O que é obsolescência programada?

Feitos para quebrar: a obsolescência programada é uma estratégia de mercado que força o consumidor a sempre comprar novos modelos do mesmo produto.

Ronaldo Gogoni
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• Atualizado há 1 ano e 1 mês
E-waste / Smartphones / obsolescência programada

Todo produto possui uma vida útil, o tempo médio que ele resiste ao uso antes de apresentar problemas por desgaste. No entanto, muitas empresas buscam controlar por quanto tempo um smartphone, impressora, TV e outros eletrônicos resistirão antes do fim, de modo a forçar o consumidor a sempre repor o mesmo dispositivo por um mais novo. Isso é o que chamamos de obsolescência programada.

O que é?

O conceito de obsolescência programada é bastante antigo, suas origens remontam ao fim do século XIX até sua adoção massiva nos anos 1920, com o boom dos automóveis. Trata-se de uma estratégia de mercado focada em desenvolver produtos com falhas planejadas, ou recursos a menos, de modo a oferecer um modelo posterior com correções/mais funcionalidades, mas com outros problemas pré-fabricados.

Assim, o consumidor é induzido a comprar o mesmo item várias vezes, em diferentes versões.

A ideia é fazer com que um produto se torne obsoleto antes do tempo médio de vida útil, seja por não contar com recursos presentes em modelos mais novos, seja por apresentar uma série de problemas depois de um determinado tempo – que não estão diretamente ligados a desgaste natural.

E-Waste / obsolescência programada

Resumindo, a obsolescência programada prevê a implementação de um design de produtos “feitos para quebrar”.

Tipos de obsolescência programada

Além de utilizar meios para que os produtos deem defeito antes da hora, há outras estratégias usadas pela indústria para estimular o consumidor a sempre comprar novos produtos:

  • Prevenção de reparos: itens de uso único que não podem ser consertados, como câmeras descartáveis;
  • Redução do apelo: tornar o design do produto antiquado ao remodelar sua aparência a cada nova atualização, apelando para o senso estético do consumidor e seu desejo de sempre ter o que há de mais moderno. Os produtos da Apple, que mudam constantemente de aparência são um bom exemplo;
  • Obsolescência sistêmica: tornar um produto defasado através do software, seja inserindo erros propositais ou induzindo o consumidor ao erro (como quando a Apple reduziu a performance de iPhones com baterias antigas), ou deixando de fornecer atualizações (o sistema Android, por decisão do Google, recomenda aos fabricantes oferecerem updates por até 18 meses, mas há casos de smartphones que não recebem nenhuma atualização significativa).

É preciso também levar em conta a percepção do consumidor. Se um produto possui mais de uma versão disponível, ele dará preferência sempre ao mais novo em detrimento do “velho” que já possui, mesmo que ele continue funcionando perfeitamente bem.

Por isso que quando olhamos para lançamentos de smartphones, os fabricantes estão sempre tentando incluir novos recursos: mais câmeras, telas maiores, melhor resolução, melhor som, mais desempenho, mais bateria, etc. É o que chamamos de obsolescência percebida.

Tudo para que o consumidor continue a sempre comprar um aparelho novo todos os anos, se não antes.

E-Waste / notebooks / obsolescência programada

A obsolescência programada é ruim para o meio ambiente?

Sim, e muito. A geração de lixo eletrônico é um problema desde o início da computação pessoal, mas piorou bastante com a ascensão da telefonia móvel e à medida que computadores, impressoras e outros produtos similares se tornaram cada vez mais acessíveis. Para muita gente, comprar um produto novo é muito mais simples do que consertá-lo e, em muitos casos, chega a ser até mais barato.

O problema é que o lixo eletrônico contém uma série de elementos prejudiciais ao meio ambiente, caso não seja descartado da forma correta. Alguns não são biodegradáveis e levarão centenas de anos para se decompor, contaminando o solo enquanto isso.

Há também uma quantidade considerável de materiais nobres, como ouro, prata, platina e cobre, que são mais valiosos, mas os custos para reciclá-los são bastante elevados.

Para dar uma ideia, dentro de um ano, a Apple reciclou uma tonelada de ouro presente em iPhones antigos, no valor de US$ 40 milhões (dados de 2016); só que ela gastou muito mais para fazê-lo. E mais, quase sempre o trabalho bruto de separação de componentes é feito em condições precárias, por pessoas de baixa renda que ficam expostas aos materiais tóxicos, e não em laboratórios bonitinhos.

A maior parte dos resíduos eletrônicos são despachados para países em desenvolvimento como China, Índia, Gana, Paquistão e outros. Segundo dados de 2017 do Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente, a indústria tecnológica produz uma média aproximada de 41 milhões de toneladas de lixo por ano.

E-Waste / obsolescência programada

A obsolescência programada pode ser evitada?

Sim, mas depende de um esforço conjunto da indústria, que não está interessada em vender menos produtos e dos governos, que precisam ser mais pró-ativos no combate à geração de lixo eletrônico. A União Europeia é um dos blocos que está batendo de frente com uma série de fabricantes, como no caso em que discute a imposição de um carregador de celular padrão e uma porta de conexão única. A Apple é contra trocar o Lightning pelo USB-C, até porque vai perder dinheiro com patentes.

Individualmente, a França é um dos países europeus com uma das legislações mais duras criadas, especificamente, para combater a obsolescência programada.

Aprovada em 2015, ela já permitiu que consumidores processassem fabricantes de impressoras como HP, Epson, Canon e outras por fazerem com que seus periféricos detectassem erroneamente que os cartuchos de tinta estavam vazios, forçando a compra de novos antes que esvaziassem (como se tinta de impressora já não fosse cara o bastante).

O consumidor pode também fazer a sua parte, evitando adquirir novos dispositivos cada vez que um novo modelo é lançado, apenas para ficar “em dia” com os lançamentos. Dessa forma, se cada um fizer sua parte, a quantidade de lixo eletrônico pessoal gerada será bem menor com o passar do tempo.

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Ronaldo Gogoni

Ronaldo Gogoni

Ex-autor

Ronaldo Gogoni é formado em Análise de Desenvolvimento de Sistemas e Tecnologia da Informação pela Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo). No Tecnoblog, fez parte do TB Responde, explicando conceitos de hardware, facilitando o uso de aplicativos e ensinando truques em jogos eletrônicos. Atento ao mundo científico, escreve artigos focados em ciência e tecnologia para o Meio Bit desde 2013.

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