Viv, a assistente de voz que os criadores da Siri querem colocar no seu smartphone

E também na sua casa, no seu sistema de som, no seu carro...

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 8 meses
Viv

Uma startup de nome Viv tem chamado atenção nos últimos dias por prometer algo que Apple e Google ainda não conseguiram entregar: uma assistente de voz realmente precisa e que pode levar inteligência a vários dispositivos, não só ao seu smartphone. A assistente não está pronta, mas os seus desenvolvedores vêm conseguindo votos de confiança por terem sido responsáveis pela criação da Siri.

Dos mesmos criadores da Siri

Muita gente pensa que a assistente de voz do iOS foi desenvolvida do zero pela Apple. Mas não foi: Siri era uma tecnologia de reconhecimento de voz e interpretação de comandos de uma startup de mesmo nome que a companhia adquiriu em 2010. Como assistente, a Siri apareceu no iPhone em 2011 e, desde então, vem sendo aprimorada.

Com o negócio, o cofundador da Siri Dag Kittlaus se juntou à Apple, mas não por muito tempo: ele saiu da companhia há cerca de cincos anos por razões não esclarecidas. É possível que Kittlaus simplesmente não tenha gostado dos rumos que o projeto tomou. Talvez seja por isso que ele decidiu voltar ao segmento. Os desafios de hoje são maiores, porém: além da Siri, a Viv terá que enfrentar tecnologias como Google Now, Cortana e Alexa (do Amazon Echo).

Dag Kittlaus
Dag Kittlaus

A ideia é que você possa usar a Viv (novamente a ideia de dar à tecnologia o mesmo nome da startup) para ligar para alguém, abrir o Spotify, checar a previsão do tempo, colocar o smartphone para despertar, mandar uma mensagem enquanto dirige e várias outras ações a partir de comandos de voz. Nenhuma novidade até aqui: as tecnologias já disponíveis fazem isso — ou pelo menos deveriam fazer.

Os diferenciais da Viv

Na Disrupt NY 2016, conferência que o TechCrunch está promovendo nesta semana, Kittlaus esclareceu que um dos diferenciais da Viv estará na precisão, inclusive quando houver instruções complexas (como quando você se expressa com uma frase mais longa). Você poderá perguntar, por exemplo, se fará frio depois das 18:00 no centro de São Paulo amanhã. Em vez de apenas apresentar dados da previsão do tempo para esse dia, a assistente poderá dizer coisas como “não, não fará muito frio, mas poderá chover”.

Compras e transferência de valores são outras capacidades prometidas. Você poderá pedir para a Viv transferir US$ 20 para o PayPal de um amigo, por exemplo. A assistente não só abrirá o app correspondente (se necessário) como enviará à pessoa uma mensagem sobre a transação. Você só terá que confirmar a operação de algum modo.

Viv

Para aumentar o leque de aplicações compatíveis — e, suponho, o senso de utilidade da tecnologia, pois ninguém faz questão de ter uma assistente de voz só para checar a previsão do tempo ou mandar mensagens —, Kittlaus promete também disponibilizar APIs. Assim será possível integrar a assistente a serviços dos mais variados tipos.

Como exemplo, a integração com o Uber permitirá que você peça um carro sem acessar diretamente o app do serviço. De igual forma, você poderá pedir comida no seu restaurante favorito, podendo até ressaltar que não quer cebola. Tudo — ou quase tudo — deverá ficar por conta da Viv, da solicitação dos serviços à realização do pagamento. Não é preciso, necessariamente, ter os aplicativos correspondentes instalados em seu telefone para a realização das tarefas.

Prometer é fácil. A gente quer mesmo é ação. O problema é que a Viv ainda está bem “verde” — nem voz a tecnologia tem ainda. Pelo menos Kittlaus fez algumas demonstrações que dão ideia do que podemos esperar da assistente, ainda que de empolgantes elas não tenham nada:

A apresentação na íntegra pode ser vista aqui.

O principal desafio: convencer o mercado

No recebimento de ordens, a Viv se baseia em uma tecnologia de reconhecimento de voz da Nuance Communications, a exemplo do que acontece com a Siri. Para interpretação e execução de comandos, a Viv utiliza uma plataforma de inteligência artificial focada em linguagem natural cujo funcionamento não foi detalhado. Essa é a tecnologia que determinará o sucesso da ideia.

Ou não. O desafio tecnológico da Viv é grande, mas convencer o mercado a adotar a assistente provavelmente exigirá muito mais esforços. Convenhamos, as assistentes virtuais ainda não são… assistentes. Para muita gente, Siri, Google Now, Cortana e afins não passam de meras distrações ou de ferramentas úteis no carro, quando você não pode tirar as mãos do volante. Há ainda a questão do idioma: demora para determinadas funcionalidades estarem disponíveis em línguas diferentes do inglês.

Como Apple, Google, Microsoft e outras companhias ainda não conseguiram tornar as assistentes indispensáveis, a indiferença em torno da Viv — ou mesmo o ceticismo — tende a ser grande. A impressão que eu tenho é que esse tipo de tecnologia só vingará mesmo quando tivermos algo próximo do Jarvis, o “mordomo virtual” de Homem de Ferro.

Ok, não dá para ir tão longe assim (não em questão de meses). Mas fazer a Viv não se limitar apenas ao universo dos dispositivos móveis é um bom começo. Dag Kittlaus sabe disso, tanto que, além de prometer APIs para empresas de software, ele falou em estabelecer parcerias para desenvolver módulos que integrem a Viv a um carro ou a um sistema que controla o ar condicionado de uma casa, por exemplo — é algo que lembra a resolução de ano novo de Mark Zuckerberg.

Não há previsão para a Viv estar entre nós. No estágio atual, a assistente não passa de um simples app para iOS não disponível publicamente. Nem mesmo Kittlaus pode falar em prazos porque a proposta depende de parcerias para dar certo. Fazer uma assistente ser tão versátil assim pode até depender de uma grande integração com plataformas móveis. Apple e Google provavelmente não gostarão disso, o que exigirá negociação.

Apesar dos imensos desafios, a Viv vem atraindo a atenção de investidores. No ano passado, a companhia recebeu US$ 12,5 milhões da Iconiq Capital. Segundo a Forbes, há a suspeita de que nomes como Mark Zuckerberg, Jack Dorsey (Twitter) e Reid Hoffman (LinkedIn) estejam por trás dessa companhia de investimentos, o que talvez — talvez — favoreça a trajetória da Viv. Façamos nossas apostas.

Com informações: TechCrunch, The Washington Post

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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