EUA tentam evitar que outros países ajudem China a desenvolver chips
Japão e Países Baixos teriam feito acordo com os Estados Unidos que limita acesso da China a tecnologias para desenvolver e fabricar chips
Para os Estados Unidos, limitar o acesso da China a tecnologias de produção de chips é uma forma de evitar que o país avance em áreas militares. Para isso, o governo Biden teria fechado um acordo com Japão e Países Baixos. Esta última região é crítica: a ASML, uma das maiores fabricantes de equipamentos para chips, vem de lá.
Os Estados Unidos querem ser menos dependentes de companhias estrangeiras no mercado de semicondutores. Está aí uma das razões para o governo americano apoiar a instalação de novas fábricas da Intel em seu território. Mesmo sendo estrangeiras, TSMC e Samsung também vão construir fábricas de semicondutores por lá.
Também existe uma preocupação de que a China se torne autossuficiente em chips — ou algo perto disso. Esse temor vale não só para a fabricação, mas também para o desenvolvimento desse tipo de componente.
Esse não é um movimento recente. Basta levarmos em conta, como exemplo, que os Estados Unidos aplicaram sanções à SMIC no final de 2020. A companhia é a maior fabricante de semicondutores da China.
Na época, a SMIC era tida como fornecedora em potencial de chips para a também chinesa Huawei, que já sofria restrições comerciais por parte do governo americano.
Mas como Japão e Países Baixos entram nessa história?
Suposto acordo com Japão e Países Baixos
Além de um possível envolvimento com a Huawei, os Estados Unidos já desconfiavam de uma atuação da SMIC junto a forças militares chinesas.
Segundo o New York Times, o governo Biden teria chegado a um acordo com o Japão e os Países Baixos para evitar que a China avance em chips e, indiretamente, em tecnologia militar. Essa restrição também poderia dificultar o avanço dos chineses em inteligência artificial.
O Japão tem pelo menos duas empresas que podem fornecer equipamentos ou tecnologias para produção de chips: a Nikon e a Tokyo Electron.
Mas a fornecedora mais importante está nos Países Baixos. Hoje, a ASML é considerada a única companhia capaz de fornecer máquinas para as avançadas litografias baseadas em tecnologia ultravioleta, com destaque para a técnica Extreme Ultraviolet (EUV).
A EUV é essencial para a produção de chips cada vez mais miniaturizados. A tecnologia é baseada em um comprimento de onda muito curto, ideal para chips que têm 10, 7 ou menos nanômetros.
Máquinas do tipo são tão sofisticadas que, no início de 2022, a Intel fechou um acordo com a ASML para adquirir modelos Twinscan EXE:5200. Cada unidade saiu por US$ 340 milhões (a quantidade comprada não foi informada).
A ASML pode ser a mais afetada
Não há um anúncio oficial sobre o tal acordo dos Estados Unidos com Japão e Países Baixos, mas isso teria acontecido na semana passada. A Bloomberg ressalta, porém, que pode levar meses para as restrições serem oficializadas.
Na prática, alguma restrição já existe. À CNBC, Peter Wennink, CEO da ASML, declarou que a companhia está impedida há algum tempo de fornecer máquinas EUV para a China.
Mesmo assim, a empresa conseguiu fornecer maquinário DUV (menos sofisticado) para empresas chinesas em 2022. Isso fez a China responder por cerca de 15% das vendas da ASML no ano passado. Aparentemente, o novo acordo proibirá até o fornecimento de máquinas DUV.
Perder esse mercado seria desastroso. Não se sabe se haverá algum tipo de contrapartida dos Estados Unidos. Havendo ou não, Wennink dá a entender que esse não é o caminho. “Se [os chineses] não conseguirem as máquinas, eles próprios as desenvolverão”, disse o executivo à Bloomberg. “Pode levar tempo, mas eles chegarão lá”.