Linus Torvalds quer remover suporte a chips 486 no Linux (e isso é bom)

Chips 386 perderam suporte oficial no Linux em 2012; em breve, pode ser a vez dos processadores 486

Emerson Alecrim

Um dos primeiros PCs com os quais eu tive contato era equipado com um processador Intel 486. Representante de uma época, essa família de chips é suportada até hoje pelo Linux. Mas é possível que isso mude em um futuro próximo. Linus Torvalds já considera remover o suporte a processadores 486 do kernel.

Chips Intel 486 (imagem: reprodução/Soarmart)
Chips Intel 486 (imagem: reprodução/Soarmart)

Essa possibilidade já havia sido levantada em outros momentos. No ano passado, por exemplo, a ideia chegou a ser discutida, mas um desenvolvedor alegou ainda ter uma máquina baseada em i486 e Linux em operação.

O assunto ficou de lado, até que, recentemente, Torvalds trouxe a ideia à tona novamente na lista de discussão do kernel. Em uma das interações, ele apresenta a remoção de um componente como solução indireta para um problema no kernel tratado tópico. No final da mensagem, Torvalds pergunta:

Nós deixamos de dar suporte a i386 em 2012. Talvez tenha chegado a hora de nos livramos do suporte a i486 em 2022?

486: icônico, mas antigo

i486 e 486 são nomes que fazem referência aos chips 80486, lançados pela Intel no final dos anos 1980. Posteriormente, surgiram variações mais avançadas, como 80486DX e 80486DX2. O mercado também presenciou o lançamento de alternativas da concorrência, a exemplo da família Am486, da AMD.

Esses processadores são tão antigos que, hoje, é difícil encontrar máquinas baseadas neles em uso. As exceções vão para PCs mantidos por entusiastas ou por aplicações muito antigas, mas em operação até os dias atuais.

É por isso que Torvalds cogita remover o suporte à plataforma i486 do kernel. Em seu entendimento, isso não é importante atualmente. Na lista, ele reconheceu que ainda pode haver interesse no suporte, mas argumentou que “do ponto de vista do desenvolvimento do kernel, não acho que seja [algo] realmente relevante”.

Se funciona, por que mexer?

Remover código pouco (ou nada usado) pode contribuir para o desempenho, a manutenção e, sobretudo, a segurança do kernel. Não raramente, a preservação de determinados recursos requer adaptações em outros ou exige trabalho adicional.

Às vezes, o melhor jeito de se manter um projeto tão abrangente quanto o Linux é cortando o que não é essencial em vez de seguir com a política de abraçar o mundo.

Isso já foi feito antes. Como Linus Torvalds relembrou em sua mensagem, o kernel deixou de suportar chips i386 (anteriores ao i486, obviamente) em 2012.

Na ocasião, ele explicou que o suporte à arquitetura 386 “nos atormentou com trabalho adicional sempre que queríamos alterar as primitivas do SMP [multiprocessamento simétrico]”. O fim do suporte a i386 não deixou feridos, no fim das contas.

Linux
Linux (imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Aqui, a ideia seria a de exigir que o processador x86 tenha suporte à instrução cmpxchg8b (usada em operações que comparam informações de oito bytes na memória). Isso significa que somente chips Pentium e posteriores seriam oficialmente suportados pelo Linux.

Se a mudança ocorrer, não será de imediato. Atualmente, o kernel Linux está na versão 6.0. A próxima, a 6.1, pode ser lançada em dezembro e, por ser uma versão LTS (com suporte estendido), não deve passar por grandes modificações.

Há boas chances de que o fim do suporte a i486 no Linux aconteça a partir do kernel 6.2, portanto.

Para quem tem computadores 486, a saída é usar uma distribuição com uma versão antiga do kernel, como o próprio Torvalds (sarcasticamente) sugere: “algumas vezes, pessoas os têm como peças de museu. Elas também podem executar kernels de museu”.

Com informações: Phoronix.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.