Review Lenovo Legion Phone Duel: luzes, som e potência
Celular gamer da Motorola e Lenovo escorrega em pontos básicos, mas tela de 144 Hz e som poderoso não deixam de impressionar
Celular gamer da Motorola e Lenovo escorrega em pontos básicos, mas tela de 144 Hz e som poderoso não deixam de impressionar
A marca da Lenovo volta a estampar um celular no Brasil com o Legion Phone Duel. O primeiro smartphone assumidamente gamer vendido pela Motorola no país traz luzes piscantes na traseira, muita potência, tela de 144 Hz e soluções de design engenhosas, incluindo uma câmera retrátil na lateral e não uma, mas duas portas USB para acelerar o carregamento da bateria.
Como você poderia imaginar, o Legion Phone Duel é bem caro. Por R$ 7.199 no lançamento, o celular é equipado com Snapdragon 865 Plus, alto-falantes estéreos, refrigeração líquida e tudo mais. Mas será que vale a pena? Eu usei o novo celular gamer da Motorola nas últimas semanas e conto minhas impressões a seguir.
O Tecnoblog é um veículo jornalístico independente que ajuda as pessoas a tomarem sua próxima decisão de compra desde 2005. Nossas análises não têm intenção publicitária, por isso ressaltam os pontos positivos e negativos de cada produto. Nenhuma empresa pagou, revisou ou teve acesso antecipado a este conteúdo.
O Legion Phone Duel foi fornecido pela Motorola por empréstimo e será devolvido à empresa após os testes. Para mais informações, acesse tecnoblog.net/etica.
O design é o ponto que mais chama atenção no Legion Duel, não só pelo visual espalhafatoso, mas também pela engenharia do produto, que é claramente feito para ser usado no modo paisagem. Nada é muito normal aqui: a câmera frontal está na lateral; a bateria é dividida em duas células que podem ser carregadas em duas portas diferentes; e um dos lados esconde botões sensíveis à pressão que funcionam como gatilhos em jogos compatíveis.
Logo de cara, o Legion Duel impressiona pelo tamanho, maior que um iPhone 12 Pro Max, e pelos 239 gramas, acima de qualquer outro smartphone convencional que você encontra por aí. Na traseira, tanto a marca Legion quanto o símbolo de “Y” acendem enquanto você estiver usando o celular. Se quiser, dá para mudar a cor dos LEDs e escolher um efeito de movimento; o mais chamativo possível é o vermelho piscante, para mostrar para todo mundo que você chegou.
O Legion Duel me lembra os notebooks gamers com visual mais excêntrico, que trazem luzes piscantes em todo canto e vários detalhes coloridos em um corpo espesso e pesado. Teoricamente, é até possível usar o celular em qualquer lugar, mas na prática ele tem um design pouco versátil que exige um belo desprendimento social para sacá-lo do bolso quando estiver fora de casa.
Se o design é um divisor de opiniões, a tela é quase uma unanimidade: é tão exagerada que é difícil apontar defeitos nela. O painel AMOLED de 6,65 polegadas é muito brilhante, tem excelente nitidez graças à resolução Full HD+ e surpreende pela fluidez com sua taxa de atualização de até 144 Hz. A resposta ao toque de 240 Hz também garante reconhecimentos rápidos e precisos.
Por padrão, a tela do Legion Duel vem configurada para 90 Hz, um bom meio-termo para não gastar tanta bateria quanto os 120 ou 144 Hz, mas suficiente para qualquer um perceber a diferença na fluidez nas animações em relação aos tradicionais 60 Hz. O software detecta quando um jogo está rodando e alterna automaticamente a taxa de atualização para 144 Hz, então você não precisa se perder nas configurações.
Mas vale a ressalva: eu já comentei em reviews anteriores que taxas de atualização acima de 90 Hz são uma especificação supervalorizada por uma bolha e mantenho minha posição. Poucos notam a vantagem dos 144 Hz (ou até mesmo dos 120 Hz) em uma tela de celular, e boa parte dos jogos para Android roda a 60 fps, seja por restrições impostas pelo desenvolvedor ou pela limitação de potência do chip gráfico. É como uma tela 4K em um smartphone: se tiver, ótimo; se não tiver, não muda uma decisão de compra.
Sob o painel, existe um leitor de impressões digitais óptico que foi minha primeira decepção. Para começar, ele só funcionou com a tela ligada: eu preciso dar um toque duplo para ativar o display e só então colocar o dedo. Uma alternativa foi habilitar o Always On Display, mas isso não deveria ser necessário. Além disso, a área de reconhecimento é pequena e a velocidade de desbloqueio é lenta, me lembrando a primeira geração desses sensores, como o que equipava o Galaxy A50.
Já os alto-falantes podem decidir uma compra, pelo menos se você conseguir escutá-los pessoalmente. O Legion Duel tem um dos melhores áudios integrados que eu já ouvi, do tipo que faz várias caixinhas de som Bluetooth perderem o sentido. Os graves têm aquele corpo que um alto-falante convencional de celular não consegue tocar, e os médios são ricos e detalhados, tornando os diálogos de filmes mais envolventes (e os jogos também, claro).
Infelizmente, talvez para impressionar, a Lenovo exagerou no limite de volume e os agudos podem ficar estridentes quando o som está perto do máximo. Mas, em níveis normais, é sensacional apreciar a amplitude sonora do conjunto estéreo do Legion Duel e perceber que tudo isso está dentro de um celular.
O Android 10 do Legion Duel roda a interface ZUI, da Lenovo, com direito a um tema que guarda semelhanças com os detalhes estéticos do celular. Assim que você liga o smartphone pela primeira vez, pode escolher entre um visual sóbrio, sem muita invencionice e mais parecido com a interface da Motorola; ou um visual gamer, com desenhos em torno dos ícones e um esquema de cores mais escuro.
De fábrica, o aparelho vem com o pacote de aplicativos do Google pré-instalado, além de ferramentas como bússola, gravador de som e o Legion Realm, que funciona como uma central para configurar os gatilhos, a qualidade de som e o Não Perturbe enquanto você estiver jogando.
O Legion Realm oferece acesso fácil aos jogos que estão instalados no aparelho e detecta quando um game está rodando para aplicar as configurações de tela, som e desempenho específicas. Achei estranho que Real Racing 3, um título que a própria Lenovo indica para testar os motores de vibração do celular, não foi identificado logo de cara; tive que adicioná-lo manualmente para que a mágica acontecesse.
O principal problema do software é a falta de uma boa política de atualizações. Publicamente, a Motorola só promete uma nova versão de Android, o que já seria ruim para um topo de linha, mas o agravante é que o Legion Duel foi lançado com uma versão desatualizada. Ou seja, o aparelho só tem garantia para o Android 11, que foi lançado em 2020.
Além disso, o compromisso de correções de segurança por apenas dois anos e em periodicidade trimestral é pouco não só quando comparado com a Samsung e o Google, mas também ao analisamos o passado da Motorola, quando a empresa já chegou a ser referência de mercado e um exemplo para as concorrentes.
O conjunto óptico do Legion Duel é mais simples do que estamos acostumados a ver em um celular dessa faixa de preço. Apenas duas câmeras estão no meio da traseira: uma principal de 64 megapixels com abertura f/1,9 e uma ultrawide de 16 megapixels com abertura f/2,2. Elas filmam em 4K a no máximo 30 quadros por segundo, abaixo do 4K60 ou até 8K24 dos concorrentes da mesma categoria.
Apesar de os números não impressionarem à primeira vista, até que as câmeras do Legion Duel fazem um bom trabalho em fotografia. Tanto a principal quanto a ultrawide têm boa definição e pouco ruído. A saturação das cores é bem forte em alguns casos, mas não chega a deixar um aspecto artificial. O alcance dinâmico do sensor é ótimo para um celular que não tem grandes pretensões em agradar amantes de fotografia.
Como a câmera traseira principal tem resolução alta, de 64 megapixels, ela também funciona como um “aprendiz de teleobjetiva”: com zoom digital de até 2x, as imagens ficam perfeitamente usáveis, com boa riqueza de detalhes. E o modo noturno, que só pode ser usado na lente principal, me agrada até um pouco mais que o da linha Moto: o pós-processamento da Lenovo não clareia tanto a foto e o filtro de nitidez não é tão pesado.
Já a câmera frontal de 20 megapixels é um dos pontos mais curiosos do Legion Duel. O mecanismo retrátil, que posiciona a câmera no centro enquanto se usa o celular no modo paisagem, é ágil e sobe em menos de um segundo. É difícil prever a durabilidade desse sobe-desce no longo prazo, mas não dá para dizer que a Lenovo não se esforçou: um sensor de queda permite que a lente se recolha automaticamente se detectar que o celular está caindo.
As selfies com a câmera frontal agradam, mas com ressalvas. A Motorola parece ter esquecido de adaptar o processamento das fotos ao gosto do brasileiro, e o Legion Duel vem configurado por padrão com um modo de embelezamento bem agressivo, típico de celulares asiáticos, que deixa a pele clara demais e até afina o rosto. Felizmente, dá para desativar os filtros com dois toques, e as fotos passam a ter boa definição e cores acertadas.
O Legion Duel é equipado com o processador que já foi o melhor para games em um Android, o Snapdragon 865 Plus, que acompanha 12 GB de RAM e 256 GB de espaço na versão comercializada no Brasil. Apesar de não ter o chip mais recente da Qualcomm, o celular gamer da Lenovo ainda possui hardware suficiente para rodar bem qualquer jogo.
Asphalt 9 fica em 60 fps durante todo o tempo com os gráficos no máximo. Em Alto’s Adventure, dá para se deliciar com a suavidade dos 144 fps enquanto você desce uma montanha. Real Racing 3, um jogo que eu não testava há muito tempo, também fica bonito e fluido na tela do Legion Duel, com o bônus de fazer os motores duplos de vibração trabalharem bem para aumentar a imersão durante a corrida.
É claro que o Legion Duel esquenta quando é muito demandado, especialmente se você aumentar o brilho da tela. Mas, fora o pequeno incômodo nas mãos, esse poder de fogo não causou nenhum estrangulamento térmico grave que afetasse o desempenho gráfico do aparelho. A Motorola diz que o celular tem um sistema de refrigeração líquida duplo, com camadas de grafite e tubos de cobre. Parece eficiente.
Assim como o Motorola Edge+, o Legion Duel não é compatível com o 5G DSS das operadoras brasileiras, como a Claro e a Vivo, apenas com as frequências que ainda serão licitadas pelo governo, como a de 3,5 GHz. Mas o mais curioso é que o 5G do Legion Duel vem bloqueado por software e só será liberado em uma atualização futura. Isso significa que, mesmo que você esteja em um país com 5G de verdade, talvez ainda não consiga acessar a nova rede. Não é o fim do mundo, mas vale menção.
Já a bateria de 5.000 mAh é apenas satisfatória para um celular do porte do Legion Duel. No teste padrão de quarentena, com três horas de streaming na Netflix, uma hora de navegação e meia hora de Asphalt 9, sempre com brilho no máximo e conectado ao Wi-Fi, a carga passou de 100% para 39%, resultado bem inferior aos 59% do Motorola Edge+ e levemente pior que os 41% do Galaxy S21.
O interessante é que o Legion Duel gastou mais bateria não enquanto estava rodando Asphalt 9, algo esperado no modo de 144 Hz, mas sim ao reproduzir as três horas de Netflix, o que drenou quase metade da carga. Isso indica que, mesmo na configuração padrão de 90 Hz, a tela do celular gamer da Lenovo tende a gastar bastante energia. E, claro, os LEDs na traseira roubam um pouco de carga também.
Só não dá para considerar que o Legion Duel é ruim de bateria porque o carregamento é muito rápido. As duas células de 2.500 mAh podem ser abastecidas simultaneamente a 45 watts por meio das duas portas USB-C, resultando em uma potência total de 90 watts. Em alguns países, a Lenovo envia um carregador de duas portas, mas infelizmente a Motorola decidiu incluir um modelo mais simples de 45 watts no Brasil. Se você tiver qualquer outro carregador mais potente, pode usá-lo em conjunto com o que já vem na caixa.
E, de fato, a velocidade de carga no modo de carregamento turbo duplo é bem impressionante. Partindo de tanque zerado, eu conectei o carregador de 45 watts da Motorola na lateral e um adaptador de MacBook de 61 watts na parte inferior. Em 5 minutos, a carga chegou a 10%. Em 10 minutos, 27%. Em 20 minutos, 55%. E, meia hora depois, a bateria já estava em 74%. Os 100% foram atingidos em 58 minutos. Esquenta? Claro que esquenta. Mas é tão rápido que é difícil voltar para outro celular sem esse recurso.
O Legion Duel é um smartphone cheio de poréns e entretantos, como ficou claro ao longo do review. O design foge do convencional e traz inovações, mas é pesado e pouco versátil. O software até tem recursos úteis, mas perde pontos pela péssima política de atualizações para um topo de linha. E o desempenho é muito bom, mas passa uma impressão de hardware “velho”, uma vez que os celulares com Snapdragon 888 já começaram a ser lançados.
Além disso, eu tenho restrições com o conceito de “celular gamer”. Um notebook gamer é mais espesso, pesado e tem bateria que dura menos, mas compensa isso com uma placa de vídeo mais potente. Já no mercado atual de smartphones, um celular gamer compartilha o mesmo processador Snapdragon de um modelo não gamer. A vantagem do desempenho acaba ficando nos detalhes, por conta de um resfriamento térmico superior ou um pequeno aumento na frequência da CPU ou GPU.
O preço de lançamento de R$ 7.199 também colabora para desmerecer o Legion Duel, já que o Motorola Edge+ custa R$ 4.500 no varejo no momento da publicação deste review. Ter 144 Hz, um hardware um tiquinho mais potente, um som incrível e um carregamento rapidíssimo é legal, mas talvez não compense as câmeras inferiores e os quase três mil reais de diferença para o topo de linha “não gamer” da Motorola. Quando as cifras forem mais próximas, o Legion Duel pode fazer sentido.
Para uma primeira tentativa, o Legion Duel trouxe novidades até interessantes. Quem sabe na próxima geração?