Jogo virando filme e vice-versa: por que nunca dá certo?
Enquanto o mundo do entretenimento se prepara pro mega-lançamento de Avatar (o tão esperado retorno diretorial de James Cameron) e se divide indeciso nas opiniões “será um divisor de águas”/”nada com tanto hype jamais poderá atingir as expectativas da galera”, uma coisa nós gamers temos certeza – haverá um jogo de Avatar (ou melhor, vários, já que Avatar The Game será lançado pra tudo que tenha uma tela), e ele será uma porcaria.
É um fenômeno tão comum e bem estabelecido na cultura gamer que ninguém mais se empolga pro lançamento de adaptações videogâmicas de filmes de alto orçamento. Já fomos enganados muitas vezes; os gamers experientes vêem esses esforços como uma estratégia de marketing pra vender a imagem do filme e nada mais.
Do outro lado do espectro, os filmes baseados em jogos costumam ser ainda mais insalubres. Entra ano e sai ano, uma parada de adaptações cinematográficas dos nossos jogos favoritos ganham as telonas ao redor do mundo, e o resultado é sempre o mesmo: uma completa porcaria que, algumas vezes, nem como filme-pipoca serve.
Mas por que essas adaptações nunca dão certo? E por que continuam fazendo? Tenho minhas teorias.
Num jogo de videogame, a história é quase sempre um mero coadjuvante ao gameplay, à interação do jogador. A trama está lá pra enfeite, pra intervalo entre os momentos de ação, porque jogos geralmente não são o melhor meio pra contar histórias. Por isso, ao transportar aquela história pra telona, ela invariavelmente será um coadjuvante também – nesse caso, aos efeitos especiais. E nós sabemos que geralmente, filmes em que a história é tangencial aos efeitos visuais não costumam ser grandes obras de arte.
Já num filme, mesmo com personagens têm uma longa história de fundo (digamos, o Homem Aranha por exemplo), a trama apresentada precisa ser condensada em mais ou menos duas horas. E dessas duas horas, às vezes apenas metade contém cenas de ação “jogável”. Esse período é muito curto pra um jogo, e por isso os produtores acabam extendendo o gameplay de forma forçada, dando a ele características inexistentes no filme (personagens e situações adicionais, por exemplo).
Como qualquer outra coisa que é utilizada como encheção de linguiça, acaba sendo um saco.
O próprio supracitado Homem Aranha é um bom exemplo disso: pra que as aventuras mostradas nos filmes sejam viáveis como um jogo de 8-9 horas, os produtores enfiam um monte de tramas paralelas e missões irrelevantes à história do filme, a ponto de que o jogo é apenas levemente inspirado no filme de mesmo nome. Esse esticamento artificial de uma história de duas horas pra caber na proposta de um jogo com cinco vezes essa duração nunca passa despercebido.
Se o jogo será apenas levemente baseado no filme, qual o propósito de fazer um jogo baseado no filme…?
Outro grande culpado da baixa qualidade de jogos baseados em filmes é o curto período de desenvolvimento que eles têm em mãos. Um jogo baseado em filme só começa a ser produzido quando o filme já está em suas etapas finais de desenvolvimento; quando já existem os recursos visuais que os programadores e os artistas poderão usar pra tornar o jogo similar à apresentação do filme.
Isso significa, invariavelmente, que o jogo terá menos tempo pra ser produzido que o filme, e precisa ser apressado pra coincidir com o lançamento do mesmo. Como qualquer outra coisa feita “nas coxas” e apressadamente, um jogo baseado em filme é fadado ao fracasso.
É por isso que Batman Arkham Asylum foi um jogo tão bom – porque ele evitou completamente a associação com o filme The Dark Knight. A Eidos Interactive, ao invés de ir na onda de fazer uma adaptação apressada de Dark Knight e vender na aba do filme, preferiu trabalhar com o mythos do personagem e fazer um jogo bem feito e completamente não-relacionado ao longa-metragem.
Mas seria desonesto dizer que todo filme baseado em jogo e vice-versa é uma porcaria completa. Eu mesmo já consegui gostar de alguns – o filme de Mortal Kombat, por exemplo, e o Enter The Matrix (apesar de todas as falhas óbvias de ambos).
Que jogos baseados em filmes – ou filmes baseados em jogos – você curtiu?