Por que o Google quer ter mais controle sobre a linha Nexus?
Sundar Pichai, presidente do Google, disse que a empresa vai “assumir um controle maior” sobre a linha
Depois de sinalizar a fabricação de processadores próprios, o Google começou a dar mais indícios de estar tentando unificar o ecossistema do Android, exercendo um controle mais rígido sobre a linha Nexus. Segundo o The Information, Sundar Pichai, presidente do Google, disse para “colegas e pessoas de fora” que a empresa vai “assumir um controle maior” sobre os smartphones Nexus.
O veículo é o mesmo que deu a informação sobre o processador próprio do Google, indicando que o Google quer reduzir a fragmentação do Android unificando os chips dos dispositivos. Assim como a Apple faz com o iPhone, o Google poderia produzir um processador mais potente e mais caro para o seu dispositivo, já que não precisaria se preocupar tanto com o custo de produção isolado do chip.
Agora, a gigante de Mountain View também quer usar uma abordagem parecida com os dispositivos dos Nexus, “integrando verticalmente” a linha de smartphones. Atualmente, o Google faz parceria com fabricantes como Samsung, Motorola, LG e Huawei para projetar os aparelhos, combinando o melhor do software do buscador com o melhor do hardware das empresas.
Só que esse modus operandi tem alguns problemas, como depender das fabricantes para vender os aparelhos sem que haja muito marketing. Como a linha Nexus é tratada como algo de nicho e ela nunca tem os melhores números de vendas, as empresas acabam nem se importando muito com a disponibilidade dos aparelhos ao redor do mundo.
É só ver o que acontece com a linha Nexus aqui no Brasil, que tem aparelhos que demoram séculos para chegar no país, como o Nexus 6P, que foi homologado recentemente (ou às vezes nem chegam, vide a Motorola que decidiu nem comercializar o Nexus 6 por aqui). Também não há quase nenhum marketing para esse tipo de dispositivo no Brasil, e é o Google que cuida dos lançamentos.
Mas os números de vendas decepcionantes nunca foram um problema tão grande, uma vez que o Google lucra mais com seus serviços, que estão amplamente distribuídos entre as plataformas e funcionam muito bem nos iPhones. Só que algumas mudanças de foco no plano de negócios da Apple podem ter forçado o Google a se preocupar mais com hardware.
Com as vendas da Apple prestes a desacelerar pela primeira vez em 13 anos, uma das alternativas para a empresa é direcionar parte de seus esforços para serviços online, o que significa reduzir a participação do Google nesse nicho. Caso essa abordagem avance, a gigante de Mountain View pode ficar cercada e ganhar menos com os iPhones, que são uma das maiores fontes de lucro da empresa atualmente.
Como aponta o Business Insider, a recente liberação de aplicativos de bloqueio de anúncios no iPhone potencialmente afetou a maior fonte de renda do Google. Seus anúncios e plataforma de busca são tão importantes no ecossistema da Apple que o Google pagou US$ 1 bilhão à empresa de Cupertino para continuar sendo o buscador padrão no iOS.
Por isso, o Google parece estar precisando de uma marca mais consolidada no mercado de smartphones topo de linha, ainda mais nos Estados Unidos. Apesar do Android dominar e continuar crescendo em número de usuários (53,1% dos EUA), a Apple tem uma base mais consolidada, com 43,1% de presença; a Samsung, para comparação, tem apenas 28% e a LG não chega nem a 10% de participação no mercado.
Outro aspecto que também não favorece muito é a baixa rentabilidade dos Androids. Cada fabricante ganha muito pouco com seus dispositivos, o que força-as a lançar vários modelos para atingir vários nichos de mercado (leia-se: atirar para todos os lados). A LG, por exemplo, lucra cerca de US$ 0,012 por smartphone vendido. É uma taxa tão baixa que pouco consegue suprir a demanda por lucro no mercado de smartphones.
Não é à toa que a Apple detém 92% do lucro do mercado de smartphones. Só para mostrar a dimensão do quão absurdo é o lucro gerado pelos iPhones, a Apple fez mais dinheiro com ele em três meses que o Google fez em toda a história do Android. Talvez uma mudança no modelo de negócios ajude o cenário a ser diferente para o robôzinho verde.
O Information também revela que funcionários do Google não gostaram que os Nexus 6P e 5X não foram vendidos nas operadoras americanas, com aquelas opções de contrato de dois anos e preços reduzidos. O mesmo aconteceu com quase todos os outros smartphones da linha Nexus, exceto com o Nexus 6 e com o Galaxy Nexus, que não venderam quase nada.
Há quem defenda que essa abordagem não seja muito eficiente. O Droid-Life argumenta que, fora o Nexus 6, a linha Nexus nunca teve preços muito altos (e o 6P por US$ 499 nem é tão caro assim, segundo eles). O blog também se mostra cético com o controle mais rígido, argumentando que muito dinheiro seria gasto com a linha Nexus, que sempre foi voltada para nichos e com um viés aberto, justamente o contrário do que o Google visa agora.
Por fim, como aponta o Droid-Life, a linha Nexus vai continuar com um número de vendas relativamente baixo até que o Google invista pesado no marketing da linha. A nova abordagem parece interessante, mas com a escassez de detalhes e os inúmeros desafios pela frente, seria um chute no escuro dizer se poderá salvar a linha Nexus. Mas enfim, nunca vamos saber se o Google não tentar.
Será que esse controle maior sobre a linha pode dar certo?
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