Por que vamos sentir falta da Oi Móvel

Oi Móvel foi vendida para Claro, TIM e Vivo, mas vai deixar saudades; operadora impulsionou celulares desbloqueados e tinha produtos estranhos

Lucas Braga
• Atualizado há 1 ano e 5 meses
Oi Móvel vai deixar saudades
Oi Móvel vai deixar saudades (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

A Oi Móvel foi vendida em 2020, e os clientes estão sendo finalmente transferidos para Claro, TIM e Vivo. É uma operadora que vai ficar na memória por um bom tempo: além ter bons preços e comerciais engraçadinhos, a empresa foi responsável por algumas revoluções no mercado brasileiro de telefonia celular.

Os comerciais eram divertidos

Durante muito tempo, a Oi se destacava no mercado por ser uma marca mais jovem e diferente das operadoras tradicionais, que carregavam sempre um tom mais sóbrio em suas campanhas.

A verdade é que a Oi tinha uma “liberdade poética” que outras operadoras demoraram muito para ter em seus comerciais. Não é todo dia que você assiste um comercial que satiriza o tom de voz e a beleza de potenciais clientes:

Alguns comerciais chegavam a ser engraçados sem ter sentido. Um exemplo é essa propaganda feita com a atriz Débora Falabella, cuja voz mudava para a de um locutor publicitário ao anunciar o preço do plano:

Gosto muito da campanha de estreia da Oi no estado de São Paulo em 2008: um jingle zombava da “mesmice” das outras operadoras.

A Oi lançava produtos bizarros

A Oi sempre foi uma marca que preocupava com sua identidade visual. Uma das características mais legais era que os celulares vendidos pela operadora tinham sua caixa original e sem graça substituída por um estojo verde da Oi.

Caixa de celular da Oi
Caixa de celular da Oi (Imagem: Reprodução / Mercado Livre)

Mas os produtos da Oi não se resumiam a caixas. No início dos anos 2000 a operadora lançou o Oi Xuxa, um celular Siemens A40 com capinhas decoradas, ringtone de ‘Ilariê‘ e mensagens da rainha dos baixinhos. Era um aparelho tão simples que nem tinha jogos, mas a Oi tratou de resolver isso ao criar games no menu do chip.

A Oi tinha foco no público de adolescentes e jovens adultos: a operadora também lançou o Oi MTV, com conteúdo da emissora, chat e download de músicas, e também o Oi Universitário, com que dava dicas para encontrar estágios.

Uma operadora que inovava, mas não decolava

Nem só de produtos estranhos vivia a Oi, e a operadora se esforçava para ser inovadora. Em 2007 — época que smartphones não existiam e internet móvel era algo inexistente ou luxuoso — foi lançado o Oi Paggo, um cartão de crédito virtual controlado inteiramente via celular.

Era possível pagar estabelecimentos comerciais, e as transações entre o consumidor e o lojista eram feitas via mensagens SMS. O serviço tinha mensalidade de R$ 2,50, numa época em que Google Pay ou Samsung Pay sequer existiam em nossos pensamentos.

Para muitos, a Oi Móvel foi uma operadora inovadora. Por adotar a tecnologia GSM desde o início, o portfólio de aparelhos era extenso e com especificações muitas vezes superiores em relação à concorrência — especialmente Claro e TIM, que em muitos estados utilizavam o antigo TDMA.

Claro que esse reinado de ter aparelhos legais não durou muito: em alguns anos todas as concorrentes migraram suas tecnologias antigas para o GSM.

Estratégias de marketing que desafiavam o mercado

Não dá para negar: a Oi agitava o mercado de telefonia móvel e ditou algumas tendências replicadas pelo mercado.

31 anos grátis de ligações

A Oi Móvel nasceu em 2002, com atuação exclusiva nas áreas da antiga Telemar — ou seja, as regiões Norte, Nordeste e Sudeste, com exceção do estado de São Paulo. Sem nenhum cliente de celular, a campanha de lançamento foi muito agressiva e prometia 31 anos de ligações grátis de Oi para Oi aos finais de semana.

Encarte da Oi com promoção que prometia 31 anos de ligações grátis nos finais de semana
Promoção de 31 anos grátis marcou início da Oi Móvel (Imagem: Reprodução)

Hoje em dia, com planos são ilimitados, ligar de graça aos finais de semana é um benefício que não significa nada. No entanto, a promoção de 31 anos da Oi foi um sucesso por muitos anos: as ligações de celular eram caríssimas nos anos 2000, com tarifação que ultrapassava muitas vezes R$ 1 por minuto no pré-pago.

Os chips com a promoção Oi 31 anos ficaram valiosos ao longo dos anos: uma reportagem da Folha conta o caso de um usuário que trocou seu o SIM Card por um Chevette (!). Hoje em dia não deve valer nada.

É uma pena que a Oi Móvel não durou todos os 31 anos para cumprir sua promoção de lançamento. A operadora estreou em 2002 e teve a venda concluída em 2022. Pois é, foram no máximo 20 anos de ligações grátis nos fins de semana.

Quem ama, bloqueia

Em 2007, a Oi iniciou uma de suas campanhas mais icônicas e desafiou o mercado de telefonia móvel no Brasil. A operadora se posicionou contra o bloqueio de SIM Lock — quando o aparelho era bloqueado para uso numa operadora específica.

Até então, todas as grandes operadoras — incluindo a própria Oi — vendiam celulares GSM com bloqueio, mesmo que ele tenha sido comprado sem descontos ou vínculo de fidelidade. Se você quisesse mudar para outra empresa, deveria desbloquear o aparelho para que o novo chip pudesse funcionar.

Algum tempo depois, uma resolução da Anatel proibiu que as operadoras cobrassem pelo desbloqueio de celulares; com isso, perdeu-se todo o sentido em vender aparelhos bloqueados.

Para conquistar mais clientes em São Paulo, a Oi passou a desbloquear gratuitamente aparelhos de outras operadoras em suas lojas. Mais de 80 mil celulares foram liberados entre agosto e outubro.

Foi contra planos com fidelidade (mas depois voltou a aplicar)

Após a agressiva campanha contra bloqueio de aparelhos, a Oi também travou a guerra a concorrência ao excluir a fidelidade de todos os seus planos móveis. Com isso, o cliente poderia cancelar o serviço e trocar de operadora a qualquer momento.

Em determinada campanha, a Oi passou inclusive a pagar pela multa de fidelidade de clientes de outras operadoras para conquistar novos usuários dispostos a assinar um plano pós-pago.

O problema é que esse posicionamento não durou muito tempo, e alguns anos depois a Oi voltou a comercializar planos com fidelização. É o caso da Oi Fibra atualmente: quem cancelar o pacote antes de um ano deverá pagar multa pela quebra do contrato.

Os planos eram incrivelmente baratos

No fim da sua vida útil, a Oi Móvel passou a comercializar planos muito agressivos. Claro, TIM e Vivo não oferecem nada em seus portfólios que se equipara ao pré-pago em que cada R$ 1 equivale a 1 GB de internet.

Com R$ 25, um cliente do pré da Oi conseguia 25 GB de internet, ligações ilimitadas e acesso liberado ao Instagram, Facebook e WhatsApp.

Print do site da Oi com plano pré-pago
Pré-pago da Oi tinha plano com 25 GB de internet por R$ 25 mensais

Os planos mais caros também eram agressivos: por R$ 50 mensais, a empresa comercializava o Oi Controle com 100 GB de internet e acesso liberado ao Instagram, TikTok, Facebook e WhatsApp.

Não devemos esquecer do plano com internet ilimitada, com custo de R$ 99,90 mensais. Enquanto isso, Claro, TIM e Vivo sofrem para oferecer franquias de 50 GB com o mesmo valor.

Mesmo com preços baratos, a Oi acabava não ocupava a primeira opção de escolha de operadora móvel para muitas pessoas. Em muitos locais o sinal era ruim ou inexistente, a internet era lenta e a cobertura 4G não chegava em muitos municípios brasileiros. Ainda assim, era uma importante companhia para gerar concorrência no mercado.

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Lucas Braga

Lucas Braga

Repórter especializado em telecom

Lucas Braga é analista de sistemas que flerta seriamente com o jornalismo de tecnologia. Com mais de 10 anos de experiência na cobertura de telecomunicações, lida com assuntos que envolvem as principais operadoras do Brasil e entidades regulatórias. Seu gosto por viagens o tornou especialista em acumular milhas aéreas.