Galaxy Note 8: a redenção

Samsung tinha a missão de apagar a mancha deixada pelo antecessor explosivo (e conseguiu)

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

Existem duas obrigações mínimas da Samsung no Galaxy Note 8. A primeira é não enterrar uma bomba outra vez. A segunda é desenvolver um smartphone tão bom ou melhor que o bem avaliado Galaxy S8, tornando-se uma opção de atualização para quem ficou represado no Galaxy Note 5, lançado há dois anos.

O Galaxy Note 8 aproveita a base sólida do Galaxy S8 e traz refinamentos, colocando uma câmera dupla com zoom, uma tela enorme de 6,3 polegadas e uns gigabytes adicionais de memória, além da caneta S Pen, que sempre foi o diferencial da linha. Será que ele consegue recuperar a Samsung do fracasso de 2016? A resposta é sim, e eu conto os motivos nos próximos minutos.

Em vídeo

Design

Resumidamente, o Galaxy Note 8 é um Galaxy S8+ mais quadradão e com um espaço para a S Pen. Isso significa que o design possui todos os pontos positivos e negativos do outro flagship de 2017 da marca.

Do lado positivo, temos o excelente aproveitamento de espaço e a ótima qualidade de construção. Nada parece barato, mal encaixado ou desalinhado no corpo de vidro e metal do Galaxy Note 8, como se espera de um smartphone de muitos salários mínimos. E as curvas nas laterais, tanto na frente quanto atrás, tornam o aparelho mais esbelto, destacando o que realmente importa: tela, não bordas.

Além disso, o Galaxy Note 8 tem um botão de início virtual, que é sensível à pressão e ajuda a economizar espaço na tela: ele sempre está disponível, mas a barra de botões pode ser totalmente escondida no display. E a entrada para dois chips de operadora, que voltou no Galaxy S8, continua aqui. Como eu disse anteriormente:

Eu sou um grande defensor de aparelhos dual SIM. Antigamente as pessoas utilizavam o recurso para economizar com promoções de ligações para a mesma operadora. Hoje, com os aplicativos de mensagens a todo vapor e as mudanças nas próprias operadoras, isso faz pouco sentido — ainda mais para o público que compra um Galaxy S8 Note 8, um smartphone caríssimo que provavelmente será abastecido com um plano de celular que já inclui minutos à vontade.

Mas ainda existe o público que possui duas linhas (uma do trabalho e outra pessoal) e, no meu caso, que costuma viajar com frequência para o exterior. Não é vantajoso pagar 100 reais ou mais para ter direito a míseros 300 MB de dados em roaming internacional: prefiro comprar um chip da operadora local, gastar 10 dólares (ou euros) e ter franquia de pelo menos 1 GB. Enquanto isso, meu chip do Brasil permanece ativo, e eu continuo recebendo SMS e sabendo quem está me ligando. Faz sentido, portanto, que um aparelho caro tenha suporte a dois chips.

E os contras permanecem os mesmos. Primeiro, temos um leitor de impressões digitais com um posicionamento que não faz o menor sentido: além de estar na traseira, fica numa localização que nenhuma mão de homo sapiens alcança naturalmente. Segundo, a traseira de vidro, que chama atenção pela beleza, é um atrativo só nos primeiros minutos, antes de ficar infestada de marcas de dedo.

O sistema de câmera dupla fez a Samsung mudar ligeiramente o design da traseira, colocando uma “janelinha” com fundo preto na região. Ela passa quase despercebida no Galaxy Note 8 de mesma cor, mas é um pouco desagradável na versão prata, dourada ou azulada — definitivamente, não é algo que combine com o visual totalmente limpo da parte frontal. Pelo menos não há nenhum calombo aqui.

Tela

Faz tempo que a Samsung vem colocando telas incrivelmente boas em seus topos de linha. Não é diferente com o Galaxy Note 8: o painel Super AMOLED de 6,3 polegadas tem a mesma resolução de 2960×1440 pixels do Galaxy S8, que oferece definição impecável (521 pixels por polegada), pretos perfeitos, ângulo de visão excelente e uma saturação que agrada, mostrando cores vívidas, mas não estouradas.

Em relação ao Galaxy S8, é visível que o Galaxy Note 8 tem um brilho ligeiramente mais alto, mas, na prática, como o Galaxy S8 já era acima da média, o upgrade acaba fazendo pouca diferença. O que importa é que você conseguirá visualizar as informações da tela em qualquer condição de iluminação, mesmo com o sol incidindo diretamente no visor.

A proporção de tela 18,5:9 ainda causa alguns inconvenientes: nem todos os aplicativos ocupam todo o espaço do display, deixando uma área em branco na parte inferior. Há como forçar manualmente para que o software ocupe o painel inteiro, o que não traz problemas de compatibilidade em aplicativos comuns, mas pode cortar partes da tela nos games. É questão de tempo até os desenvolvedores adaptarem suas criações.

Como de costume, a resolução não fica no máximo de fábrica (o padrão é 2220×1080 pixels), o que ajuda a economizar bateria sem causar diferenças a olho nu, e você pode ajustar as cores do display. O modo Exibição adaptável deve agradar a maioria das pessoas, mas é bom saber que posso deixar os brancos mais neutros e as tonalidades de acordo com o DCI-P3 (Cinema AMOLED) ou Adobe RGB (Foto AMOLED).

Software

É fato que a Samsung melhorou drasticamente seu software desde, pelo menos, o Galaxy S6. A interface é limpa, os bloatwares foram eliminados e as funcionalidades extras agregam à experiência, especialmente no caso da linha Note.

Bastante útil é o recurso que permite escrever com a caneta S Pen a qualquer momento: basta removê-la do compartimento e começar a rabiscar, mesmo com a tela desligada. Nem todo mundo vai se beneficiar tanto dessa função, mas alguns grupos, como jornalistas, sabem que ter um bloquinho e uma caneta sempre à mão (ou melhor, no bolso) descomplica a vida.

A Samsung continua investindo em funções úteis e também perfumarias para justificar a existência da S Pen. O menu que se abre quando a caneta é removida mostra botões para criar uma nota rápida (no Samsung Notes), escrever na tela (para apontar ou fazer anotações em uma página da web ou aplicativo, por exemplo), traduzir frases inteiras e converter moedas com a caneta ou criar mensagens animadas em GIF (porque sim).

O interessante é que a S Pen, por ter uma ponta fina (0,7 mm de espessura), pode servir ainda como um método de entrada mais preciso para utilizar o smartphone — o que pode ser útil em alguns aplicativos, como editores de imagem ou vídeo, que se beneficiariam de um controle melhor que do seu dedo.

O assistente pessoal Bixby foi atualizado para suportar comandos de voz em inglês. Embora o idioma possa ser um fator limitante no Brasil, o fato é que a Samsung construiu algo mais integrado ao sistema. Diferente do Google Assistente, o Bixby não reclamou para atender a comandos simples (ligar para alguém ou ativar o modo silencioso), tem a vantagem de estar bem integrado a aplicativos de terceiros (notavelmente WhatsApp e Facebook) e permite automatizar tarefas.

De resto, você pode esperar o mesmo software que acompanha o Galaxy S8: uma interface visualmente agradável, animações que não dão o menor sinal de engasgo e recursos adicionais que, em geral, melhoram a experiência de usuário.

Câmera

Pela primeira vez um smartphone da Samsung tem câmera dupla na traseira. No caso do Galaxy Note 8, estamos falando de um conjunto que é capaz de dar zoom óptico de 2x e executar alguns truques de fotografia, como borrar o fundo em retratos. Antes de partir para a análise da câmera, talvez valha a pena detalhar os dois sensores, já que eles não são iguais.

  • A câmera grande angular tem sensor de 12 megapixels Dual Pixel (1/2,55 polegada) e acompanha uma lente com abertura f/1,7 e campo de visão de 77 graus (ou seja, não é uma graaaaaande angular).
  • A câmera telefoto tem sensor de 12 megapixels (1/3,6 polegada) e acompanha uma lente com abertura f/2,4 e campo de visão de 45 graus.
  • As duas lentes possuem estabilização óptica de imagem.

Diferente do Galaxy S8, eu tive uma sensação mista com a câmera do Galaxy Note 8.

A câmera grande angular é espetacular em todos os sentidos: o alcance dinâmico é bastante amplo, o que pode ser facilmente notado em fotos noturnas; o pós-processamento é eficiente em tornar as cenas mais bonitas sem deixá-las muito artificiais (todo mundo gosta de um bom degradê no céu, mas não de grama azul como acontece em alguns aparelhos); e a definição é impecável.

As imagens falam por si:

Ou seja, ao tirar fotos normais, você terá a mesma experiência que teria no Galaxy S8: uma câmera rápida, que tira fotos boas no primeiro clique e não precisa de gambiarras adicionais para corrigir falhas do sensor ou da lente.

Minha sensação negativa veio do fato de que a câmera telefoto não é tão boa quanto a principal. Sim, ela ainda captura excelentes imagens em boas condições de iluminação, como basicamente qualquer smartphone acima de R$ 1,5 mil. Mas o fato do sensor ser fisicamente menor e a lente ter abertura menor acaba prejudicando as fotos noturnas. Tanto é assim que o software, muitas vezes, opta por esticar uma foto tirada com o sensor principal em vez de utilizar a câmera telefoto quando dou um zoom de 2x.

Por isso, em fotos com boa iluminação, você não deve notar nenhum problema com a câmera do Galaxy Note 8 aplicando um zoom óptico de 2x:

Mas, se o software decidir que é melhor esticar a imagem, por meio de “zoom” digital, os defeitos aparecem. A definição cai, o pós-processamento deixa bastante visível um contorno duro em torno de objetos detalhados, e um ruído desagradável surge em determinadas áreas:

Por outro lado, o fato de existirem duas lentes com distâncias focais distintas torna possível calcular melhor a profundidade de um objeto e, por software, gerar um efeito de desfoque de fundo (bokeh), que a Samsung chama de Foco Dinâmico — já que a intensidade do efeito pode ser ajustada depois de tirar a foto. E os resultados são muito bons, levando resultados mais profissionais para usuários comuns:

O resumo é que, apesar da telefoto não ser tão boa quanto a grande angular em fotos noturnas, eu não tenho muito o que criticar da câmera do Galaxy Note 8. É uma das melhores câmeras de smartphones do mercado, e certamente é a melhor que você pode comprar no Brasil no momento em que escrevo este parágrafo.

Hardware e bateria

O Galaxy Note 8 ganhou dois gigabytes de RAM em relação aos modelos básicos do Galaxy S8, mas isso não resultou em melhorias de desempenho perceptíveis no dia a dia, até porque este último já não apresentava nenhum sinal de engasgo no multitarefa. Aqui, temos o mesmo processador octa-core Exynos 8895, GPU Mali-G71 MP20, 6 GB de RAM e entre 64 e 256 GB de armazenamento, com direito a uma entrada para microSD.

Como o chipset é o mesmo e nenhum aspecto relevante mudou, como a resolução de tela, você pode esperar o mesmo ótimo desempenho do Galaxy S8 no Galaxy Note 8. Em nenhum momento eu percebi que o smartphone pensou mais que o normal para executar uma tarefa ou sofreu para processar gráficos de jogos como Breakneck e Unkilled.

Todas as novidades em conectividade estão no Galaxy Note 8, então dá para dizer que ele está preparado para o futuro: tem USB-C, Bluetooth 5.0 com suporte a reprodução em dois alto-falantes simultâneos, NFC, MST (para o Samsung Pay), LTE de 1 Gb/s e Wi-Fi 802.11ac com MU-MIMO. O leitor de íris, que nasceu no Galaxy Note 7, foi transplantado para o sucessor e continua rápido para desbloquear o aparelho quando não se tem um leitor de impressões digitais posicionado no lugar certo.

A minha crítica fica por conta da bateria, de 3.300 mAh, que chega a ser menor que os 3.500 mAh do Galaxy S8+ e do Galaxy Note 7. Eu entendo que a S Pen ocupa parte do espaço que poderia abrigar uma bateria maior, e também que gato escaldado tem medo de água fria. Por outro lado, o Galaxy Note 8 é consideravelmente mais espesso, com 8,6 mm (o Galaxy S8+ tem 8,1 mm; o Galaxy Note 7, 7,9 mm).

O resultado é que a autonomia do Galaxy Note 8 é apenas ok. Não chega a ser notavelmente pior que a do Galaxy S8, mas, no momento em que uma nova geração chega, o mínimo que esperamos é que ela seja melhor que a anterior. E não é o que está acontecendo nos topos de linha.

Nos meus testes, tirando o aparelho da tomada às 9 horas da manhã, ouvindo duas horas de streaming de música no 4G, e navegando na web por 1h40min a 2h, também pela rede móvel, eu sempre cheguei em casa às 23 horas com algo entre 15% e 25% de bateria.

A conclusão é a mesma do Galaxy S8:

A bateria vai durar um dia inteiro para boa parte das pessoas, mas não espere nada além disso. De qualquer forma, se a bateria acabar, pelo menos você não ficará preso a uma tomada. Nos meus testes, não demorei mais que 1h40min para levar a bateria de zero a 100% no cabo. No carregador sem fio, o tempo de recarga completa foi de aproximadamente 2h30min, o que também é uma marca muito boa.

Mais coragem (sem deixar a segurança de lado, por favor) no Galaxy Note 9, Samsung.

Conclusão

Existem duas formas de falar o quão “novo” é o Galaxy Note 8.

Para quem não faz questão de uma caneta, o Galaxy Note 8 nada mais é do que um Galaxy S8+ com câmera dupla e tela ligeiramente maior. Neste exato momento, se você quer um bom aparelho para tirar fotos, uma tela excelente e um ótimo desempenho, faria mais sentido comprar o smartphone lançado em maio, que já despencou de preço no varejo e portanto tem um custo-benefício melhor.

Para quem já usava um Galaxy Note, o Galaxy Note 8 é quase uma revolução, porque você necessariamente está com um aparelho de pelo menos dois anos atrás, já que o modelo de 2016 não existiu. Em relação ao Galaxy Note 5, o desempenho está melhor, especialmente para os novos jogos; a S Pen ficou mais precisa; a câmera é superior; e não preciso nem falar do design, que agora tem resistência contra água e poeira.

Dá para afirmar que este é um aparelho para os fãs da linha Note. Eles ficaram sem o Galaxy Note 7, mas agora têm um smartphone com a melhor tela do mercado, uma câmera fantástica, um desempenho sensacional e um software mais polido. A Samsung juntou o que há de melhor no mercado e colocou tudo dentro de uma carcaça de vidro e metal — claro, cobrando muito bem por isso.

Existem duas versões do Galaxy Note 8 no Brasil: você pode escolher entre 64 GB de armazenamento por R$ 4.399, ou 128 GB por R$ 4.799. A pré-venda começa nesta sexta-feira (6); o aparelho chega às lojas no dia 21 de outubro, apenas na cor preta.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.300 mAh;
  • Câmera: 12 megapixels (traseira) e 8 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, GLONASS, BDS, Bluetooth 5.0, USB-C, NFC, MST;
  • Dimensões: 162,5 x 74,8 x 8,6 mm;
  • GPU: Mali-G71 MP20;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 256 GB;
  • Memória interna: 64, 128 ou 256 GB;
  • Memória RAM: 6 GB;
  • Peso: 195 gramas;
  • Plataforma: Android 7.1.1 Nougat;
  • Processador: octa-core Exynos 8895 de 2,3 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola, barômetro, impressões digitais, íris, batimentos cardíacos;
  • Tela: Super AMOLED de 6,3 polegadas com resolução de 2960×1440 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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