Por que vamos sentir falta da Oi Móvel
Oi Móvel foi vendida para Claro, TIM e Vivo, mas vai deixar saudades; operadora impulsionou celulares desbloqueados e tinha produtos estranhos
Oi Móvel foi vendida para Claro, TIM e Vivo, mas vai deixar saudades; operadora impulsionou celulares desbloqueados e tinha produtos estranhos
A Oi Móvel foi vendida em 2020, e os clientes estão sendo finalmente transferidos para Claro, TIM e Vivo. É uma operadora que vai ficar na memória por um bom tempo: além ter bons preços e comerciais engraçadinhos, a empresa foi responsável por algumas revoluções no mercado brasileiro de telefonia celular.
Durante muito tempo, a Oi se destacava no mercado por ser uma marca mais jovem e diferente das operadoras tradicionais, que carregavam sempre um tom mais sóbrio em suas campanhas.
A verdade é que a Oi tinha uma “liberdade poética” que outras operadoras demoraram muito para ter em seus comerciais. Não é todo dia que você assiste um comercial que satiriza o tom de voz e a beleza de potenciais clientes:
Alguns comerciais chegavam a ser engraçados sem ter sentido. Um exemplo é essa propaganda feita com a atriz Débora Falabella, cuja voz mudava para a de um locutor publicitário ao anunciar o preço do plano:
Gosto muito da campanha de estreia da Oi no estado de São Paulo em 2008: um jingle zombava da “mesmice” das outras operadoras.
A Oi sempre foi uma marca que preocupava com sua identidade visual. Uma das características mais legais era que os celulares vendidos pela operadora tinham sua caixa original e sem graça substituída por um estojo verde da Oi.
Mas os produtos da Oi não se resumiam a caixas. No início dos anos 2000 a operadora lançou o Oi Xuxa, um celular Siemens A40 com capinhas decoradas, ringtone de ‘Ilariê‘ e mensagens da rainha dos baixinhos. Era um aparelho tão simples que nem tinha jogos, mas a Oi tratou de resolver isso ao criar games no menu do chip.
Outro momento foi a chegada do tão sonhado Oi Xuxa 👀. Um Siemens A40 que podia ser rosa ou azul, vinha com dezenas de capinhas e até um ringtone da música "Ilariê". #DiaDoTelefone pic.twitter.com/S94GNkydG6
— Oi (@oi_oficial) March 10, 2020
A Oi tinha foco no público de adolescentes e jovens adultos: a operadora também lançou o Oi MTV, com conteúdo da emissora, chat e download de músicas, e também o Oi Universitário, com que dava dicas para encontrar estágios.
Nem só de produtos estranhos vivia a Oi, e a operadora se esforçava para ser inovadora. Em 2007 — época que smartphones não existiam e internet móvel era algo inexistente ou luxuoso — foi lançado o Oi Paggo, um cartão de crédito virtual controlado inteiramente via celular.
Era possível pagar estabelecimentos comerciais, e as transações entre o consumidor e o lojista eram feitas via mensagens SMS. O serviço tinha mensalidade de R$ 2,50, numa época em que Google Pay ou Samsung Pay sequer existiam em nossos pensamentos.
Para muitos, a Oi Móvel foi uma operadora inovadora. Por adotar a tecnologia GSM desde o início, o portfólio de aparelhos era extenso e com especificações muitas vezes superiores em relação à concorrência — especialmente Claro e TIM, que em muitos estados utilizavam o antigo TDMA.
Claro que esse reinado de ter aparelhos legais não durou muito: em alguns anos todas as concorrentes migraram suas tecnologias antigas para o GSM.
Não dá para negar: a Oi agitava o mercado de telefonia móvel e ditou algumas tendências replicadas pelo mercado.
A Oi Móvel nasceu em 2002, com atuação exclusiva nas áreas da antiga Telemar — ou seja, as regiões Norte, Nordeste e Sudeste, com exceção do estado de São Paulo. Sem nenhum cliente de celular, a campanha de lançamento foi muito agressiva e prometia 31 anos de ligações grátis de Oi para Oi aos finais de semana.
Hoje em dia, com planos são ilimitados, ligar de graça aos finais de semana é um benefício que não significa nada. No entanto, a promoção de 31 anos da Oi foi um sucesso por muitos anos: as ligações de celular eram caríssimas nos anos 2000, com tarifação que ultrapassava muitas vezes R$ 1 por minuto no pré-pago.
Os chips com a promoção Oi 31 anos ficaram valiosos ao longo dos anos: uma reportagem da Folha conta o caso de um usuário que trocou seu o SIM Card por um Chevette (!). Hoje em dia não deve valer nada.
É uma pena que a Oi Móvel não durou todos os 31 anos para cumprir sua promoção de lançamento. A operadora estreou em 2002 e teve a venda concluída em 2022. Pois é, foram no máximo 20 anos de ligações grátis nos fins de semana.
Em 2007, a Oi iniciou uma de suas campanhas mais icônicas e desafiou o mercado de telefonia móvel no Brasil. A operadora se posicionou contra o bloqueio de SIM Lock — quando o aparelho era bloqueado para uso numa operadora específica.
Até então, todas as grandes operadoras — incluindo a própria Oi — vendiam celulares GSM com bloqueio, mesmo que ele tenha sido comprado sem descontos ou vínculo de fidelidade. Se você quisesse mudar para outra empresa, deveria desbloquear o aparelho para que o novo chip pudesse funcionar.
Algum tempo depois, uma resolução da Anatel proibiu que as operadoras cobrassem pelo desbloqueio de celulares; com isso, perdeu-se todo o sentido em vender aparelhos bloqueados.
Para conquistar mais clientes em São Paulo, a Oi passou a desbloquear gratuitamente aparelhos de outras operadoras em suas lojas. Mais de 80 mil celulares foram liberados entre agosto e outubro.
Após a agressiva campanha contra bloqueio de aparelhos, a Oi também travou a guerra a concorrência ao excluir a fidelidade de todos os seus planos móveis. Com isso, o cliente poderia cancelar o serviço e trocar de operadora a qualquer momento.
Em determinada campanha, a Oi passou inclusive a pagar pela multa de fidelidade de clientes de outras operadoras para conquistar novos usuários dispostos a assinar um plano pós-pago.
O problema é que esse posicionamento não durou muito tempo, e alguns anos depois a Oi voltou a comercializar planos com fidelização. É o caso da Oi Fibra atualmente: quem cancelar o pacote antes de um ano deverá pagar multa pela quebra do contrato.
No fim da sua vida útil, a Oi Móvel passou a comercializar planos muito agressivos. Claro, TIM e Vivo não oferecem nada em seus portfólios que se equipara ao pré-pago em que cada R$ 1 equivale a 1 GB de internet.
Com R$ 25, um cliente do pré da Oi conseguia 25 GB de internet, ligações ilimitadas e acesso liberado ao Instagram, Facebook e WhatsApp.
Os planos mais caros também eram agressivos: por R$ 50 mensais, a empresa comercializava o Oi Controle com 100 GB de internet e acesso liberado ao Instagram, TikTok, Facebook e WhatsApp.
Não devemos esquecer do plano com internet ilimitada, com custo de R$ 99,90 mensais. Enquanto isso, Claro, TIM e Vivo sofrem para oferecer franquias de 50 GB com o mesmo valor.
Mesmo com preços baratos, a Oi acabava não ocupava a primeira opção de escolha de operadora móvel para muitas pessoas. Em muitos locais o sinal era ruim ou inexistente, a internet era lenta e a cobertura 4G não chegava em muitos municípios brasileiros. Ainda assim, era uma importante companhia para gerar concorrência no mercado.