Empresa sabia de falha que resultou na perda de milhões de dólares em Ethereum
Já imaginou descobrir que os valores que você tem em uma criptomoeda ficaram inacessíveis da noite para o dia? Essa é angústia que muita gente está vivenciando com o Ethereum (ETH), provavelmente, a moeda digital mais conhecida depois do Bitcoin. Não há plano de recuperação em andamento. Para piorar, agora sabe-se que a brecha que permitiu o problema era conhecida e poderia ter sido barrada.
O problema afeta usuários que usam carteiras multi-sig (assinaturas múltiplas) na Parity Wallet ativas desde 20 de julho. Carteiras desse tipo contam com consentimento de várias partes a partir de contratos inteligentes para validar as transações. Trata-se de uma camada adicional de proteção.
Em julho, esse mecanismo precisou ser atualizado para corrigir uma falha que permitiu que 150 mil ETHs fossem roubados, na época, um valor equivalente a US$ 30 milhões. O problema é que o novo código acabou trazendo outra vulnerabilidade, justamente a que deixou centenas de carteiras no limbo.
Centenas mesmo: A Parity calcula que quase 600 carteiras foram afetadas. Elas acumulam um total de ETHs que, hoje, equivale a mais de US$ 160 milhões. No mesmo comunicado, a empresa reconhece que não há nenhum plano para reaver o acesso a esse montante. O problema é tão complicado que pode exigir mudanças em todo o ecossistema do Ethereum para ser corrigido.
O bug foi reportado no dia 6. Não está totalmente claro como o problema foi desencadeado, mas a teoria mais aceita é a de que um desenvolvedor assumiu a propriedade sobre o contrato de biblioteca da Parity ao explorar a falha; na sequência, ele eliminou o código do contrato na tentativa de reverter o efeito. Só que essa ação acabou removendo o controle que a Parity tinha. Eis a consequência: pelo menos 587 carteiras ficaram inacessíveis.
A Parity não está enrolando. Esse é mesmo um problema de difícil solução. O que deixou as “vítimas” enfurecidas foi a negligência. A própria Parity reconhece em um postmortem que, em agosto, um desenvolvedor alertou no GitHub sobre a necessidade de mudança no código da carteira, mas que interpretou o aviso como algo a ser tratado com um aprimoramento, não uma questão urgente de segurança.
Em outras palavras, o risco já era conhecido, mas não foi tratado com a devida importância. Uma empresa que enfrentou recentemente um problema sério de segurança — a falha que foi corrigida em julho — não deveria ter baixado a guarda.
Agora que o estrago está feito, só resta à Parity tentar algo para ao menos amenizar o problema. Uma das ideias consideradas passa até pela criação de um hard fork, ou seja, de uma alteração tão expressiva que os nós que compõem o sistema não conseguem validar os blocos, situação que acaba fazendo outra criptomoeda surgir.
Aguardemos os próximos capítulos.
Com informações: Motherboard, CoinDesk