Google e Facebook se uniram em acordo ilegal? União Europeia quer descobrir

Reguladora antitruste da União Europeia quer saber se acordo de Meta e Google envolvendo encerramento do projeto “Jedi Blue” violou práticas competitivas

Pedro Knoth
Por
App Store, Facebook e Google (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

A Comissão Europeia, órgão antitruste da União Europeia (UE), abriu formalmente uma investigação para descobrir se o acordo entre o Google e a Meta, companhia dona de Instagram, WhatsApp e Facebook, violou práticas competitivas no campo de anúncios digitais. O Facebook teria desistido do projeto “Jedi Blue” após aceitar favores do rival para ter prioridade na compra de espaços em propaganda na internet.

Google e Facebook competem no ramo de publicidade digital, além de outros, porque as duas empresas obtêm grande parte de seu lucro trimestral a partir de ferramentas de publicidade online.

Contudo, em setembro 2018, o Facebook teria aberto mão de um ecossistema de anúncios digitais que o colocaria frente a frente na disputa com o Google, chamado Jedi Blue. Foi feito um acordo para que o projeto fosse interrompido, e a empresa controlada pela Alphabet Inc. prometeu, em troca, priorizar a companhia de Mark Zuckerberg na venda de espaços em anúncios.

A Comissão Europeia levantou a preocupação de que o acordo de 2018 sobre o Jedi Blue “seja parte dos esforços para excluir concorrentes do leilão no programa de Open Bidding do Google, e, portanto, restringir e limitar a competição em mercados de anúncios digitais”.

O Open Bidding é um programa que agrega solicitações de anúncios gerenciadas pelo Ad Manager. Depois que um pedido para ocupar um espaço de propaganda é feito ao Google, a ferramenta de anúncios realiza um leilão unificado para determinar qual peça publicitária gera o melhor rendimento, usando informações como segmentação de público.

O acordo com o Google colocou o Facebook em primeiro lugar na fila do programa de Open Bidding ao enviar solicitações de anúncios.

Acordo de Google e Meta é alvo de processos nos EUA

Antes de ser investigado pelo órgão antitruste da União Europeia, a interrupção do Blue Jedi já foi alvo de 15 processos abertos na Justiça dos Estados Unidos, por procuradores-gerais de estados do país. As ações judiciais acusam alguns dos maiores executivos de Facebook e Google, incluindo os CEOs de ambas as empresas, Mark Zuckerberg e Sundar Pichai, de assinarem o acordo.

A conclusão dos procuradores-gerais dos estados dos EUA é de que as duas, dentre as maiores empresas de tecnologia do mundo, se aliaram para economizar dinheiro e prejudicar rivais.

O órgão que fiscaliza acordos, compras e fusões de empresas no Reino Unido, a CMA (Competition Markets Authority), também abriu uma investigação sobre o Blue Jedi. “Estamos preocupados que o Google pode ter feito uma parceria com a Meta para impor barreiras no caminho de concorrentes que oferecem espaços para anúncios”, disse Andrea Coscelli, chefe da entidade.

Página do Google Ads (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Página do Google Ads (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Mesmo com a investigação sobre Meta e Google, a chefe de fiscalização em competições da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, disse ao Financial Times que é possível que apenas a companhia controlada pela Alphabet Inc. seja responsabilizada:

“Nós ainda não concluímos se esse foi um plano apenas do Google ou se a Meta se envolveu. Não é certo, contudo, que a dona do Facebook estava ciente dos efeitos do acordo, e nós ainda precisamos investigar isso.”

Google e Meta dizem que investigações estão enganadas

Em contrapartida, Google e Meta comentaram à Reuters que as investigações da Comissão Europeia e da CMA estavam enganadas.

“As alegações feitas sobre esse acordo são falsas. O tratado entre empresas é pró-competição e permite a participação da Facebook Audience Network (FAN) no programa de Open Bidding, assim como dezenas de outras companhias. Tudo é notório e documentado.”

– Google

“O acordo não exclusivo da Meta com o Google sobre solicitações de anúncios, além de outros contratos, ajudaram a fomentar a competição na disputa pelo ranking de propagandas na internet.”

– Meta

Caso sejam condenadas pela União Europeia, as empresas podem ser obrigadas a pagar uma multa, que pode chegar a 10% de sua receita anual. Mas investigações de big techs pela comissão antitruste da UE costumam levar anos para serem concluídas, dando margem para que Meta e Google entrem com vários recursos, apelando contra qualquer decisão.

Com informações: The Verge

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

Relacionados