Família de George Carlin processa autores de show fake feito com IA

Responsáveis pelo espólio do humorista, morto em 2008, pedem indenização e que todos os materiais do “especial” de comédia sejam destruídos

Felipe Freitas

A família de George Carlin, humorista americano morto em 2008, abriu um processo contra a Dudesy, empresa que publicou um especial de comédia de Carlin usando inteligência artificial. A ação foi publicada na última quinta-feira e exige, além da “destruição” de todos os materiais, uma indenização de valor não informado. O especial foi publicado no YouTube e já passa de 500 mil visualizações.

No processo, os responsáveis pelo espólio de Carlin destacam que a Dudesy violou os direitos de imagem, direitos autorais e usou a imagem do comediante sem permissão ou licenças. Na ação, os responsáveis afirmam que o especial destrói a reputação do humorista e deprecia os seus valores. O processo também explicará se o autor do texto do show, que segue no ar até a publicação desse texto, é uma IA ou um humano.

Família de George Carlin processa empresa

A Dudesy, criadora do especial de comédia “George Carlin: I’m Glad I’m Dead” e alvo do processo da família de Carlin, é uma empresa de mídia. Seu principal produto é o seu podcast “feito por uma IA” — foco nas aspas. O podcast da Dudesy é apresentado por Will Sasso e Chad Kultgen, dois humanos. Porém, a história do programa é que o criador e roteirista é o Dudesy, uma IA. Na verdade, mais parece que o Dudesy é um produtor usando algum efeito de voz ou escrevendo algo que será “lido” por um robô.

Dudesy é apresentado por Will Sasso e Chad Kultgen (Imagem: Divulgação/Dudesy)
Dudesy é apresentado por Will Sasso e Chad Kultgen (Imagem: Divulgação/Dudesy)

Sasso e Kultgen também são citados no processo. Assim que as primeiras reações do especial surgiram, os humoristas se pronunciaram. Eles afirmam que não há problema no conteúdo e que IA será usado para tudo no futuro. Apesar das mais de 500 mil visualizações, o especial conta com apenas 13 mil curtidas — o principal indicativo de que um vídeo não foi bem aceito desde que o YouTube encerrou a visualização dos dislikes.

Deixando de lado o papo de IA ser o futuro ou não, o problema, como bem destaca a ação, é o controle do que é falado. O documento diz que, se vivo, Carlin poderia ter opinião sobre os assuntos citados no vídeo (que envolvem temas como transexualidade, Trump e tiroteios em escolas). No entanto, seus comentários seriam realmente baseados em suas opiniões, e não no estudo de uma IA ou roteiristas imitando o seu estilo.

IAs e direitos de imagens dos mortos

A disputa da família de Carly contra a Dudesy é mais um ponto no debate sobre IA e direito de imagens dos mortos — e dos vivos. No ano passado, os atores de Hollywood entraram em greve contra o uso de IA e a precarização dos trabalhos desses profissionais. O sindicato dos atores via um risco de que os estúdios escaneassem o visual e voz dos atores para usarem “eternamente”.

Artistas como a humorista Whoopy Goldberg, o humorista Robin Williams e a cantora Madonna revelaram que seus testamentos proíbem uso de IA — no caso de Williams, a proibição é de uso por 25 anos.

No Brasil, a família de Elis Regina autorizou a criação de um deepfake para uma propaganda da Volskwagen. No anúncio, “Elis” faz um dueto com a sua filha Maria Rita, que tinha quatro anos quando sua mãe faleceu.

 Com informações: The Verge

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.