Review Moto Z2 Play: coloca aqui, tira ali

Segunda geração do smartphone modular da Motorola tem hardware mais potente e design mais fino, mas menos bateria

Paulo Higa
• Atualizado há 5 meses

Lançado em 2016, o Moto Z Play era o modelo mais acessível do smartphone modular da Motorola. Mais acessível, no entanto, não significa pior: ele tinha entrada de fone de ouvido, desempenho consistente e bateria impressionante, diferente do irmão mais caro. Era um aparelho completo de fábrica, o que ironicamente acabava dispensando a necessidade de módulos.

A segunda geração traz melhorias em quase todos os pontos: está mais barata, possui o dobro de armazenamento, o processador foi atualizado e a lente da câmera traseira tem abertura maior. Em compensação, a bateria encolheu. Será que a autonomia continua boa? Vale a pena fazer um upgrade? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.

Em vídeo

Design e tela

O Moto Z2 Play é notavelmente mais leve que o antecessor. Com 6 mm de espessura, ele é quase tão fino quanto o Moto Z, mas sem os mesmos comprometimentos: as bordas são chanfradas, não pontudas, o que contribui com a ergonomia; a traseira, embora também seja de metal, não fica melecada de impressões digitais; e não há necessidade de um infame adaptador de USB-C para 3,5 mm.

É importante lembrar que a desagradável protuberância na câmera traseira está ainda maior, então a espessura é a praticamente mesma do Moto Z Play se você utilizar uma capinha para esconder o calombo. O problema é que, na segunda geração, a Motorola não está mais enviando a Style Shell no kit básico, então prepare-se para gastar mais dinheiro com o acessório.

Boas características da geração anterior se mantiveram, como o alto-falante na frente (de boa qualidade, embora com volume baixinho); a bandeja que permite colocar dois chips de operadora e um microSD simultaneamente; e o leitor de impressões digitais sempre acessível, agora com suporte a gestos (deslize para a esquerda para voltar ou direita para abrir a tela de aplicativos recentes).

A tela AMOLED de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels entrega boa definição, cores equilibradas, sem exagerar na saturação mesmo no Modo Intensidade, e brilho satisfatório para visualizar o conteúdo do display sob sol forte. As cores são mais frias, o que torna os brancos excessivamente azulados para o meu gosto — a Motorola podia ter liberado um ajuste de temperatura de cor nas configurações.

Software

O Android 7.1.1 Nougat do Moto Z2 Play mostra diferenças em relação aos smartphones anteriores. A tela inicial é uma mistura do finado Google Now Launcher com Pixel Launcher, trazendo um widget de previsão do tempo e uma bandeja de aplicativos que se abre deslizando o dedo para cima. A Motorola também personalizou os ícones de aplicativos nativos, como Telefone, Contatos e Configurar, colocando um efeito de gosto duvidoso que lembra fatias de uma pizza.

No launcher, faltou cuidado ao adicionar o suporte ao recurso de menus em ícones. No Twitter, por exemplo, basta segurar o dedo em cima do ícone (na tela inicial ou no menu de aplicativos) para ter acesso a um menu (Digitalizar Código QR, Nova Mensagem, Novo Tweet e Buscar). O problema é que não há nada indicando quais ícones possuem menus; é preciso ir na tentativa e erro. Não é intuitivo.

A empresa continua com a boa estratégia de não lotar o smartphone com softwares inúteis. Além do pacote padrão do Google, o Moto Z2 Play vem com o App Box (lista de aplicativos nacionais), um gerenciador de arquivos (que permite enviar dados pelo computador por Wi-Fi), duas ferramentas de suporte, além do Moto, que centraliza os diferenciais de software.

O aplicativo Moto reúne os conhecidos gestos (agite duas vezes para ligar a lanterna, gire para abrir o aplicativo de câmera, entre outros); o Moto Tela, que mostra prévias de notificações mesmo com o aparelho em standby; e uma versão atualizada do Moto Voz, que permite abrir um aplicativo a qualquer momento com o comando “Me mostra [alguma coisa]”.

O Moto Voz se mostrou bem inconveniente durante minhas semanas de teste. O demorado processo de configuração envolve falar dezenas de frases e mesmo assim não torna o recurso preciso — o Moto Z2 Play ligou inúmeras vezes em meio a conversas em restaurantes, músicas tocando no ambiente ou alguma interferência da TV. Ele só não é tão ruim porque é silencioso, não retornando informações em áudio e, depois de alguns segundos, a tela desliga sem que eu precise fazer nada.

Depois de reconfigurar o Moto Voz e continuar com os acionamentos involuntários do recurso, eu decidi desativá-lo no aplicativo Moto, já que ele não facilitava minha rotina (o reconhecimento estranhamente falhava quando eu realmente precisava do assistente) e estava drenando a bateria.

Câmera

A câmera traseira do Moto Z2 Play traz bons números, com sensor de 12 megapixels e lente de abertura f/1,7, melhor que a f/2,0 do antecessor. Só faltou a estabilização óptica, que continua restrita ao smartphone mais caro da Motorola. No entanto, a qualidade das imagens foi apenas satisfatória — na verdade, se levarmos em conta os bons resultados do Moto Z Play dentro de sua categoria, foi até decepcionante.

Com boa iluminação, as fotos tiveram qualidade razoável. As cores são pouco saturadas, uma característica típica de câmeras da Motorola, que pode dar um aspecto de foto “lavada” para alguns, mas me agrada. O alcance dinâmico, porém, poderia ser melhor. Parece que há uma tentativa de forçar um contraste na imagem, o que acaba prejudicando o nível de detalhes em áreas de sombra.

Já com luz artificial ou em cenários noturnos, o Moto Z2 Play se mostrou muito inconsistente. Foi comum ter que refazer a foto porque a iluminação estourou ou o foco estava errado; o software raramente acertava no primeiro clique. Mesmo as melhores imagens apresentaram sharpening excessivo, criando bordas duras e gerando o curioso efeito no qual um objeto fica “nítido” e borrado ao mesmo tempo.

Não é uma câmera ruim, mas definitivamente não é nenhum avanço em relação ao Moto Z Play.

Hardware e bateria

Os intermediários estão cada vez mais próximos dos topos de linha em capacidade de memória. A Motorola seguiu a tendência com 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento no Moto Z2 Play, o que deixou o aparelho mais competitivo em relação a opções como o Zenfone 3 Zoom. Já o processador recebeu um pequeno upgrade de frequência em relação ao Snapdragon 625, mas manteve o chip gráfico.

Na prática, o Moto Z2 Play continua rendendo tão bem quanto o Moto Z Play. Não há engasgos na interface, os aplicativos abrem rapidamente e o multitarefa é ágil como no antecessor. Jogos rodam sem travadinhas, desde que você não exija gráficos na qualidade máxima, quando a Adreno 506 do Snapdragon 626 começa a mostrar suas limitações.

É um bom hardware porque atende todo mundo que não roda games pesados ou tarefas mais complexas. Além disso, o gigabyte adicional de RAM, embora quase não faça diferença atualmente, pode dar uma sobrevida ao aparelho.

A grande crítica fica por conta da bateria. Não que ela seja ruim, mas é “menos melhor” que a do Moto Z Play: não houve melhoria na eficiência energética que compensasse a perda de capacidade.

A bateria de 3.000 mAh permitiu que eu chegasse ao final de todos os dias com níveis entre 45% e 50% de bateria, com utilização das 9h às 23h, sendo 2h de streaming de música no 4G+ e 1h40min a 2h de navegação, também na rede móvel, com brilho no automático.

Nas mesmas condições, o Moto Z Play chegava a 65% de bateria no final do primeiro dia, o que garantia um segundo dia de uso comigo (ou carga de sobra em um dia muito intenso). Já o Moto Z2 Play precisa de uma tomada todos os dias, como quase qualquer smartphone do mercado. Só mais um no meio da multidão.

É uma pena, porque a decisão da Motorola de afinar o design tirou o maior diferencial do Moto Z Play, que era a autonomia muito acima da média. Além disso, foi contra a tendência do mercado, de ter baterias cada vez maiores (vide os 5.000 mAh do Zenfone 3 Zoom ou 3.600 mAh do Galaxy A7). E, racionalmente, quase ninguém quer corpo mais fino em detrimento da bateria.

Conclusão

O Moto Z2 Play é uma questão de trocas. Em relação ao antecessor, que ainda é um bom negócio com as promoções do varejo (ele chega a custar R$ 1,3 mil), você perde duração de bateria, mas em compensação ganha um design mais fino, além de 1 GB de RAM e 32 GB de armazenamento extras que podem fazer a diferença no futuro.

O upgrade faz pouco sentido para quem já é dono de um Moto Z Play: não há diferença relevante no desempenho, e você ainda terá uma autonomia menor. Mas ele pode ser uma opção interessante para quem procura um aparelho rápido, com tela boa, bateria decente e bastante espaço.

Os concorrentes atuais são o Galaxy A7 (2017) e o Zenfone 3 Zoom. O primeiro entrega mais bateria e tela, mas menos RAM e armazenamento. Já a opção da Asus é melhor em quase tudo, principalmente na bateria, mas o software mal feito é um ponto a se observar na hora da escolha.

E, como de costume, a faixa dos R$ 2 mil abriga topos de linha de gerações passadas. Desses, a opção mais forte é o Galaxy S7, que seria minha escolha atual — perde-se em armazenamento (32 GB, mas expansível com microSD) e bateria (3.000 mAh, que rendem menos por causa do hardware mais potente), mas ganha-se em processador, tela e câmera.

No final das contas, o Moto Z2 Play é apenas mais uma boa opção no mercado. Ele tem suas qualidades e defeitos, mas seus futuros proprietários deverão ficar bem satisfeitos.

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Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 12 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.2, USB-C, NFC, rádio FM;
  • Dimensões: 156,2 x 76,2 x 6 mm;
  • GPU: Adreno 506;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 64 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 145 gramas;
  • Plataforma: Android 7.1.1 (Nougat);
  • Processador: octa-core Snapdragon 626 de 2,2 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, bússola, giroscópio, impressões digitais;
  • Tela: AMOLED de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels e proteção Gorilla Glass 3.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.