Tudo sobre Snapdragon 865: 5G, câmeras de 200 MP, gravação em 8K e mais
Novo chip da Qualcomm para celulares premium tem suporte para câmeras poderosas, com 4K a 120 fps e slow motion ilimitado
Novo chip da Qualcomm para celulares premium tem suporte para câmeras poderosas, com 4K a 120 fps e slow motion ilimitado
Direto do Havaí — O novo processador da Qualcomm para smartphones caros responde pelo nome de Snapdragon 865. Ele tem suporte para conexões 5G de mais de 7 gigabits por segundo, até 25% de aumento em desempenho e poder suficiente para lidar com câmeras de 200 megapixels, que filmam em resolução 8K ou gravam continuamente em slow motion a 960 quadros por segundo, sem limite de tempo.
Assim como o Snapdragon 855, o Snapdragon 865 tem uma CPU octa-core. A Qualcomm continua com a estratégia de “núcleo prime” para não prejudicar a eficiência térmica do chip e manter o desempenho por mais tempo em jogos e outras aplicações pesadas.
Por dentro, ele tem quatro núcleos Cortex-A55 de 1,8 GHz para tarefas simples, mais três Cortex-A77 de 2,42 GHz para aplicativos que demandam mais desempenho e um único Cortex-A77 que atinge a frequência mais alta, de 2,84 GHz. Esse núcleo especial é usado em potência máxima só em casos mais extremos, para não esquentar demais o chip, o que poderia trazer problemas de desempenho por causa do estrangulamento térmico.
A Qualcomm decidiu não inventar muito em cima do design padrão da ARM: o conjunto de CPU é chamado de Kryo 585, mas os núcleos são os Cortex-A77 e Cortex-A55, sem nenhuma otimização específica. Ainda assim, a Qualcomm fala em 25% de aumento de desempenho em comparação com a geração passada, em parte devido ao novo processo de fabricação de 7 nanômetros da TSMC, que é o mesmo usado no Apple A13 Bionic.
O processador de sinal de imagem (ISP) normalmente recebe pouca atenção, mas a Qualcomm destacou bastante o Spectra 480 do Snapdragon 865: ele ficou bem mais poderoso e pode adiantar um pouco do que veremos nas câmeras dos smartphones caros lançados em 2020.
O número mais comentado foi a capacidade do Spectra 480 de processar 2 gigapixels por segundo. Na prática, isso significa que as fabricantes de celulares poderão colocar sensores de imagem para tirar fotos de até 200 megapixels. O sensor de 108 megapixels da Samsung já está sendo usado em smartphones premium e teve bons resultados, então a guerra de resolução deve continuar por mais um tempo. Segundo a Qualcomm, mais pixels são úteis para dar zoom digital sem perdas.
Em filmagem, o Spectra 480 adiciona novas possibilidades. A mais simples é a gravação em 4K HDR (pela primeira vez com Dolby Vision) e a captura de fotos de 64 megapixels ao mesmo tempo, ou seja, você não fica mais limitado à resolução do vídeo. Também tem como filmar em 4K a 120 fps ou, indo além, em 8K a 30 fps, o que deve ser útil daqui alguns anos, quando as TVs 8K estiverem mais em conta, já que o chip só suporta celulares com telas 4K.
Mas talvez a mais impressionante seja a gravação em câmera lenta de 960 quadros por segundo sem limite de tempo. Até então, as fabricantes tentavam resolver a limitação na capacidade de processamento com gambiarras como reconhecimento de objetos: todo o vídeo era gravado em 60 ou 120 fps e, só quando um movimento rápido era detectado, uma fração de segundo era registrada em 960 fps. A resolução continua em 720p, mas já temos um bom avanço aqui.
O Snapdragon 865 tem suporte para 5G, mas não traz um modem de celular integrado: as fabricantes de celulares precisam incluir o Snapdragon X55. Esse modem atinge 7,5 Gb/s de download e 3 Gb/s de upload quando opera nas frequências sub-6 (como os 3,5 GHz que serão usados no Brasil) e nas ondas milimétricas (mmWave). Ele também se conecta a redes 4G com até 2,5 Gb/s de download.
A Qualcomm ressaltou duas tecnologias presentes no modem X55: a agregação de portadoras, que melhora as taxas de transferência ao se conectar a redes 5G de múltiplas frequências; e o Dynamic Spectrum Sharing (DSS), que compartilha o espectro das atuais redes 4G para o 5G, dependendo da demanda, aumentando a disponibilidade da nova tecnologia.
A empresa tentou ser otimista quanto ao alcance do 5G: em Frankfurt, por exemplo, a estimativa é de que as operadoras já poderiam fornecer aproximadamente 96% de cobertura de 5G em ambientes externos sem necessidade de instalar torres em locais novos, apenas atualizando os equipamentos existentes.
Só que o 5G ainda não está muito desenvolvido. No Brasil, o leilão de frequências corre o risco de atrasar para o último trimestre de 2020, devido a possíveis interferências com a TV aberta via satélite. E, nos Estados Unidos, onde a operadora Verizon já fornece 5G em ondas milimétricas, a cobertura na cidade de Nova York, por exemplo, se restringe basicamente a ruas e calçadas — como as frequências são muito altas, de 28 e 39 GHz, a penetração de sinal é menor, o que torna bem difícil cobrir ambientes internos com qualidade.
De qualquer forma, como o Snapdragon 865 é praticamente “casado” com o modem Snapdragon X55, os celulares com esse processador deverão ser todos ou quase todos compatíveis com 5G — diferente do que aconteceu com o Snapdragon 855, que já vinha com um modem 4G integrado e deixava o 5G totalmente opcional. Você provavelmente só vai conseguir usar 5G no Brasil a partir de meados de 2021 e apenas nos centros das grandes cidades, mas pelo menos seu celular vai estar preparado.
(Aliás, é curioso que o Snapdragon 765, que é um processador voltado para celulares mais em conta, seja o primeiro da Qualcomm com um modem 5G integrado.)
Ainda com relação à conectividade, o Snapdragon 865 tem um chip batizado de FastConnect 6800, que suporta redes Wi-Fi 6 com velocidades de até 1,8 gigabits por segundo e o novo codec aptX Voice. A promessa é de qualidade de voz cristalina em ligações telefônicas por Bluetooth 5.1 — mas é claro que você também precisa de um fone de ouvido sem fio compatível com a nova tecnologia.
Para quem joga muito no celular, o Snapdragon 865 traz um novo processador gráfico, a Adreno 650, que promete 25% mais desempenho e 35% menos consumo de energia em relação à geração passada. Os celulares com essa GPU poderão rodar games em HDR em telas com taxa de atualização de 144 Hz, se o desenvolvedor fizer as adaptações necessárias.
A Qualcomm incluiu o que chama de “recursos de nível de desktop”. A característica mais curiosa é que o Snapdragon 865 terá drivers de vídeo atualizáveis: novas versões serão liberadas pelas fabricantes de smartphones por meio da Play Store, o que teoricamente pode trazer melhorias de desempenho para jogos lançados no futuro.
Outros nomes bonitos são o Snapdragon Elite Gaming, que adiciona recursos como controle de latência, otimização de áudio para fones Bluetooth, suporte a renderização de conteúdo em HDR10 e extensões anti-trapaça; e o Snapdragon Game Performance Engine, que gerencia a operação da GPU para manter a taxa de quadros constante por mais tempo.
A Qualcomm sempre anuncia um Snapdragon topo de linha no final do ano e, na prática, o evento funciona como uma prévia do que veremos nos smartphones do ano seguinte. O Snapdragon 855 permitiu avanços em inteligência artificial, leitor de impressões digitais ultrassônico sob a tela, filmagem com desfoque de fundo em tempo real e outras novidades.
Já o Snapdragon 865 é claramente focado em três pontos: câmera, 5G e games. É bem provável que os grandes celulares de 2020 destaquem suas fotografias de altíssima resolução, os vídeos gravados em 8K, a conexão rápida para games online e as telas com taxa de atualização mais alta — 60 Hz deverá ser coisa do passado, ao menos no segmento premium. É fato que 5G ainda não é realidade no Brasil, mas as novas redes serão instaladas pelas operadoras durante o tempo de vida de um smartphone com Snapdragon 865, então é importante que os aparelhos já estejam prontos.
Os primeiros celulares com Snapdragon 865 serão lançados já no primeiro trimestre de 2020. Por enquanto, cinco empresas confirmaram que vão usar o chip nos próximos lançamentos: Xiaomi, Motorola, Nokia, Oppo e Meizu. Boa parte dos aparelhos deve aparecer até o final de fevereiro, quando acontece a feira MWC Barcelona.
Paulo Higa viajou para o Havaí a convite da Qualcomm.
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