Review LG G6: voltando ao básico
Depois de fracassar com o modular G5, a LG aposta (e acerta) no caminho mais simples
Depois de fracassar com o modular G5, a LG aposta (e acerta) no caminho mais simples
Depois de perder uma geração com o smartphone modular G5, a LG voltou para trazer o G6, um flagship que tenta oferecer o melhor que a empresa tem para dar.
No G6, a LG desistiu dos módulos e seguiu por um caminho mais seguro, criando um smartphone mais simples, sem nenhum recurso mirabolante. Ele se destaca pelo visor de 5,7 polegadas que domina a parte frontal, continua com as duas câmeras na traseira e agora traz hardware potente, mesmo na versão brasileira.
O smartphone chegou bem caro ao Brasil, com preço sugerido de R$ 3.999. Será que o G6 é bom? Como ele se compara ao seu principal concorrente? Foi uma boa decisão ter equipado o smartphone com um processador do ano passado? Eu conto tudo nos próximos minutos.
Seguindo a tendência de smartphones com molduras cada vez menores, o G6 aumentou de tela em relação ao G5, mas não aumentou de tamanho. Mesmo com painel maior, de 5,7 polegadas, contra 5,3 polegadas do antecessor, ele é menos comprido e menos largo. A ergonomia, no entanto, não melhorou: por ser mais reto, com uma curvatura quase imperceptível na traseira, ele não encaixa tão bem na mão como o aparelho anterior.
A traseira do G6 é de vidro, voltando às origens da linha G. Na cor prata, há uma agradável pintura que lembra metal escovado. Foram embora os calombos na região da câmera traseira e do sensor biométrico — que, embora tenha um posicionamento ruim, como já comentei em outros reviews, é menos pior que no Galaxy S8 por estar em uma região onde o seu dedo indicador alcança naturalmente, sem exercício de alongamento.
O leitor de impressões digitais é preciso e desbloqueia o aparelho rapidamente. Ele está integrado ao botão liga/desliga, que pode ser incômodo para quem mantém o aparelho sobre a mesa, por estar na traseira. No entanto, a LG continua com um recurso que melhora a experiência: toque duas vezes para ligar a tela, ou faça uma combinação de toques com a tela desligada para desbloquear o aparelho com o Knock Code.
O G6 não tem bateria removível. Parece estranho falar isso em pleno ano de 2017, mas é a primeira vez que isso acontece no flagship da LG desde o G2. O único compartimento acessível é o slot para microSD e chip de operadora, no singular. É uma pena que a LG não tenha partido para o dual SIM, característica presente no Galaxy S8 e no Moto Z, que facilita a vida de quem tem duas linhas ou quer fugir do roaming internacional.
A boa novidade dentro da linha de smartphones da LG é o fato do G6 ter certificação IP68, sendo resistente contra água e poeira. Isso evita que o aparelho estrague em acidentes envolvendo piscinas, cafés ou toddynhos, e já deveria ser padrão em todos os smartphones caros (estou olhando para você, Lenovo).
A frente do smartphone é dominada pela tela de 5,7 polegadas com resolução de 2880×1440 pixels. A LG sempre fez painéis IPS excelentes nos topos de linha, e isso continua no G6. Ele traz uma tela com brilho forte, ótimo contraste e cores agradáveis, sem o excesso de saturação de AMOLEDs descalibrados. O preto não é totalmente preto, mas é um dos mais escuros que eu já vi em uma tela LCD.
Um detalhe é que a tela do G6 tem uma proporção incomum, de 18:9 (2:1), sendo um pouco mais alta que os displays com o tradicional 16:9. Assim como acontece no Galaxy S8 (18,5:9), os vídeos que você consome no YouTube, na Netflix ou em qualquer outro serviço acabam criando barras pretas nas laterais. Em aplicativos, no entanto, não houve problemas de compatibilidade.
Outra característica à frente do nosso tempo é ser o primeiro smartphone com Dolby Vision. Essa é apenas uma das tecnologias de HDR disponíveis no mercado e, além da tela, o conteúdo precisa estar preparado para exibir cenas de maior alcance dinâmico. No entanto, apenas Netflix e Prime Video anunciaram o suporte ao Dolby Vision, sendo que a Netflix nem sequer havia atualizado seu aplicativo nos meus testes — por isso, eu não tenho como dizer se isso realmente faz alguma diferença.
Fato é que, mesmo sem embarcar no AMOLED em smartphones, a LG continua fazendo um ótimo trabalho em telas.
O G6 traz o Android 7.0 Nougat de fábrica, mas a interface é basicamente a mesma que a LG utilizava no Marshmallow no G5. Por padrão, todos os ícones e widgets ficam espalhados nas telas iniciais, em uma abordagem parecida com a do iOS, mas é possível voltar com o menu de aplicativos se você prefere o estilo tradicional do Android — como é o meu caso.
O sistema não é tão carregado. Além do pacote padrão do Google, a LG manda alguns aplicativos de suporte, um player de música próprio, um otimizador de memória, uma ferramenta para fazer anotações à mão e um gravador de voz HD. Não há joguinhos de demonstração, nem um monte de aplicativos inúteis pré-instalados, o que é uma boa notícia para o limitado armazenamento de 32 GB.
A LG adaptou alguns aplicativos para que eles funcionassem melhor com a proporção de tela 18:9. No modo paisagem, a agenda divide a tela em dois quadrados exatos, um deles com a lista dos eventos no dia selecionado e outro com o calendário, por exemplo. A câmera, por sua vez, pode tirar fotos quadradas e mostrar a prévia da foto em tamanho grande.
Até o gravador de voz teve a interface adaptada. Ele também se aproveita do hardware de áudio mais sofisticado do G6, permitindo gravar em FLAC a 24 bits e amostragem de 192 kHz — uma boa ideia se você tiver um microfone de boa qualidade. A versão do G6 comercializada no Brasil, a H870, é a mesma vendida na Europa, que não possui o carregamento wireless do modelo americano.
Uma das novidades destacadas pela LG no G6 é o suporte ao Google Assistente — este é o primeiro smartphone não produzido pelo Google a trazer o recurso. O detalhe é que, por enquanto, ele só pode ser ativado em inglês. Se você quiser acionar o assistente virtual em português, vai precisar instalar o aplicativo de mensagens Allo ou uma versão beta do Google Now Launcher, como em qualquer outro Android.
A câmera dupla do G6 continua com a lente normal e a grande angular do G5, mas houve um avanço impressionante na qualidade da fotografia. Agora, ambos os sensores de imagem têm resolução de 13 megapixels, diferente do smartphone anterior, que tinha um componente inferior para a grande angular, prejudicando bastante as capturas em condições de baixa iluminação.
Para avaliar as câmeras do G6, preciso levar em conta fatores subjetivos e objetivos. O subjetivo é que o pós-processamento da LG continua agressivo demais para o meu gosto: há uma tentativa de forçar cores na vegetação ou no céu, que chega a ficar artificialmente azulado até quando o dia está nublado. Além disso, a câmera suaviza as cenas ao ponto de dar um “efeito aquarela”, perdendo detalhes de objetos.
Em termos mais objetivos, a câmera com lente normal do G6 (f/1,8) tira fotos com bom alcance dinâmico, baixo ruído e nível de detalhes decente mesmo em ambientes com iluminação ruim. A grande angular (f/2,4) não tem estabilização ótica e também sofre um pouco mais para capturar informações e manter o ruído sob controle. A qualidade da imagem é visivelmente inferior, havendo presença de aberrações cromáticas, mas o “abismo” é bem menor que nas câmeras do G5 SE.
O que definitivamente poderia ser melhor é a câmera frontal, que sofreu um downgrade em números do G5 para o G6, passando de 8 para 5 megapixels e fechando a lente de f/2 para f/2,2. Em comparação com outros topos de linha, dá para ver que as selfies poderiam ter definição melhor e depender menos do pós-processamento para forçar uma nitidez que o sensor não conseguiu capturar.
A LG não insistiu no erro e trouxe um G6 com o mesmo processador dos outros países ao mercado brasileiro. É verdade que se trata de um chip da geração passada, o Snapdragon 821, não o Snapdragon 835. No entanto, embora isso signifique que o G6 tenha uma vida útil menor que a dos outros topos de linha lançados em 2017, o fato é que, hoje, trata-se de um hardware que faz tudo com um pé nas costas.
Com 4 GB de RAM, o desempenho multitarefa é muito bom, e eu não sofri com engasgos na interface, como espero de qualquer smartphone caro. Mesmo jogos com gráficos mais elaborados, como Unkilled e Breakneck, rodam sorrindo na GPU Adreno 530.
O maior defeito do hardware é o armazenamento interno de 32 GB. Ainda que o G6 seja expansível, o microSD é mais lento que a memória flash do aparelho. E quando você pensa em um smartphone que filma em 4K, que é o mais sofisticado da marca e, principalmente, que custa R$ 3.999, é inconcebível ter só isso de espaço. Até o Moto G5, de R$ 999, tem 32 GB de memória.
A bateria de 3.300 mAh, pelo menos, está dentro da média dos topos de linha. O resultado foi semelhante ao do Galaxy S8, que traz um componente com capacidade ligeiramente menor (3.000 mAh), mas vem com processador atualizado, que tende a consumir menos energia fazendo a mesma tarefa.
Nos meus dias de teste, eu utilizei o G6 das 9h às 23h, e a bateria sempre caiu de 100% para algo entre 20% e 30%, com 2 horas de streaming de música no 4G e 1h30min a 1h50min de navegação, também na rede móvel, sempre com brilho no automático. É uma marca suficiente para atender a maioria dos usuários durante um dia inteiro — não impressiona, mas também não decepciona.
A LG se redimiu. O G6 corrige as principais falhas da geração passada: as duas câmeras traseiras são capazes de tirar fotos de boa qualidade, o hardware não foi capado no mercado brasileiro, o design está mais refinado e não há mais os módulos pouco interessantes e mal executados do antecessor. O G6 é o que o G5 deveria ter sido desde o começo.
Mas não há como ignorar o preço sugerido de R$ 3.999. O valor cobrado pela LG não só é alto demais: é simplesmente errado. É o mesmo preço do Galaxy S8, que é um produto superior em todos os quesitos, trazendo câmera melhor, processador melhor, tela melhor e capacidade de armazenamento decente. O G6 é um belíssimo concorrente do Galaxy S7, mas não há nem o que pensar em uma disputa com o rival mais recente da Samsung.
Ainda assim, pensando em um cenário no qual o G6 esteja pelo menos uns 20% mais barato em relação ao Galaxy S8, seja com promoção do varejo, seja com ofertas de operadoras em planos pós-pagos, ele pode ser uma opção a se considerar. A novidade da LG é bem construída, é um avanço significativo em relação a qualquer outro aparelho da marca e, definitivamente, não é ruim em nada. Quase nada.