Review Moto Z3 Play: é tudo uma questão de tendência
Smartphone modular da Motorola tem mais tela, câmera dupla e acabamento em vidro, mas "sacrifica" a praticidade
Smartphone modular da Motorola tem mais tela, câmera dupla e acabamento em vidro, mas "sacrifica" a praticidade
Os smartphones modulares da Motorola chegaram à terceira geração. O Moto Z3 Play foi lançado em junho de 2018 como o primeiro representante da nova linha. Entre as novidades estão uma tela maior, de 6 polegadas, câmera dupla de 5 + 12 megapixels na traseira e acabamento premium.
É claro que o suporte aos Moto Snaps — módulos de bateria, alto-falante, gamepad e outros — foi mantido. Em contrapartida, não houve avanços no custo-benefício: o Moto Z3 Play foi anunciado com preço inicial de R$ 2.299.
Aí surgem as perguntas: o conjunto da obra compensa esse valor? Vale a pena trocar um Moto Z Play ou um Moto Z2 Play pelo novo modelo? Como o aparelho se comporta no dia a dia?
Eu testei a novidade por duas semanas e conto todas as minhas impressões sobre ela a partir de agora.
O Moto Z3 Play é fisicamente parecido com o Moto Z2 Play, que é fisicamente parecido com o Moto Z Play. Tem que ser assim: a Motorola precisa manter o padrão de design para haver compatibilidade com os Snaps. O efeito disso? Aquele calombo da câmera continua ali atrás e as dimensões mudam muito pouco de um modelo para o outro. Basicamente, o Moto Z3 Play só é pouca coisa mais espesso que o Z2 Play: são 6,8 mm contra 6 mm do antecessor.
Para diferenciar o novo modelo, a Motorola deu a ele um ar de sofisticação: a moldura é de metal enquanto a traseira é de vidro. É uma combinação que causa uma boa impressão.
Mas, sinceramente, eu prefiro a traseira de metal do Moto Z2 Play. O vidro dá efeito de brilho e sensação de produto bem-acabado, mas é um chamariz para marcas de dedos. Além disso, eu tenho impressão de que nem mesmo uma capinha será capaz de evitar que esse painel se estraçalhe caso o aparelho caia no chão.
Mas a maior mudança está na frente: a tela de 5,5 polegadas das gerações anteriores deu lugar a um painel de 6 polegadas. O aproveitamento da área frontal melhorou, portanto. Mas não sem alguns sacrifícios: a câmera frontal perdeu o flash LED; já o leitor de impressões digitais teve que ser movido para a lateral direita, pouco abaixo dos controles de volume.
Não daria para a Motorola levar o sensor para a traseira. Se o fizesse, o componente iria ser bloqueado pelos Snaps. De todo modo, essa não é uma posição nova. Alguns smartphones da Sony, como o Xperia XA1 Plus e o XZ Premium, contam com um leitor em posição semelhante.
Mas há uma diferença gritante aqui: o leitor de impressões da Sony também faz as vezes de botão Liga / Desliga; já no Moto Z3 Play, esse botão foi jogado lá para a lateral esquerda. Por que não ter feito uma coisa só, como nos modelos da Sony? Suspeito de algum problema com patentes.
Ao menos o desbloqueio via impressão digital funciona mesmo se a tela estiver desligada. A posição não chega a ser ruim, pois o polegar alcança fácil o leitor. Mas isso se você for destro. Canhotos provavelmente terão que usar o indicador da mão esquerda, que passa por trás do aparelho e, assim, faz o desbloqueio não ser lá muito prático.
Para ser franco, acho que teria sido mais digno por parte da Motorola ter feito um esforço de engenharia (é, eu sei, falar é fácil) para colocar aquele leitor de impressões digitais “achatado” do Moto G6 logo abaixo da tela do Z3 Play. Do jeito que está, fica parecendo gambiarra.
A lateral superior continua abrigando apenas a gaveta. Mas há um retrocesso aqui em relação ao Z2 Play e Z Play: enquanto estes suportam dois SIM cards e um microSD, no Z3 Play você só pode usar dois SIM cards ou combinar um SIM card com um microSD (de até 400 GB). Não dá para instalar os três chips de uma vez só.
Na parte inferior está a porta USB-C e… só. Ao contrário dos antecessores, o Moto Z3 Play não traz conexão de 3,5 mm para fones de ouvido. O aparelho vem com um adaptador USB para esses acessórios. Paciência.
A tela é, certamente, a característica de maior destaque do Moto Z3 Play: o modelo tem um painel Super AMOLED de 6 polegadas, proporção 18:9 e resolução de 2160×1080 pixels contra o visor AMOLED de 5,5 polegadas e 1920×1080 pixels do Moto Z2 Play.
Basicamente, o que a Motorola fez foi deixar a tela mais esticada na nova geração avançando sobre as áreas acima e abaixo do visor. O aproveitamento de espaço é de 78%. Note, porém, que as bordas nas laterais esquerda e direita ainda são um pouquinho avantajadas.
Assistir a vídeos ou jogar é sempre uma experiência mais interessante em telas grandes. Aqui, a experiência melhora pelo fato de o painel Super AMOLED do Moto Z3 Play ter cores mais vívidas na comparação com o Z2 Play (apesar de a foto acima sugerir o contrário). A diferença não é grande, mas é suficiente para você distinguir objetos e formas com mais facilidade nas imagens. Sério, assisti a uns quatro ou cinco episódios de seriados aqui numa boa.
O brilho máximo também é bem forte e o ajuste automático não foi esquecido: o aparelho consegue deixar o brilho na intensidade mais adequada para cada situação de um modo mais rápido que no Z2 Play — bem mais rápido. Você vai ter pouca ou nenhuma dificuldade para enxergar o conteúdo da tela quando estiver na rua em um dia ensolarado.
Se mais de uma pessoa estiver olhando para a tela, não se preocupe: a visualização é satisfatória sob vários ângulos.
O Moto Z3 Play vem de fábrica com o Android 8.1 e poucas modificações funcionais na interface. Esteticamente, há alguns ícones personalizados, o widget redondo na tela inicial que exibe horas e status da bateria, e efeitos de transição discretos.
Felizmente, a Motorola continua com a prática de não encher o aparelho com apps de terceiros, com exceção óbvia para os do Google. Em contrapartida, há uma quantidade considerável de recursos próprios, a exemplo do que acontece no Moto Z2 Play, como Loja Moto Z, gerenciador de arquivos, além ferramentas de suporte e notificações (para receber notícias da Motorola).
O aplicativo Moto é o mais importante. Ele concentra algumas funções que não existem em aparelhos de outras marcas, com destaque para o Moto Ações, que permite configurar gestos (agitar o smartphone duas vezes para ativar a lanterna, por exemplo) e o utilíssimo modo de navegação em um toque.
Aqui eu preciso dar uma explicação mais aprofundada. No Moto Z2 Play e outros modelos da Motorola, a navegação em um toque permite que você use o leitor de digitais no lugar dos botões de navegação do Android: dê um toque rápido no sensor para ir à tela inicial; arraste o dedo para esquerda para voltar; deslize para a direita para alternar entre os aplicativos abertos.
Funciona muito bem. Provavelmente você vai se atrapalhar um pouco no começo, mas rapidinho pega o jeito. Só que, relembrando, o Z3 Play não tem leitor na frente. A solução da Motorola foi colocar uma barrinha na parte inferior que permite que você ative os mesmos gestos, mas na tela (nenhuma relação com a barrinha do iPhone X, portanto).
É uma solução interessante porque funciona tão bem quanto com o leitor de digitais. Mas há uma pequena inconveniência: se você estiver visualizando algo em tela cheia, precisará dar um toque adicional no visor para a barrinha aparecer.
O Moto Voz também está aqui, mas continua limitado. Ele reconhece comandos como “ativar o modo avião” ou “desativar o Wi-Fi”, mas exibe resultados de busca se você disser “abra o YouTube”, por exemplo. Além disso, ruídos no entorno fazem o reconhecimento de voz falhar, mesmo se você deixar o smartphone próximo da boca. Sem contar que barulhos externos fazem o recurso ser acionado do nada.
Bom, a gente precisa levar em conta que própria Motorola avisa que o recurso está em beta.
Na traseira, a câmera de 12 megapixels e abertura f/1,7 da geração anterior continua por aqui, mas agora é acompanhada de um sensor de 5 megapixels com lente de abertura f/2,2. Como você deve ter imaginado, o objetivo principal dessa dupla é facilitar o registro de fotos com fundo desfocado.
A desfocagem no fundo é precisa e, na maioria das vezes, rápida. Se o foco automático sobre o objeto não funcionar ou ficar oscilando, basta tocar na tela sobre o ponto de foco e a câmera se reajusta.
A qualidade das fotos não chega a impressionar, mas agrada. Em condições favoráveis de iluminação, as cores são fortes, mas sem excesso na saturação, e os níveis de ruído são baixos como devem ser.
Repare, no entanto, que nas áreas mais escuras das fotos pode haver perda significativa de definição. Nessas circunstâncias, a dica é deixar o HDR ativado ou em automático. Esse modo consegue amenizar a falta de iluminação em alguns pontos e, assim, ressaltar mais os detalhes.
Fotos noturnas ou registradas em ambientes com iluminação artificial é que preocupam. Nessas condições, o Moto Z3 Play tem mais dificuldade para focar, pode exibir muito ruído nas fotos e, frequentemente, deixa a definição em níveis sofríveis.
O problema me pareceu ser a quantidade de luz que a câmera tenta capturar para não deixar a imagem excessivamente escura. Fazendo um ajuste manual antes do disparo, a situação fica “menos pior”.
A câmera frontal tem 8 megapixels e abertura f/2,0. É um bom conjunto. Em geral, as fotos têm boa coloração e baixo nível de ruído, e o pós-processamento não detona a definição.
Novamente, esses parâmetros ficam todos bagunçados quando a luz é reduzida. No Z2 Play é possível amenizar esse problema com o flash LED frontal, mas esse componente perdeu espaço no Z3 Play, como já dito.
De modo geral, as fotos feitas com o smartphone são melhores que as das gerações anteriores, mas as diferenças não são expressivas. Creio que a Motorola se preocupou mais em adicionar recursos, como a segunda câmera na traseira.
Outros complementos incluem o Cinemagraph, que gera fotos com movimentos nos pontos que você definir e as salva como GIF, o modo de câmera lenta e a integração com o Google Lens. São funcionalidades interessantes, mas não essenciais. Tive até impressão de que elas deixaram o app de câmera pesado: várias vezes ele fechou sozinho durante o uso.
A câmera frontal tem mais uma funcionalidade: você pode usá-la para desbloquear o aparelho via reconhecimento facial. Nos meus testes, funcionou até quando eu tirava os óculos e em ambientes com iluminação reduzida. No entanto, o processo todo é mais demorado que o desbloqueio via impressão digital.
O hardware básico do Moto Z3 Play é um processador Snapdragon 636 de 1,8 GHz com GPU Adreno 509 e 4 GB de RAM. É um conjunto que rodou todos os aplicativos testados sem instabilidades. Algumas vezes, porém, o multitarefa apresentou ligeiros engasgos na alternância entre apps.
Nos jogos, Real Racing 3 rodou bem, tendo apenas algumas quedas nas taxas de frames. Já Dead Trigger 2 deu pequenas travadas com as configurações gráficas em alto ou médio. Não me pareceu ser nada que atrapalhe, mas é melhor deixar o jogo decidir a configuração mais apropriada (quando possível).
Não há mais conexão para fones de ouvido e o aparelho ficou ligeiramente mais grosso. A Motorola deve então ter colocado uma bateria mais generosa aqui, certo? Sinto dizer que não: os mesmos 3.000 mAh da geração anterior continuam aqui.
Para testar a bateria, executei as seguintes tarefas ao longo de um dia: filme O Poderoso Chefão (2h57min) via Netflix e tela com brilho médio, meia hora de Dead Trigger 2, 20 minutos de Real Racing 3, uma hora de música via Deezer, cerca de uma hora de redes sociais e navegação via Chrome, e uma chamada de 10 minutos. No final do dia, a carga da bateria estava em 43% (de 100%).
Não impressiona, mas está longe de ser ruim. Apesar da tela maior, o Snapdragon 636 aparentemente consegue fazer um bom trabalho de gerenciamento de consumo. Resta saber se essa boa performance vai perdurar no decorrer dos meses.
Na recarga, o aparelho precisou de 1h13min para ir de 15% para 100% com o carregador rápido que acompanha o dispositivo.
O alto-falante, localizado acima da tela, tem volume máximo alto. O som sai com clareza e, pelo menos nos meus testes, não distorceu nenhuma vez. Mas, você sabe, a experiência é sempre melhor com fones de ouvido. Para isso, o adaptador para USB-C que acompanha o Moto Z3 Play funciona como deve funcionar.
Reforçando o que a própria Motorola destaca, o Moto Z3 Play também é compatível com os Snaps lançados nas gerações anteriores. Eu coloquei nele um módulo de bateria que veio junto com o Z2 Play que aparece nas imagens deste review. Tudo funcionou como o esperado.
Tecnicamente, o Moto Z3 Play é um bom smartphone. Mas a impressão que eu tenho é a de que ele não vai muito além de um Moto Z2 Play melhorado para seguir as tendências das telas quase sem bordas, das câmeras duplas e até dos smartphones que não têm entrada para fones de ouvido.
O problema dessa abordagem é que, para manter a compatibilidade com os Snaps, a Motorola não pôde mexer muito na estrutura física do aparelho. É por isso que o leitor de digitais teve que ser movido para a lateral. A Motorola poderia pelo menos ter combinado o sensor com o botão Power para ajudar na praticidade, mas não o fez.
Para dar uma renovada no visual e transmitir uma noção de produto premium, a companhia colocou um vidro na traseira que deixa o celular bem bonito (“ao vivo”, pelo menos), mas as marcas de dedos não demoram para aparecer e o risco de a coisa ficar feia na primeira queda não meu pareceu pequeno.
Por dentro, pouco coisa muda. O Snapdragon 636 do Moto Z3 Play é um chip mais evoluído que o Snapdragon 626 do Moto Z2 Play, mas não dá para notar grande diferença entre eles no dia a dia. Na prática, o Snapdragon 636 está ali mais para fazer o smartphone suportar uma tela com 2160×1080 pixels sem necessidade de improvisos.
A tela é um deleite para consumo de conteúdo, as câmeras não são impressionantes, mas evoluíram e há um pouco mais de funcionalidades. Porém, nenhum desses fatores parece ser suficiente para que alguém satisfeito com o Z2 Play ou mesmo com o Z Play troque-o pelo Moto Z3 Play — considerando o conjunto da obra, a troca vai valer a pena para pouca gente, imagino.
Para quem precisa ou quer trocar de smartphone agora, o dispositivo é uma opção intermediária interessante, mas eu olharia outros modelos antes ou esperaria o preço cair: a Motorola sugere R$ 2.299 pelo Moto Z3 Play ou, para quem optar pela versão com 6 GB de RAM e 128 GB de espaço interno, R$ 2.699.
Se eu tivesse que ir às compras hoje, esses valores me fariam considerar seriamente um topo de linha de geração anterior, como o Galaxy S8. E os Snaps? Olha, eles são bem legais, mas também escorregam no custo-benefício, logo, eu não vejo muita vantagem neles.