Final Fantasy 14 tem sido meu MMO favorito por quase uma década; eis o porquê

Seja pela excelente mecânica cooperativa ou pelo meu amor pela franquia, Final Fantasy 14 conseguiu me manter como jogador por nove anos

Bruno Ignacio
• Atualizado há 2 meses
FFXIV me acompanha desde 2013 e se manteve por nove anos como meu MMO favorito (Imagem: Vitor Pádua/ Tecnoblog)
FFXIV me acompanha desde 2013 e se manteve por nove anos como meu MMO favorito (Imagem: Vitor Pádua/ Tecnoblog)

Sou um órfão de vários MMORPGs de fantasia, como Grand Chase, Ragnarok Online e Priston Tale. Com o tempo, se tornaram ultrapassados e os players sumiram. É nesse momento que você procura um novo título do gênero para preencher aquele vazio. Foi quando conheci Final Fantasy 14: A Realm Reborn, que ganhou rapidamente meu coração com gráficos lindos, enredo envolvente e uma comunidade internacional super amigável.

Por isso, estou aqui não apenas para enaltecer esse jogo, mas também para compartilhar o porquê dele se manter como o meu MMO favorito durante quase uma década.

Antes de mais nada, não tenho a pretensão de dizer que Final Fantasy 14 é o melhor jogo do gênero. Na realidade, acredito que RPGs online são games muito particulares, e a experiência de cada um será inevitavelmente diferente por uma série de fatores.

No meu caso, FFXIV não apenas me agradou, mas me conquistou por completo. Como um super fã da franquia Final Fantasy, a nostalgia me agarrou. O padrão visual clássico permanece no MMO e há incontáveis referências ao universo criado por Hironobu Sakaguchi e pela Square Enix. Chocobos, deuses elementais, bosses, e outras criaturas presentes em outros títulos também estão em Hydaelyn.

De qualquer maneira, o game provavelmente teria me conquistado mesmo se eu não fosse um grande “fanboy” da franquia. Tudo que eu mais adoro em MMOs está presente: muita mecânica cooperativa, dungeons, raids, guildas, sistema de crafting, extensa customização de personagem, história longa e envolvente… Enfim, são muitos fatores, e FFXIV implementa todos com excelência.

A redenção da Square Enix após catástrofe inicial

Na realidade, minha experiência com esse jogo é ainda mais antiga. Por mais que eu queira esquecer, Final Fantasy 14 foi lançado inicialmente em 2010. No entanto, foi um completo desastre. Na época, eu me empolguei muito com a ideia de um novo MMO da franquia que tanto adoro. Porém, durante seus dois miseráveis anos de vida, o título original sofreu uma enxurrada de críticas negativas.

Todas as reclamações tinham fundamento. FFXIV exibia uma interface horrível, bugs e uma série de problemas na progressão de níveis e em outras inúmeras questões. Tanto que a Square Enix reconheceu a catástrofe, trocou o time de desenvolvimento por outro liderado por Naoki Yoshida, e em 2013 lançou um jogo refeito, Final Fantasy XIV: A Realm Reborn. A empresa acertou em cheio.

Primeiro FFXIV tinha interface feia, ultrapassada e confusa (Imagem: Reprodução/ YouTube)
Primeiro FFXIV tinha interface feia, ultrapassada e confusa (Imagem: Reprodução/ YouTube)

Não durei muito no primeiro FFXIV, abandonei o MMO em questão de meses. Os problemas eram tantos que eu tive a impressão que o jogo foi lançado sem nem estar acabado (alô Cyberpunk 2077). Prefiro ver os dois títulos como games diferentes, até porque A Realm Reborn não apenas entregou as correções de todos os problemas do lançamento inicial, mas também trouxe um ar totalmente novo para o jogo.

Não é atoa que Final Fantasy 14 se tornou o título mais lucrativo de toda a história da franquia de RPGs da Square Enix. Naoki Yoshida, o diretor do game, afirmou em outubro de 2021 que o MMO já contava com mais de 24 milhões de jogadores registrados, número que cresce constantemente com o passar dos dias.

Divertido mesmo jogando sozinho

Ainda que o jogo seja principalmente cooperativo, um de seus aspectos mais legais é que é possível curtir grande parte do conteúdo sozinho. Você sempre vai depender da força do seu time nas dungeons, raids e bosses, mas o sistema de matchmaking é bem eficiente para formar automaticamente equipes com as funções corretas. Sempre haverá ao menos um Tank e um Healer para balancear as coisas.

Sistema de matchmaking em FFXIV balanceia o time com os roles certos (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)
Sistema de matchmaking em FFXIV balanceia o time com as classes certas (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)

Além disso, FFXIV conta com centenas de horas de gameplay solo. Seja nas quests principais e secundárias ou na exploração do gigantesco mapa, sempre há o que fazer. Então, naqueles dias quando nenhum de seus amigos está online ou você só não está a fim de socializar, esse MMO ainda oferece bastante conteúdo.

Na realidade, a gameplay solo em FFXIV é indispensável para desbloquear tudo no game. Você é obrigado a fazer a história principal para poder acessar as dungeons e tudo mais, mas não há aquele sentimento horrível de pressa. Você não sente que está sendo deixado para trás.

Exploração de mapa e quests principais são algumas entre várias coisas que se pode fazer sozinho no MMO (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)
Exploração de mapa e quests principais são algumas entre várias coisas que se pode fazer sozinho no MMO (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)

Jogue no seu tempo e ritmo

Em muitos MMOs, players que não estão no endgame (fim do jogo) ficam de lado, forçando todos a “rushar” para o final o mais rápido possível. Afinal, enquanto o jogo avança, é natural que a maioria dos jogadores se concentre no fim da história e nos últimos mapas lançados, deixando o meio do caminho vazio. Não se engane, o mesmo ocorre em FFXIV, mas sem os problemas que geralmente vêm junto.

Na prática, não é necessário pedir ajuda de alguém no chat para formar um time e entrar numa dungeon que você precisa fazer, o sistema de matchmaking já faz isso por você. A maneira mais eficiente de “farmar” (adquirir diariamente) equipamentos e tokens é através da roleta diária de dungeons, bosses e raids.

Isso significa que um jogador de nível máximo pode ser sorteado para cair em conteúdos de level mais baixo. Assim, ninguém fica sem equipe, ainda que alguns conteúdos possam exigir mais tempo para encontrar players.

Roleta diária de dungeons em FFXIV ajuda iniciantes a formarem times para conteúdos de nível baixo (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)
Roleta diária de dungeons em FFXIV ajuda iniciantes a formarem times para conteúdos de nível baixo (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)

Portanto, não há pressa alguma, é possível curtir todo o enredo, explorar os mapas e se envolver com o universo tranquilamente e no seu próprio ritmo, sozinho ou com amigos.

FFXIV tem a comunidade mais amigável dos MMOs

Ainda que a gameplay solo já seja satisfatória, o grande diferencial de FFXIV está, a meu ver, na socialização e cooperação de jogadores. Como não há servidores na América Latina, sempre joguei no servidor americano. Assim, existem pessoas de vários países e de todas as idades para interagir (se você souber inglês). A comunidade é extremamente amigável, ainda mais quando se está acostumado com a clássica toxicidade do jogador brasileiro.

Há também um ar de verdadeiro role-playing em Final Fantasy 14. Na verdade, até existem servidores dedicados a unir jogadores que buscam verdadeiramente viver o personagem. Para mim, isso foi algo diferente, estranho à primeira vista, mas muito cativante conforme você interage.

Jogadores de FFXIV gostam de socializar e ajudam iniciantes (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)
Jogadores de FFXIV gostam de socializar e ajudam iniciantes (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)

De maneira geral, minha experiência social em FFXIV foi extraordinária, ouso dizer que a comunidade de players é de longe a mais amigável que eu já conheci em jogos online. No entanto, além da própria simpatia individual, há também uma série de fatores dentro do game que contribuem para um comportamento positivo.

Seja legal, ou você perde a luta

Na prática, todo player é muito dependente dos outros para completar qualquer conteúdo de combate. Você não faz absolutamente nada sozinho fora da campanha principal. Todas as funções se complementam e são extremamente bem definidas:

Os DPS devem causar o maior dano possível em curtos intervalos de tempo, sob o risco de o boss matar toda a party, por exemplo. O Tank precisa manter os inimigos em um determinado lugar e chamar a atenção deles para que o resto da equipe não morra com poucos acertos. O Healer é o coração do time, sem ele é quase impossível ganhar. Esse jogador precisa manter a party viva, consertar os erros dos outros, aplicar escudos, remover efeitos negativos e muito mais.

Boss Titan em FFXIV pode matar toda a equipe se jogadores não coordenarem suas ações (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)
Boss Titan em FFXIV pode matar toda a equipe se jogadores não coordenarem suas ações (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy 14)

Ou seja, a comunicação é absolutamente essencial. Naturalmente, um MMO lançado em 2013 possui muito conteúdo, e em cada patch as coisas ficam mais difíceis e complexas. As dungeons, bosses e raids possuem múltiplas mecânicas. Algumas lutas podem se estender por mais de uma hora. Dito isso, é importante que todos os jogadores saibam exatamente o que fazer, do que desviar, quais inimigos focar primeiro…

Caso contrário, o erro de apenas uma pessoa pode ser a causa da morte de uma raid de 24 jogadores. Assim, quem sabe como funciona as coisas sempre explica para os novatos a mecânica da luta. Em todos esses anos no FFXIV, nunca estive em uma equipe tóxica. Muito pelo contrário, sempre vi as pessoas se comunicando bastante e de uma maneira bem saudável.

Bosses, raids e dungeons em FFXIV exigem ao máximo a cooperação entre players (Imagem: Divulgação/ Square Enix)
Bosses, raids e dungeons em FFXIV exigem ao máximo a cooperação entre players (Imagem: Divulgação/ Square Enix)

Nesse jogo, aprender como um novo player não é fácil, há muita informação, mas você nunca é deixado de lado. Sempre terá alguém disposto a te ajudar, especialmente porque sua equipe depende de você, e você da sua equipe. Comportamentos não amigáveis, brigas e xingamentos levam inevitavelmente ao fracasso da luta.

Dungeons, bosses e mais dungeons!

O sistema majoritariamente cooperativo do jogo sempre me agradou muito. Na realidade, sou um grande fã de dungeons longas, bosses complexos e lutas que envolvem dezenas de jogadores. Para esse tipo de conteúdo, Final Fantasy 14 é a melhor opção do mercado. No entanto, jogadores que gostam de modos competitivos e PvP não vão encontrar muito espaço nesse MMO.

O jogo é totalmente baseado em dungeons. São nelas que são adquiridos materiais valiosos, muita experiência e os tokens que você eventualmente trocará por equipamentos endgame. Ainda que a história principal seja muito voltada para a gameplay solo, para avançar nela você eventualmente terá que completar uma dungeon que exige quatro jogadores, ou um boss que exige um time maior, de oito pessoas.

Final Fantasy 14 Online (Imagem: Divulgacão/Square Enix)
Equipes em FFXIV são formadas por ao menos um Tank, um Healer e dois DPS (Imagem: Divulgacão/Square Enix)

Existem ainda as raids, que pedem um total de vinte e quatro players, separados em três equipes diferentes. Para mim, esse tipo de conteúdo é a nata nos MMOs e, diferente de outros títulos do gênero, é fácil e rápido formar um time.

Além disso, não existem muitos obstáculos, como esperar um boss nascer de tantas em tantas horas em determinado lugar do mapa (sim, estou olhando para você Lost Ark), ou competir com jogadores por recursos.

Por fim, dungeons fazem parte da sua gameplay desde o level 15. Ou seja, não é necessário chegar no fim do game, atualmente no level 90 na versão Endwalker, para curtir esse tipo de conteúdo.

Uma bagunça gostosa

Por mais que eu ame esse game, Final Fantasy 14 pode não ser para todos. É um RPG online raiz, bem tradicional, e que exige dedicação para aprender muitas coisas. É o típico jogo em que a interface é totalmente lotada de informações, e não há muito o que fazer a respeito.

Mesmo assim, essa é uma característica que eu particularmente gosto, porque revela a complexidade da gameplay. No entanto, pode ser algo que afugenta novos jogadores.

O excesso de informações está em todos os aspectos do MMO, mas fica ainda mais evidente nas lutas que envolvem muitos jogadores, como as raids. Vinte e quatro pessoas na tela ativando simultaneamente múltiplas habilidades cheias de brilho e efeitos especiais é algo que faz você se perder um pouco durante a luta.

Um pequeno exemplo da bagunça que uma raid pode se tornar em FFXIV (Imagem: Reprodução/ Final Fantasy XIV)

Afinal, além da sua própria rotação que já envolve dezenas de skills, você ainda precisa prestar atenção nos demais jogadores, nos inimigos em campo, no chat, e pensar onde se posicionar para não morrer.

É realmente muita coisa, mas essa dificuldade é o que torna o jogo tão gratificante. Após uma luta complexa de mais de uma hora de duração, há um sentimento de orgulho pela sua própria gameplay e pelo desempenho de seus colegas de time.

O único “metaverso” que preciso

Final Fantasy 14 esteve presente em muitos momentos da minha vida e é um título que carrego em minha trajetória de jogador com muito carinho. Cheguei a parar de jogar durante curtos intervalos por falta de tempo ou de dinheiro para comprar as expansões e pagar a mensalidade.

Há como pagar mais barato, um pouco menos de trinta reais, pela subscription através da Steam. Porém, comecei a jogar ainda em 2013 e minha conta é vinculada ao launcher original. Portanto, para manter meus personagens e todo o progresso que fiz, não consigo fugir do pagamento direto à Square Enix de US$ 12,99 todo mês. Mesmo assim, é um sacrifício que estou disposto a fazer.

Especialmente durante o auge da pandemia de covid-19 em 2020, Final Fantasy 14 foi um grande escape enquanto estava preso em casa. Além disso, serviu como uma plataforma para reunir colegas para interagir dentro do jogo.

Lembra daquelas promessas de Mark Zuckerberg para o tal metaverso? Bom, eu já venho encontrando amigos virtualmente através desse game há anos, cada um com seus avatares customizados, emotes, danças e instrumentos musicais, mas sem envolver criptomoedas e os polêmicos NFTs.

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.