Carregamento sem fio à distância e o hype que (ainda) não se concretizou
Apesar dos rumores envolvendo iPhones e os protótipos apresentados em feiras, a tecnologia de carregamento 100% sem fio permanece longe do público
Apesar dos rumores envolvendo iPhones e os protótipos apresentados em feiras, a tecnologia de carregamento 100% sem fio permanece longe do público
Em 2017, um curioso boato a respeito do iPhone 8 começou a circular. Especulava-se que o novo celular da Apple viria com um sistema de carregamento sem fio, mas não aquele de indução eletromagnética, em que o celular fica apoiado numa base. Seria um sistema sem fio de verdade, capaz de captar eletricidade pelo ar.
O nome da tecnologia era WattUp, e não foi criação da Apple. A empresa por trás dela é a Energous, que prometia a chegada dos transmissores capazes de carregar aparelhos à distância pelo menos desde 2015. O que acabou não acontecendo.
O próprio CEO da Energous revelou o motivo em 2017. Segundo ele, a empresa tinha fechado uma parceria estratégica para trabalhar na miniaturização da tecnologia. Naquele momento, o mercado suspeitou que essa parceria era com a Apple. Daí todos os rumores, que voltaram a circular em 2021.
Se você se lembra dessa época, sabe que eles não se concretizaram. Nem no iPhone 8, nem no 12, nem em nenhum outro smartphone. A tecnologia, no entanto, existe, e funciona em contextos específicos. Por que, então, não a vemos equipada em dispositivos móveis?
No Tecnocast 301, conversamos sobre o carregamento sem fio à distância. As promessas foram muitas, e, atualmente, vemos aplicações ainda distantes do dia a dia da maioria das pessoas.
O ponto é que as expectativas sempre se voltam para o gadget mais utilizado de todos, o celular. Os rumores sobre o iPhone 8, anos atrás, contribuíram para isso. O problema é que, no momento, a tecnologia ainda não serve tão bem aos smartphones.
O motivo é técnico. O carregamento tradicional, na tomada, é o que oferece o melhor aproveitamento de energia. A opção da indução eletromagnética é mais delicada, já que qualquer errinho no encaixe do aparelho na base pode atrapalhar o processo. Além disso, nessa modalidade o carregamento tende a demorar mais.
Que dirá quando não há nenhum fio ou base envolvida. Com a “eletricidade no ar” — imagine algo como um roteador de Wi-Fi, só que projetando um campo eletromagnético para conversão em energia elétrica —, o aproveitamento tende a cair. Perde-se energia no processo, o que torna o carregamento algo que pode durar várias horas.
Fora a questão da distância. Aqui, a comparação do Wi-Fi se justifica novamente: quanto mais longe do alcance do transmissor, menos energia o aparelho recebe. E a distância nem precisa ser grande: alguns metros podem ser suficientes para atrapalhar bastante a experiência.
O que a Energous conseguiu foi oferecer soluções muito específicas. Por exemplo, a tecnologia da empresa é utilizada para monitorar a saúde de cavalos. Os sensores fixados nos animais são carregados pelo ar. Há também aplicações no setor industrial e médico, cujas necessidades são muito diferentes das do usuário comum.
Apesar disso, a tecnologia continua se desenvolvendo, com novos protótipos sendo apresentados em feiras. Pesquisas em universidades também sugerem um futuro em que o carregamento pelo ar poderá ser algo mais difundido.
Além da Energous, empresas como a Ossia oferecem transmissores para câmeras de segurança, campainhas inteligentes, aparelhos auditivos e outros dispositivos que não exigem muita bateria. São contextos um pouco mais próximos do usuário médio do que o monitoramento da saúde de equinos, vamos combinar.
No campo da pesquisa, já há desdobramentos no sentido de transmitir a energia pelo ar com o uso de luz infravermelha. A transmissão teria alcance de até trinta metros e poderia, no futuro, servir para carregar dispositivos móveis.
Já que falamos de futuro, vamos ser mais otimistas. Imagine que você entra num ambiente, e seus dispositivos imediatamente começam a receber energia. O conceito foi apresentado por cientistas das universidades de Tóquio e Michigan.
Na prática, o princípio é semelhante ao do carregamento por indução. Um grande campo eletromagnético é criado, carregando qualquer aparelho dentro dele que tenha os receptores apropriados. Seria um desdobramento muito interessante para cafés e coworkings, por exemplo.
Mas é bom deixar claro: tudo que essas pesquisas demonstram é que o potencial existe. Ainda não estamos perto de vê-lo se concretizar em nossa vida prática. Por enquanto, o jeito é continuar plugando o celular na tomada.