Review Motorola Edge+: o melhor da marca é o suficiente?
Retorno da Motorola aos celulares potentes é bem-vindo, mas não ficou livre de tropeços nas câmeras, design e preço
Retorno da Motorola aos celulares potentes é bem-vindo, mas não ficou livre de tropeços nas câmeras, design e preço
Nos últimos três anos, parecia que a Motorola tinha alergia a chips potentes. A empresa apostou na bem-sucedida linha Moto G e esqueceu dos consumidores de celulares flagships no Brasil depois do Moto Z2 Force, o último a trazer o melhor processador da Qualcomm da época. O Motorola Edge+ é um retorno da marca a esse segmento, que não tinha muitas opções no país além da Apple e da Samsung.
Se alguém estava procurando números enormes, o Motorola Edge+ entrega todos eles: além do processador Snapdragon 865, o modelo traz absurdos 12 GB de RAM, uma bateria de respeito de 5.000 mAh e uma câmera traseira de 108 megapixels. Ele é o primeiro celular a desembarcar no Brasil com suporte às novas redes 5G. E o preço também é enorme: são R$ 7.999, mais caro que um iPhone 11 Pro.
Será que o retorno da Motorola aos topos de linha deu certo? Eu testei o Motorola Edge+ nas últimas semanas e conto minhas impressões nos próximos minutos.
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Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Edge+ foi fornecido pela Motorola por empréstimo. O produto foi devolvido à empresa após os testes.
O Motorola Edge+ é diferente de tudo o que eu me lembro na linha de celulares da Motorola, tanto que ele poderia se passar muito bem por um celular da Samsung ou da Huawei. Pela primeira vez, a empresa apostou em uma tela OLED com laterais curvadas, um detalhe estético que é referenciado até no nome do produto. A Motorola só foi “conservadora” ao manter a entrada padrão de fone de ouvido de 3,5 mm, para felicidade dos que ainda usam esse tipo de tecnologia.
Apesar de possuir uma tela de 6,7 polegadas, o Motorola Edge+ parece muito compacto nas mãos devido à proporção 19,5:9 e principalmente pelas suas laterais curvadas, que reduzem a largura do aparelho: são 71 mm, menos que o Moto Z2 Force, que tinha um visor de 5,5 polegadas. Não dá para dizer que o aparelho é confortável para ser usado com uma mão, mas é menos pior que os concorrentes do segmento.
A traseira passa uma ótima impressão por causa da cor cinza meio azulada, que é discreta, mas não enfadonha. Ainda assim, o Edge+ pode ser considerado um pequeno passo atrás dos rivais em termos de design, já que a Motorola não adicionou certificação IP para resistência contra água, uma característica que já é padrão entre os topos de linha há muitos anos. Ele também é um celular mais gordinho, com quase 10 mm de espessura, embora isso não chegue a ser um problema.
A tela OLED pode até ser um ponto de controvérsia por causa do formato, mas não dá para reclamar da qualidade do painel, que tem brilho forte, preto perfeito e excelente ângulo de visão. O leitor de impressões digitais, que fica sob o display, desbloqueia o aparelho rapidamente e tem a vantagem de não interferir negativamente no design.
Nas configurações de tela, é possível alternar entre três níveis de saturação, agradando tanto os que preferem cores naturais quanto os que gostam de tons mais fortes. Só senti falta de um controle de temperatura, já que o Edge+ mostra um branco mais frio, que pode soar azulado para algumas pessoas.
O maior ponto positivo da tela é a taxa de atualização de 90 Hz. Logo na primeira inicialização, fica claro que o Motorola Edge+ é um celular rápido, com animações que rodam suaves como manteiga. Chama a atenção o fato de que a Motorola manteve os 90 Hz como uma opção ativada de fábrica, diferente de concorrentes como o Galaxy S20 Ultra e o Google Pixel 4, que preferiram poupar bateria por padrão.
As laterais extremamente curvadas da tela poderiam ser um desastre se fossem ativadas pela palma da mão toda hora, mas o Motorola Edge+ faz um ótimo trabalho em rejeitar toques acidentais nas bordas. O formato da tela só pode incomodar ao assistir a vídeos em proporção 16:9 ou mais quadrados, já que as extremidades da imagem ficam mais escuras ou sofrem com reflexos indesejados.
Um dos destaques do Edge+, segundo a Motorola, são os alto-falantes estéreo que oferecem “qualidade profissional, com um som mais profundo e imersivo que envolve você”. Ainda é um som integrado de celular, que não será tão bom quanto uma caixinha de som Bluetooth por questões físicas, mas o Edge+ é realmente muito acima da média: o som é claro e atinge volumes mais altos sem distorcer os médios.
O “imersivo” é questionável, já que os graves não aparecem, mas você não espera que um alto-falante tão compacto alcance frequências mais baixas. Dentro de expectativas realistas, é um som de qualidade, que eu esperaria de um bom tablet, e suficiente para assistir a um filme ou ouvir uma música quando você não estiver com fones de ouvido por perto.
O Android 10 do Edge+ é bem familiar para quem já teve contato com outros aparelhos da Motorola. Ele mantém uma interface semelhante à desenvolvida pelo Google, sem grandes modificações visuais nem muitos aplicativos extras pré-instalados. Talvez você nunca use o Duo, o Google Fit ou o Apresentações, mas boa parte dos aplicativos de fábrica pode ser removida sem malabarismos.
Os recursos extras ficam concentrados no aplicativo Moto, que possui os mesmos truques de sempre, como os gestos para ligar a lanterna ou a câmera; o Moto Gametime, que melhora o áudio e permite bloquear todas as notificações enquanto você estiver jogando; além de funcionalidades novas que aproveitam as bordas curvadas do Edge+.
A função Luzes nas bordas faz com que as laterais da tela acendam quando você recebe uma notificação enquanto o aparelho está virado para baixo. Já as Bordas interativas adicionam uma bandeja de atalhos para aplicativos, bem parecida com a que a Samsung inclui nos celulares Galaxy mais caros.
É um software que não arrisca e nem impressiona, não trazendo recursos mirabolantes ou uma interface melhor que a do Google, mas que simplesmente funciona. Essa é uma receita que está dando certo nos outros celulares da Motorola, que agrada aos fãs da marca e que deve ser mantida por muito tempo, pelo menos nos aparelhos vendidos no Brasil.
Cabe lembrar que o Edge+ foi alvo de uma discussão no lançamento mundial porque a Motorola, inicialmente, só prometeu uma atualização para o Android 11. Depois da repercussão negativa, a empresa afirmou que o aparelho também receberá o Android 12. Não é a primeira vez que a Motorola se envolve em uma controvérsia com relação a promessas de atualizações, então é bom ficar de olho.
Números enormes não faltam para descrever as câmeras do Motorola Edge+. A câmera traseira principal tem um sensor com 108 milhões de pixels, o mesmo Isocell Bright HMX que equipa modelos como o Galaxy S20 Ultra e o Xiaomi Mi 10 Pro. A Motorola também incluiu um sensor de tempo de voo para medir profundidade, uma teleobjetiva com zoom óptico de 3x e uma lente que faz tanto o trabalho de ultrawide quanto de macro, permitindo focar objetos a distâncias menores.
Os resultados gerados pelas câmeras fotográficas são bons e mostram que a Motorola tem evoluído bastante nesse quesito. Como esperado, as fotos são ótimas em condições ideais de iluminação, com boa nitidez e cores agradáveis, tendendo mais ao natural na maioria das situações. O alcance dinâmico não é o melhor que eu já vi, mas o Edge+ faz um bom trabalho em manter áreas de sombra visíveis sem estourar pontos de iluminação.
Já no modo de visão noturna, a Motorola tende mais para o estilo da Samsung, com um grande aumento na saturação das cores para impressionar os olhos. Apesar de parecer “artificial” quando comparado com o mundo real, o resultado das fotos à noite me agrada muito visualmente. Nas outras lentes, em que o modo noturno não está disponível, as fotos ficam entre o razoável e o decepcionante: a ultrawide sofre muito com nitidez, enquanto a teleobjetiva acrescenta bastante ruído nas imagens.
Normalmente não damos tanta importância para a gravação de vídeo, mas o Edge+ desaponta por um problema muito particular para um topo de linha: ele só é capaz de gravar em 6K a 30 fps ou em 4K a 30 fps. Não suportar 8K ainda não é exatamente um problema; mesmo o Galaxy S20 Ultra não faz isso com maestria. Mas não filmar em 4K a 60 fps é uma limitação que eu só aceitaria em um smartphone de até três mil reais. Que bola fora, Motorola.
A câmera frontal de 25 megapixels não é ruim, mas também não impressiona. Primeiro, já coloco na mesa a questão da gravação de vídeo: ela só filma em Full HD. Eu não aceito que o Moto G7 Plus, que custa um sexto do preço, seja capaz de gravar em 4K com a câmera de selfie, mas o celular mais caro da Motorola não seja. Levando em conta o Snapdragon 865 e o processador de sinal de imagem da Qualcomm, é uma limitação tão absurda que espero que alguém consiga contorná-la no futuro.
Nas fotos estáticas, a câmera de selfies do Motorola Edge+ é satisfatória: a definição não é tão boa quanto a do iPhone 11 Pro e eu me incomodei um pouco com o ruído em áreas de sombra. De qualquer forma, apesar de ter foco fixo, a lente consegue capturar bem os detalhes do rosto a uma distância padrão, e as cores não deixam a desejar.
Eu me recuso a me aprofundar muito sobre o desempenho do Edge+. São 12 GB de RAM, 256 GB de espaço e um Snapdragon 865 que fazem um trabalho impecável. A fluidez é sentida a todo momento e deixa transparecer que o software ainda nem aproveita todo o poder do hardware. Jogos também rodam bem, com os gráficos no máximo. A performance fica no limite do que é atingido hoje pelos celulares Android.
A bateria, que também tem números gigantes, impressiona tanto na teoria quanto na prática. No meu teste padrão de quarentena, com três horas de reprodução de vídeo na Netflix, uma hora de navegação na web e 30 minutos de Asphalt 9, sempre no Wi-Fi, com brilho no máximo e tela em 90 Hz, a bateria foi de 100% para 59%, um excelente resultado, especialmente para um topo de linha.
O teste indica que a bateria de 5.000 mAh do Motorola Edge+ deve durar um dia inteiro para quase todo mundo. Para quem não costuma jogar no celular, é bem provável que o aparelho chegue aos dois dias de autonomia prometidos pela fabricante.
A recarga sem fio é uma tecnologia que eu já adotei no meu dia a dia, e é bom ver que a Motorola voltou a colocar esse recurso em seus smartphones. Também me agrada o compartilhamento de bateria sem fio, uma função útil especialmente quando viajo: se você tiver algum acessório compatível com o padrão Qi (como um estojo de fones de ouvido), pode carregar tanto o celular quanto o acessório com um único cabo.
Um dos chamarizes do Motorola Edge+ é o fato de ser o primeiro celular vendido no Brasil com suporte ao 5G. Isso é possível porque, além do processador Snapdragon 865, a empresa incluiu o modem Snapdragon X55, que se conecta às novas redes móveis. Mas esse diferencial tem asteriscos que não podem ser deixados de lado.
O primeiro detalhe é que o 5G do Edge+ brasileiro está limitado às frequências abaixo dos 6 GHz, diferente da versão americana, que suporta redes de ondas milimétricas. A tecnologia mmWave está prevista no leilão de frequências da Anatel e deverá operar na faixa dos 26 GHz no Brasil. É estranho que o primeiro representante do 5G no país seja incompleto justamente na compatibilidade com 5G.
Além disso, o primeiro celular 5G do Brasil não suporta a primeira rede 5G do Brasil, que será lançada pela Claro com a tecnologia de compartilhamento dinâmico de espectro (DSS), que aloca parte das frequências já usadas por outras tecnologias (como 3G e 4G) para o novo 5G. Contraintuitivamente, a novidade será suportada pela versão mais acessível do Edge+, o Edge, com Snapdragon 765.
Eu também questiono o leque de frequências suportadas pelo Edge+ no 5G. As bandas compatíveis são as seguintes: n2 (1.900 MHz), n5 (850 MHz), n41 (2.500 MHz), n66 (1.700 MHz), n71 (600 MHz), n77 (3.700 MHz) e n78 (3.500 MHz). De todas essas, apenas a n78 está prevista no leilão da Anatel. Outras frequências (como 2.300 MHz e as sobras do 700 MHz) não são suportadas. Em outras palavras, o Edge+ me parece um ótimo celular para experimentar o 5G nos Estados Unidos, mas não no Brasil.
Por fim, o Edge+ passa pela mesma ressalva de qualquer produto que tenta ser o primeiro em alguma coisa: ele é caro, usa uma tecnologia que não está pronta e certamente está longe de aproveitar todo o potencial do 5G, tanto em termos de velocidade quanto em consumo de energia. Quem é early adopter e gosta sempre de ter a última novidade sabe desses riscos, mas nunca é demais relembrar: 5G é a última coisa que você deve pensar ao escolher o Edge+.
O Edge+ é um bom smartphone, e é bacana ver que a Motorola está de volta ao mercado de celulares potentes. A empresa caprichou nos principais pontos do aparelho, como tela, desempenho e câmeras, para criar um produto que funciona muito bem para os fãs da marca. Mas, quanto maior o preço, maiores as exigências. E maior é a dúvida que paira sobre o custo-benefício de um produto de oito mil reais.
Nessa faixa, a Motorola concorre com nomes consolidados como o Galaxy S20 Ultra, que é a alternativa direta no mundo Android e também aposta em números gigantes na ficha de especificações. Também no mesmo segmento, temos o iPhone 11 Pro e o iPhone 11 Pro Max, o que chega a ser irônico considerando que a Apple sempre teve fama de empresa careira que pratica preços inatingíveis no Brasil.
A principal força do topo de linha da Motorola é o desempenho impecável direto da caixa, com hardware poderoso e tela de 90 Hz: ele ofereceu a melhor sensação de fluidez que eu já tive no Android. Embora o Galaxy S20 Ultra tenha um painel com taxa opcional de 120 Hz, ele sacrifica bastante a autonomia nesse modo, o que me fez voltar aos 60 Hz nos testes do flagship da Samsung. E a bateria do Edge+ é muito boa, com direito a recarga sem fio e carregamento reverso.
No entanto, o Edge+ fica no mesmo nível ou um pouco abaixo dos concorrentes em outros pontos. As câmeras são de longe as melhores que a Motorola já fez, mas você ainda pode obter resultados superiores nos rivais; se gosta de filmar, o Edge+ é quase uma carta fora do baralho. No design, é difícil aceitar que um produto tão caro não tenha certificação IP68 para proteção contra água. E o 5G, que poderia até exaltar o pioneirismo da Motorola, acaba sendo um ponto negativo com tantos asteriscos.
Você pode até dizer que os celulares ultracaros, de milhares de reais, não valem o que custam. A questão é que existe um público que paga por isso. E, nesse segmento, as empresas dedicam muita atenção aos detalhes, que podem não fazer diferença para todo mundo, mas encarecem sensivelmente os produtos. O Motorola Edge+ oferece muita potência e muitos números, mas peca justamente nos pequenos detalhes. E sem ter um preço menor.
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