Bolsonaro promete “buscar CEO do WhatsApp” para ter Comunidades antes das eleições

"Comunidades" do WhatsApp não deve chegar ao Brasil até a conclusão do segundo turno das eleições de 2022; TSE fechou acordo com mensageiro para combater fake news

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 6 meses
Jair Bolsonaro (imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Jair Bolsonaro (imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste último sábado (16) que vai “buscar o CEO” do WhatsApp e entrar em contato com representantes do aplicativo no Brasil para que o recurso “Comunidades” seja liberado no país. Em um acordo com o TSE, o mensageiro se comprometeu em não lançar a nova função para os brasileiros antes do fim do período eleitoral de 2022, a fim de evitar a possível disseminação em massa de fake news.

As Comunidades do WhatsApp foram lançadas globalmente pela Meta (ex-Facebook) na última quinta-feira (14). Atualmente, os grupos do app de mensagens possuem um limite de 256 usuários, mas o novo recurso traria a possibilidade de unir milhares de pessoas, como estudantes e colegas de uma mesma empresa, para tratar de um assunto comum.

No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral entende que a função do aplicativo de mensagens poderia prejudicar o processo eleitoral se usada para a disseminação de fake news ao longo de 2022.

WhatsApp não lançará Comunidades antes das eleições

Por isso, o mensageiro se comprometeu em não realizar mudanças estruturais até a conclusão do segundo turno das eleições em outubro. O presidente, no entanto, criticou a medida e chegou a afirmar que iria barrar o acordo durante uma motociata em São Paulo na semana passada.

Em entrevista à CNN Brasil, Jair Bolsonaro disse que o governo federal deverá agendar uma reunião com representantes do WhatsApp no Brasil para discutir a matéria, insistindo que a medida interfere na “liberdade de expressão”.

Logotipo do WhatsApp
WhatsApp (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

“Já conversei com o Fábio Faria (Ministro das Comunicações), ele vai conversar com o representante do WhatsApp aqui no Brasil para explicar (o acordo)… se ele (WhatsApp) pode fazer um acordo com o TSE, pode fazer comigo também, por que não?”, disse Bolsonaro à CNN neste último sábado.

Vou buscar o CEO do WhatsApp essa semana e quero ver que acordo é esse. Se é para o mundo todo, não posso fazer nada, agora, se é só para o Brasil e volta a ser para o mundo todo depois das eleições, quer prova mais clara de interferência como essa na liberdade de expressão?”

Presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à CNN Brasil

Um dia antes, na sexta-feira, o presidente afirmou durante uma motociata em São Paulo que barraria o acordo entre o mensageiro e o TSE, mas não especificou como faria isso. Afinal, o governo federal não possui poderes para interferir diretamente na questão, que envolve apenas o Tribunal e a Meta, uma empresa privada americana.

“Já adianto que o que o WhatsApp está fazendo no mundo todo não tem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade para o Brasil, isso é inadmissível, inaceitável e não vai ser cumprido esse acordo que porventura eles tenham feito com o Brasil, segundo informações que eu tenho até o presente momento”.

Presidente Jair Bolsonaro, em motociata em São Paulo

Durante o ato, o líder do Executivo também caracterizou o acordo entre o WhatsApp e o TSE como uma afronta à “liberdade de expressão”. Á CNN, o político questionou: “agora, por que apenas para o Brasil o disparo em grupo poderá ser realizado depois das eleições? Depois das eleições não vai ter mais fake news?”

Telegram também foi cobrado por combate a fake news

Alexandre de Moraes
Alexandre de Moraes, Ministro do STF, ameaçou suspender Telegram (Imagem: Pedro França / Agência Senado)

O WhatsApp não é o único aplicativo de mensagens negociando com o Tribunal Superior Eleitoral. Durante o ano de eleições, as autoridades brasileiras estão buscando o auxílio e cooperação dos mensageiros para combater a disseminação de fake news, evitando assim interferências no processo eleitoral.

O Telegram também está na mira do TSE para garantir que as normas estabelecidas para as eleições de 2022 sejam cumpridas. No entanto, o caso do mensageiro de origem russa tem sido turbulento.

Enquanto o WhatsApp sempre se comunicou e cooperou com as autoridades brasileiras, o Telegram ignorou inúmeras tentativas de contato e chegou a ser intimado pelo Supremo Tribunal Federal, ameaçando a suspensão do app no Brasil caso não cumprisse com uma determinação do Ministro Alexandre de Moraes em meados de março.

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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