pessoas com alguma deficiência visual utilizem o celular. É algo que já se tornou padrão de smartphones de outras plataformas, mas o iPhone parece ter a melhor implementação dentre eles. E com ênfase no “parece”, já que eu não posso testar com mais precisão como elas funcionam.
Bateria
Usei um iPhone 3GS por algum tempo e consegui perceber que o uso que eu fazia dele era muito mais exigente do que sua pobre bateria conseguia suportar. Isso, aliado ao fato de que não temos as melhores redes de 3G aqui no Brasil, acaba drenando mais energia do que o normal. O iPhone 4S resolve esse problema com uma bateria melhor, embora aparentemente as opções de controle dela sejam menores: não há como desligar o 3G e ficar só em EDGE nesse modelo, apenas nos anteriores.
Ainda assim, a bateria durou mais do que eu esperava. Com uso moderado de 3G, tela com brilho em 1/3 (com sensor de luminosidade ligado) e playback de música constante, a bateria ultrapassou 11 horas antes de chegar ao fim. Com uso intenso de 3G, brilho na metade e playback de vídeo constante, ela quase alcançou 9 horas de uso antes de pedir arrego. Ambos ultrapassaram a estimativa de 6 horas de uso via 3G estimados pela Apple. Vale lembrar que o uso individual varia bastante, só relatei o meu uso para oferecer uma base de comparação.
Ao que parece eu fui um dos sortudos que não tem problemas com a bateria do iPhone 4S. Mas não restaurei o backup do meu iPhone 3GS antigo, apenas configurei como um novo aparelho. E como o problema parece ser mesmo relacionado ao software, posso dizer com alguma certeza que o iPhone 4S pode ser usado ao longo do dia de forma razoável que ao final dele o celular ainda vai ter energia para, ao menos, algumas horas de música.
Pontos fracos
- Siri não funciona em português ou em locais no Brasil;
- Fragilidade do design com vidro;
- Preço absurdamente alto.
Pontos fortes
- Bateria de alta duração;
- Tela nítida e sem muito reflexo;
- Câmera de ótima qualidade com flash decente
Conclusão
Com todas essas funcionalidades, o iPhone 4S consegue bater de frente com os avanços dos concorrentes com Android e Windows Phone no Brasil. Mas o que ele oferece no país pelo preço que é vendido ainda não justifica sua compra, ao menos para quem já tem um iPhone 4 ou smartphone high-end de outra plataforma. Sua câmera é muito boa e o poder de processamento é fantástico, mas muitos celulares no mercado brasileiro já oferecem componentes equivalentes, uma interface tão fácil quanto à dele e uma vida de bateria decente por menos do que os R$ 2,6 mil que a Apple pede na sua loja online.
De uma certa maneira a Apple acaba forçando os interessados no iPhone 4S a comprarem-no com contrato das operadoras e existem certas vantagens nisso. Assinar um contrato de 12 meses pagando em média R$ 1,5 mil pelo aparelho e um plano de mais ou menos 150 reais ao mês pode ser razoável, dependendo do plano de dados escolhido. E convenhamos que um iPhone sem plano de dados é basicamente um iPod touch mais caro. Comprar de fora poderia ser a opção mais viável, mas esteja disposto a pagar caro para consertar o aparelho caso ele quebre, já que a garantia internacional dele exclui o Brasil.
Se você não quer nenhuma das duas e se contenta com o que o iOS 5 oferece, comprar o iPhone 4 ou o 3GS poderia ser a terceira alternativa. As desvantagens estão na capacidade: ambos só são vendidos com 8 GB de armazenamento. O primeiro custa R$ 1,8 mil, que é o mesmo que o modelo de 16 GB custava antes, e o 3GS está na faixa de R$ 1,2 mil. Então não é uma boa comprá-los na loja online também, melhor procurar uma operadora.
O iPhone 4S de 16 GB vale os R$ 1,9 mil (menor preço até então) que a TIM pede por ele, mas para um público específico: quem estiver há meses ou anos sem trocar de celular, realmente quer a última geração do aparelho e não se importa em pagar um preço ainda um pouco caro. Para eles, essa é a melhor alternativa. Para quem quiser o 4 ou o 3GS, vale a pena pesquisar nas operadoras também ou esperar a chegada do iPhone 4 produzido no Brasil no ano que vem.
Basicamente o que eu quero dizer é que o iPhone 4S é um ótimo celular que a Apple não quer que ninguém no país compre, ao menos não sem um plano caro. Meu conselho, então, é o mesmo da Garota Sem Fio: segure a grana. O Natal está aí, a época de compras e dos preços altos vai passar e dentro de alguns meses o iPhone 4S deve receber um descontinho. Com alguma pontinha de esperança, receberá também uma atualização que faça o Siri entender o português. Dois ótimos motivos para, então, adquirir o aparelho.
Até lá, o iPhone 4S só vale a pena ser comprado por R$ 2,6 mil se vier folheado a ouro.